A poesia jorra pelos poros cotidianos sem ser
percebida, escorre pelo meio fio, se mistura com as flores varridas do Ipê,
juntas vão para um saco, que acaba sendo furado pelo bicho homem, que não quer
saber de flor tão pouco da fragrância das palavras, é atirada dentro de um
caminhão, remexida, triturada, bom que seja imortal e termina por desembocar
num aterro sanitário qualquer. Naquele local permanece ao relento entre dejetos
humanos, sente a necessidade de ser presente, ela poderia alimentar algumas
pessoas que se esgueiram por ali, não querem nada de fino biscoito, buscam a
possibilidade do vil metal, apenas isso. Ressurge em forma de chuva, o povo se
apressa em procurar abrigo, ela os acaricia enquanto correm, se mistura ao suor
de cada um, nesse instante é feliz, adentra as ruas nobres, de classe média,
das favelas, pipoca pelos varais, se intromete nas brincadeiras, assusta,
refresca, e finalmente pode ser admirada, quando um raio de sol toca a umidade
suspensa no ar e lá está ela, refletida pelo olhar de toda gente, em forma de
arco íris no céu.
Fotografia: Alexandre Handfest
Nenhum comentário:
Postar um comentário