Manejando uma agulha enrolada numa linha
em instantes uma bolsa amarela, da mesma cor que o sol sorridente desenhado
pela filha numa folha branca, algo repleto de harmonia que se completa quando
trocam sorrisos com as obras finitas, uma no olho da outra, espelho de tempo,
uma canção, um raio de sol sobre a árvore, sobre o banco da praça. A poesia
passa por nós como o vento, alguns colhem versos, outros simplesmente trocam
mensagens pelo telefone, anda tudo mecânico demais, é o progresso, a ordem mas,
falta amor em diversos toques que são trocados com palavras abreviadas, numa
nova forma de língua e a língua nem sempre saliva numa outra curtindo uma
paixão pegada em dia luminoso. Um velho tênis pisando secas folhas, o som de
quando estalam é um grande barato, “crocando” cada caminhar é bem isso, uma
viagem em deixar nua a vida para poder observa-la de fora, analisa-la brincando
numa balança, indo cada vez mais alto, a sensação de liberdade agarrado numa
corrente para não cair, com certa idade as quedas são quase fatais, de qualquer
forma enquanto se vive é errando que se aprende, nada está definido, nem existe
verdade absoluta e blá blá blá blá. Cercada por prédios a praça tem o nome do
avô de alguns amigos que não vejo faz tempo, ele morava numa casa que ainda
existe, uma habitação mico leão dourado de tão rara por resistir aos
especuladores desta época, tudo se verticaliza, gente sobre gente que nem se
conhece e, se odeiam pelos ruídos que fazem, pelos bichos que pertencem, pelos
times que torcem, por existirem sem trocar um bom dia, boa tarde, boa noite
e essas convenções que deveriam estar escritas nas atas de reunião de
condomínio, multa para que não se cumprimentar e andar de cara amarrada, selada
com cera lacrada inviolada. Verde grama onde não se deve pisar, placa que não
evita os irmãos de um bate bola com a prole, os meninos felizes correm mais que
a bola, os adultos buscam a cadência, o futebol não é mais de arte, o lance é
velocidade, tática, o pequeno com drible curto é lixo diante do grandalhão
desengonçado que devia ir jogar basquete para apanhar alguns rebotes, bora
fazer trocadilho que o portão se aproxima, a saída que leva para a entrada da
rua verbo divino, que verbo é esse se não todos? A alma encantadora das ruas com
nomes de pessoas que não conhecemos, gosto das ruas sem nomes próprios tipo rua
viola enluarada, primavera, gardênia e afins, então goteja em meu chapéu,
espero que seja chuva e não cocô de pomba.
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