Wanda, use o assento
para flutuar
Conhecia um pouco daquele lugar,
era descer pela São João e beleza, qualquer coisa era só perguntar, embarquei
na 875M e deslizei pela noite paulistana, quando fui desembarcar dei com Wanda
olhando pra o meu rosto, aquele sorriso do passado que carrega a mesma leveza,
tenho essa coisa de não esquecer nomes ou feições, guardo números insignificantes,
minha memória me escraviza, tem fatos que quero esquecer e, que volta e meia
surgem como fantasmas, então saímos da diligência, ela para a sua casa na Santa
Cecília, eu para a Funarte, bom rever gente, encontrar no presente jamais ter
fechado portas no passado, sinto saudades daquele tempo de escola disse ela,
outro dia encontrei fulano eu disse, me lembro de alguns sobretudo de você
disse ela, puxa vida eu disse, segundos em silêncio, depois puxei assunto
qualquer como tenho um blog, escrevo para um jornal, caminhamos jogando
conversa fora até um Café perto da igreja Santa Cecília, uma caneta, meu email,
blog, um beijo e tchau, lá se foi, fiquei, fui para o meu destino numa terça
boa com clima ameno, tinha emoção ainda, a saudade de você ficou ecoando pela
calçada de açougues, churrascarias de quinta, botequins, tanto tempo e o
carinho do que ficou lá atrás chega feito um abraço que nem mesmo o velho amor
sabe dar mais, com os dias em comum tudo se acomoda, os gemidos e sussurros soam
desgastados apesar de rara obra estar junto, onde queria chegar acabei
encontrando, vazio lugar, uma lanchonete, um cara num banco na espera, o lance marcado
para sete, já eram sete, vamos lá, um sanduíche, um café, versos num guardanapo
sórdida página de poeta sem compromisso, faltava molhar as palavras para
desenvolver melhor as linhas, bolinha de papel, lixo, embora se foi a quase
poesia, assim gente foi juntando, mesa com petiscos, cachaças, livros foi
posta, Sala Guiomar Novaes quanta história tem aquele espaço, da para sentir a
respiração de suas paredes, o poeta em seu instante, um livro, uma vida em
páginas, cada frase lapidada, antes do recital uma, duas, três doses de cachaça
mineira, aí o poeta e a moça no palco fizeram poesia em tons africanos, tudo
bom, tudo lindo até o fim e assim chego nas derradeiras linhas disso aqui,
desse relato dia 21/08 leão zodíaco e sabe tem hora que dá vontade de usar o
assento para flutuar, ponto final.
A DICA: USE O ASSENTO PRA FLUTUAR
Autor:
Leo Gonçalves – Editora Patuá
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