quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

A vila


A vila

é certo que treme a mão
sabe que tem isso
que a gente
pensa que nunca vai sentir
tudo cambia
o grisalho na cabeça
de meu amigo de infância
que vejo tão pouco
mas quando encontro
rola um abraço desses
que nem irmão de sangue
saca como é
você mira a mão esquerda
que parece se distanciar
se mexe
como se ouvisse Elvis Presley
cara, quando foi que você
caminhou descalço?
tem tempo
era época
que não tinha nada disso
carros em volumes plenos
estes quando passavam
só anunciavam
a super cândida e a pamonha
do you remember?
no?
nem love songs?
a morte não passava
do medo pela sessão de terror
que pintava em branco e preto
por volta da meia noite
futebol era pelo rádio
e Ananias pensava que era o Zenon
o chapéu na cabeça do velho Cícero
fazia com que parássemos a bola
para que passasse ao lado de seu cão Nero
e tínhamos pavor do Pezão
é certo que quase ninguém se lembra disso
pensar dói
por mais “bandeidi” que se use
ele sempre cai
às vezes sangra
mas tem hora
que a coisa já cicatrizou
a lágrima do dia que passou
nada que vaza pelos olhos
é água por dentro
que se mistura entre as veias
destilando o olhar
fitando as mãos
na expectativa pelas tetas
que nunca irão tocar





sexta-feira, 30 de outubro de 2015

máquina


Nessa vida de máquinas, concedemos o espaço para quem primeiro necessita chegar. Nessa vida de máquinas, sentimos a ausência do básico, para que a engrenagem possa funcionar. Nessa vida de máquinas, levamos uma mochila que contém as coisas vitais para o dia, que carregamos nas costas, se transformando em estorvo para quem precisa caminhar. Nessa vida de máquinas, passamos com todo cuidado, para não tropeçarmos em seres camuflados em notícias envelhecidas que se repetem a cada manhã. Nessa vida de máquinas, ainda procuramos um alimento novo que não engorde, que deixe a pele alva e o sexo novo. Nessa vida de máquinas, olhar nos olhos é ferir a carne como se fosse o sol na íris do vampiro. Nessa vida de máquinas, o sangue não pode ser vermelho, essa cor é de quem deve ser morto. Nessa vida de máquinas, um verso no elevador cora a bochecha e faz surgir um sorriso no rosto da menina. Nessa vida de máquinas, tem uma roseira que Aliete plantou e que não deixa de brotar esperança. Nessa vida de máquinas, de mãos dadas ao pai, a pequena percebe a junção das letras, o sentido de algumas palavras. Nessa vida de máquinas, é um saco repetir quase sempre as mesmas coisas, vocabulário restrito de quem não procura o impossível de voar. Nessa vida de máquinas, a página pulsa pela derradeira palavra para que possa enfim descansar. 

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

uma pessoa

Quando necessito da crônica é a poesia que pinta. Procuro adaptar os versos num enredo e, a linha para a pena e a ideia não segue adiante.  Queria ficar só, nada além disso. Puxei o cachimbo, mesa na calçada, taberneiro trouxe torresmo e uma Colorado. Harmonizar manhã/tarde de sábado. Essa coisa eterna de estar sendo filmado, não gosto muito de citações mas, é inevitável não se sentir dentro de um 1984. A tinta preta da caneta, o café na cerveja papel branco. A íris sol, gente que passa presa na coleira do cachorro, poucos passeiam com carrinho de criança, na para onde me exercito é a maior cachorrada. Geraldo me traz água, coloca uma de rapadura no balde, conhece os meus hábitos, me trata como filho, sabe que nunca tive um pai, enquanto o povo que aprecia a sua feijoca não chega, sou cercado de mimos. Ele, aprecia os líquidos que bebo, curte o aroma da fumaça, é um cidadão flor, exala odores de paz, calejadas mãos, porradas desferidas, muito mais recebidas, a sina quase sempre é assim, cai, levanta, correria para que o bicho não coma. Foi numa noite ébria que o conheci, estava com alguns que não voltei a rever, ele chegou na casa do poeta pra preparar o cordeiro. Você diz que não tem preconceito mas, no fundo rola certa tendência de não curtir determinada coisa. Certo cochicho entre os meus, fui, parti, por isso não voltei para o grupo. A criança, antes de qualquer outro, correu para lhe dar um abraço. Algumas aplicações equivocadas, desfiguraram um pouco o rosto, os peitos cresceram bem Fafá, precisa importar os sutiãs, preparou o prato que saliva só em lembrar, batemos longo papo, adotou Shirley como nome, o chamo de Gê, no fundo é travesti mais lindo do planeta.

