Viajo no abrir dos olhos
no novo que se apresenta
que aos poucos
ganha movimentos ágeis
temo o finito fechar
de meus olhos
queria estar sempre por perto
para acompanhar a caminhada
sem paura
no fundo fica um pouco de nós
o cheiro da pele na saudade
alguns aromas me levam ao passado
a estrada de terra
no pequeno caminhão de meu pai
a vida do velho me conduzindo
de repente ele se foi
ficamos nós descalços
três filhos, sem remorso algum
a lembrança de seu rosto
brota diante de alguns odores
qual o perfume da vida?
o cidadão estatelado na sarjeta
consegue perceber
qual é a fragrância de sua vida?
é certo que sim
ele é um ser que caminha
também é filho
de um deus qualquer
viajo nessa obrigação ferrenha
paletó, gravata, livro debaixo do braço
a liberdade
em poder comer
um pacote cheio de batata chips
a liberdade, bela liberdade
uma puta encheção de saco
é isso o que é
uniforme para celebrar
uniforma para trabalhar
espere-me diante disso
sente-se e espere
encontro-me na condição de pária
nesse instante
a moça bronzeada
escutando um pancadão
belos olhos
que olhos!
deveria guardar o som
entre os seus ouvidos
os meus não merecem
tal sacrifício
coisa alta
que me impede de manter
a escrita chula
que não ata nem desata
o rabisco que só esquenta a cerveja
nada de útil goteja no papel
o amor vai pintar na área
quando eu pedir a segunda garrafa
o ônibus vai aparecer
quando eu acender o ultimo cigarro
dirá o careca tosco
quando eu disparar contra a minha cabeça
a ultima bala
tanta gente a nos policiar
e quando você precisa de um ser fardado
apenas os cachorros ladram
vou puxar a minha pena para o bolso
seda medíocre a deste “butiquim”
tem que deslizar suave cada palavra
a inspiração não é paciente
ela aparece e sufoca
quando menos se espera
e hoje por mais ampolas que eu seque
ela não vai chegar
e se chegar
depois de tantas águas
não vou me lembrar
vou ficar assim
tranquilo, quieto
enquanto os meus olhos viajam
Muito Bom!
ResponderExcluirAbraço
Delarte