sábado, 15 de fevereiro de 2014

São silvestre


Hoje as horas passaram mais rápido alguém comentou, puxa elas são as mesmas todos os dias fiquei pensando, tá certo que às vezes demoram um certo tempo e fica essa impressão de que são diferentes. Ontem meu time jogava com um jogador a menos e, ficava naquela certeza de que o jogo iria até o romper da manhã, quinze, 16, 16 e 30, cara que jogo é esse tá até parecendo fila na SPTRANS? não desenrola de jeito nenhum, era sol e já é dia e não termina o treco? Hora nem sempre tem a ver com tempo, esse é outro, possui história, claro que as horas fizeram e fazem parte disso, quando falamos de alguém nos referimos ao tempo, não as horas, ele envelhece a gente esse tempo, aí você está puxando figura e falando de como foi e como ficou o caminho pisado como se fosse uma outra era. Certa vez, publiquei uma crônica no jornal O Butantã que falava do tempo dos cabelos, o sentimento dos pelos quando cortados, recolhidos do chão, depois ganhando o lixo, como a cabeça  como grama aparada ficava e os fios se perdendo como se nada significassem, uma viagem concordo, mas tinha certa ligação com alguma coisa daquela época. Voltando ao tempo, eis que acordo e encontro duas crianças na sala, puxa mas só tenho uma brinquei com elas, toca abrir a porta para encarar o dia, passear pelo quintal, recompor decompor recomeçar, tenho certas nostalgias, minha memória já te disse várias vezes é um saco de coisas boas ou não que vivo me lembrando do nada, chego até o portão e óbvio não tem cachorro sorrindo latindo, primeiro pelo fato de me achar por dentro, segundo que nenhum cão sorri nos dias de hoje, tomam banho em banheiras com espuma, bebem coisas finas e fumam charutos cubanos, mesmo cão sem dono  bebe uma boa cachaça mineira e fuma cigarrilhas de primeira. Tinha que preparar o café das crianças, do outro lado da rua alguns sujeitos capinavam um terreno, puxavam toda a sujeira numa vitalidade, numa comunhão de que aquilo bem que podia ser um espaço de lazer saca? Desliza a lembrança em meus anos de infância, começo de adolescência quando a gente  saia pelas ruas fazendo amizade embora, os caras da rua de baixo não pudessem jogar com aqueles da rua de cima, tudo rolava sem grandes atritos, qualquer terreno baldio virava campo, quadra, fazíamos o nosso espaço, era muito diferente, os pais se envolviam, ali diante do portão vem o cheiro do mato retirado, abro o portão, desço as escadas, as casas ao redor estão cerradas, sem vida, sem som, sem luz, em bicas o suor dos homens naquele lavoro de um sábado  que principia no amarelo sol, uma água ragazzi? grazie tutto bene, depois bebemos, valeu e assim vão seguindo como se procurassem algum tesouro, não tarda e a área está limpa, as pequenas também já estão alimentadas se divertindo numa piscina de plástico. Aquela diversão singela, quando principia o fim do ano, pinta outro amigo para brincar com elas, fazem uma grande farra, isso vai compor o tempo delas, de repente me lembro da corrida de São Silvestre, cara o lance já rolou, foi umas oito da manhã, mexeram até mesmo nisso? por aquela altura o vencedor já tinha almoçado, estava se preparando para a queima dos rojões em qualquer parte da terra, fim de um ano, dia repleto de luz, bar fechado, geladeira completa do precioso líquido, abro uma lata, vejo as crianças, me distancio pela calçada, o terreno limpo, não vai ter mais 2013, nem 1983 com São Silvestre terminando quase na chegada de um novo ano, com a vitória de João da Mata anunciada pelo cicerone da festa de réveillon. Se o tempo não volta para  felicidade ou não, é  preciso fazermos dele uma nova possibilidade sempre, como fez o Seu Ito que pegava os amigos de seus filhos e os conduzia por uma via de sonhos, tem na figura dele grande parte de minhas linhas imaginárias, são trinta anos, tempo à beça né não? outro ano começa e seguimos para as ruas buscando democracia e nos desencontramos no turbilhão que a vida se transforma, temos sonhos, somos diferentes como sempre fomos mas, tem sempre a hora do encontro, das brincadeiras, das tacadas tortas sobre um pano verde.