Mais sozinho que de costume, nesse fim
de manhã deslizo o meu olhar pela paisagem, uma televisão ligada sempre na
mesma emissora, imagem sem áudio ainda bem, não dá para um bom café com papo
furado via Embratel, a preguiça do domingo que se debruça sobre as pessoas, a censura
da menina granola sobre a criança que se acaba numa fatia de salame na mesa ao
lado, nada na cuca, tão bom, confesso que é difícil ficar assim, geralmente
trago umas folhas, uma caneta para alguns versinhos, não tenho disciplina para
a escrita, nunca tive, nesse lugar as
ideias pipocam, nem sempre ganham forma mas, dá para matar o tempo, assassino
das horas fito o velhinho que sempre aparece para três pães e um litro de
leite, sinto um certo efeito de amanhã nele embora, no ontem tenha feito isso
quando ela ainda me suportava, um pão para cada e outro que ficava amanhecido,
depois virava torrada, ganhava geleia, se cansou da rotina, nada deixou tão
pouco bilhete, também depois de um tempo a gente nem quer saber, nem vira
página, adquire tudo digital, uma vida instantânea puta Sonrisal, nem sei se
tem mais isso, tédio sei que existe, para não me carregar de um total araã,
invejo o cara que mora na calçada, vive de uns quadros que pinta ali mesmo, se
alimenta do que a lanchonete oferece, aos domingos da padaria onde me encontro,
comprei um trabalho dele outro dia, pode ter sido a última vez que tenha
conversado de forma mis demorada com alguém, pinta com os dedos, não utiliza
pincel, o povo comum passa por ele, nem percebe que ele está no caminho, alguns
chutam a tinta que ele deixa na calçada enquanto medita uma face, os seus
desenhos são carregados de rostos, sempre oferece uma pinga para seus
semelhantes de relento, possui generosidade, tanta gente se cercando de coisas
materiais e, esse individuo que nada tem reparte a pura inexistência, de que somos
feitos afinal? A fila pela pelo frango assado, a torta de morango que já esteve
pela hora do enterro e hoje está quase de graça, esfria o café, espio, desisto
disso, pego uma Stella que não é Dalva, não se avista no céu, é amarga, porta
sonhos, companheira da tarde de mais um dia, hora, mês, um fone no ouvido, um
Miles, mais nada, essa gente não merece meu olhar que busca o vazio.
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