Existe uma norma
instituída em qualquer esfera de governo por estas bandas, que é a de criar
dificuldades para vender facilidades, no que se resume isso? por exemplo, o
cidadão necessita de certo documento, chega à repartição pública
correspondente, recebe um formulário com todas as informações necessárias para
a solicitação, preenche o dito cujo, tira fotocópia do RG seguindo para o que
ele imagina ser a coisa mais fácil desse mundo, em geral esses formulários
possuem quatro vias, o sujeito entrega no guichê 1 a via rosa, no 2 a amarela
e, quando entrega no 3 a folha verde vem a surpresa, um funcionário atento
percebe que a assinatura da Carteira de Identidade não corresponde com a que
está no formulário, embora possa conferir no cara-crachá, pede para que você
reconheça a assinatura no formulário, então você pergunta e os outros
formulários? bem, os outros são os outros, claro que ele não sabe responder,
acontece que para a emissão do famigerado documento todos as vias precisam
estar de acordo, ou seja, iguais, então só resta uma saída que é se sentar no
meio fio e chorar. Surge do nada algum ser caridoso sentindo o peso de seu pranto, oferece ajuda e por alguns caraminguás, sem fotocópia, reconhecimento
de firma, o documento está em suas mãos bem antes do prazo assinalado no balcão
de informações. Dá vontade de morrer depender da boa vontade do serviço público
mas, em caso de morte isso também acontece, a maratona para colocar o corpo
numa vala ou até mesmo para crema-lo é uma das coisas mais insanas que se possa
imaginar. Tínhamos um roteiro para seguir, o primeiro passo o tal Boletim de
Ocorrência, fomos até uma Delegacia e lá recebemos a informação de que não
havia delegado, o cara nos indicou outra, nos dirigimos para esta outra, onde
um escrivão e três inspetores disseram que lá também não tinha delegado,
afinal, onde estão os delegados perguntamos, um dos distintos numa pose digna
de xerife de bangue bangue espaguete, respondeu com muita sutileza, que
deveríamos perguntar ao governador,estávamos em xeque, não tínhamos saída,
lógico que eles nos mandaram para outro distrito onde finalmente conseguimos
quase de joelhos sem a assinatura do delegado o B.O, antes de emiti-lo a
escrivã destilou um rosário de falações, número de telefone para reclamação dos
outros colegas que não nos atenderam corretamente e para elogiar a excelente conduta
dela em emitir e informar ao rabecão que um corpo aguardava o recolhimento.
Uma situação curiosa a nossa, para o bandido tem delegado, para quem paga ou
pagou impostos como o morto não tem, antes tinha agora não tem, deveriam
transformar delegacias em inspetorias, por isso alguns meganhas civis fazem o
que bem entendem, quem cuida do trabalho dessa gente?
A vida em geral
prosseguiu naquela manhã depois tarde de sábado, entre o B.O e o recolhimento
do corpo tínhamos entre quatro e seis horas de espera, uma pausa para beber
alguma coisa, almoçar, pensar nas questões todas, avisar amigos e outros
parentes. O lento caminhar imposto por uma burocracia de cidade grande,
qualquer coisa que tentássemos fazer dependia do tal documento de liberação do
corpo, que só sairia depois da autorização para o devido exame daquele ser
solto numa geladeira qualquer, era claro que só poderíamos resolver aquela
situação 24 horas depois que o cara já estava numa outra dimensão. Por volta das oito e meia da noite
finalmente, podíamos tratar do enterro, fácil, simples,sem crise, serviço
eficiente,custo baixo, fomos ao velório do Araçá, o enterro seria em Osasco,
chegando lá encontramos Jacó, que nos indicou o final do corredor, a cabine
quatro perguntei, não, a salinha, ele respondeu, o pequeno espaço estava
repleto de caixões, que eles denominam como urnas, óbvio, o nosso voto está
morto uma vez que é ali que o depositamos. Jacó filho de Isaac estava tentando
barganhar sobre as nossas lágrimas, para transporte e estadia a bagatela de mil
e pouco, com chorinho para a fiscalização podia rolar por mil, assim na lata, cheque
nem pensar, em três vezes no cartão, sem juros, tá certo, vamos pensar, assim nos
dirigimos para a cidade “ÓS” Osasco, de repente uma Dorothy com alguns amigos
aparece para nos ajudar a encontrar um mágico capaz de aliviar o nosso
tormento. Chegamos ao nosso penúltimo lugar dessa saga, a Funerária de Osasco,
o documento de liberação em mãos assinado em duas vias,
carimbado,rotulado,avaliado,tudo belezinha, certo, certo? como assim? e as tais
dificuldades facilidades? a mocinha educada até, o preço era justo, mesmo que
não fosse, era conveniente que tudo acontecesse ali pelas terras da Dorothy,
ela com óculos em armação moderna pegou a folha primordial para todo trâmite
enterristico, cabe lembrar que já estávamos nos primeiros minutos do domingo,
com toda a atenção começou a digitar, digitou,digitou,digitou,digitou,nesse
ritmo como se cada tecla fosse uma grande novidade, queríamos morrer e quase
chegamos a isso mas, imagina só o tormento de quem teria que nos enterrar?
quando finalmente ela nos concedeu a graça de colocar o corpo de Isbelio numa nova
morada no Parque dos Girassóis.
a burocracia vai diminuir e acabar
ResponderExcluirveja no google
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