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Serafim



Era quase uma canção de ninar, a voz da moça entoando a história de Serafim, a cada palavra rolava uma saudade, estávamos novamente numa época de esperança, a suavidade da moça, o violão, dentro de uma noite onde nos reencontrávamos. As casas devem ser abertas sempre, para que tenham história, nada mais chato do que retocar a tinta de uma parede, sem a marca de algo que nos transporte pelo tempo, tá certo que casas são templos mas, é necessário que sejam abertas para que não se transformem em seitas fechadas em muros. Saíamos do silêncio para cantar o refrão, breves minutos em que um querubim passa pela vida, olhos se fechavam enquanto a musica caminhava, esse ato que precede o beijo, essa forma que conduz para dentro da gente o momento do sono, onde encontramos força para a lida, para terminar o texto no desassossego. Assim como chega, vai embora o amor, alguns ficam juntinhos por quase uma eternidade, que deixam de confundir pernas, para pegar bengalas erradas, riem da confusão mesmo assim, ainda reclamam pela desorganização de um e de outro. Ao final de Serafim, as filhas fitaram as faces, uma década separando cada uma, sorriram talvez sem entender, com o passar dos dias pode ser que toquem no assunto, piano, piano, como de diz em italiano, as cordas ecoaram o último verso, depois das respirações profundas,  o espaço foi ocupado por uma crua felicidade, foi a forma com que aplaudimos a nossa capacidade de ir além.

O mar


Lua alta, redonda, céu sem limite se encontrando com o mar, paisagem única. Ela sentia seu corpo quente. Ele era certa solidão, pensamento distante. Se acharam por acaso passeando pela areia, quando os olhares se encontraram ainda distantes, passava por dentro de cada um aquele frio que busca conforto, risos pela coincidência, sem palavras seguraram as mãos, algo por dentro era uma roda girando o desejo de que é preciso ir além, lábios, línguas enlaçando, soltando para fora a vida presa, podia ser de outra forma, o acaso é o que muitos chamam de coisa de Deus,  abraçados procuravam desatar os nós, na excitação, perceberam os espaço, entraram no transe, na paz, diante dos olhos dos orixás, ficava para trás as brincadeiras infantis, pertenciam ao mesmo lugar desde sempre, se amavam bem antes de terem desembarcado por aquelas terras, era justo que os dois se desvirginassem, que o sangue, amor/dor fosse lavado pelas ondas verdes que era razão de viver e morrer de todos. As mãos ainda unidas, permaneceram estirados na praia, em instantes passaram a traçar planos para o futuro, casamento, filhos, deixar a vila dos pescadores, tanta coisa além dos limites do que nem podiam imaginar que existisse. Em meio a conversa ela adormeceu. Pedro não conseguia, dentro de algumas horas seria o desbravador do mar, na peleja para colocar em prática outra existência.  Quando baixava a lua, sabia que era a hora de partir, levou a pequena para a casinha dela, depois de um longo abraço, partiu rumo ao seu destino. Era feliz como o vento que batia em seu rosto. Todos os pescadores retornavam no mesmo horário, ela correu para a sua chegada, ficou parada, tentando avistar o seu barco e nada, triste, abraçou a mãe, Firmino, pescador experiente, tentou consola-la, dizendo que ele podia ter ficado numa ilha para tentar uma pesca maior. A lógica de quem não retorna é quase sempre história para o futuro, algo que se conta em meio aos tragos noite adentro, por mais simples que possa parecer a vida naquele lugar é carregada de grande mística, Tem hora que a gente pragueja contra os santos que amamos, depois a gente volta atrás na esperança de que algo de bom aconteça, ela vivia esse dilema, acendeu uma vela, se lembrou do pai que também partiu sem dizer adeus, sem sofrimento de doença, a vela se apagou de forma repentina, ela reacendeu, chorou em silêncio pelo sinal que recebia das esferas superiores. Numa manhã, todos correram para o mar falando o nome de Pedro, ela sentia o coração bater firme, queria beija-lo, tocar o seu corpo salgado, destruir a saudade, corria se desprendendo da redoma do medo, teria trazido além de grande cardume, peixinhos dourados e conchinhas coloridas para ela? seus pés descalços velozes, Chica, sua mãe, pedia calma, ela chegou e deu com o corpo de Pedro ao lado das pedras, mordido de peixe, no choque não passou lágrima pelo rosto moreno, apenas disse baixinho, morreu, morreu.   

quarta-feira, 8 de julho de 2015

Isabella


Isabella

tem hora que zanzamos
procurando sabores
vagamos sem destino
esse lugar
guarda poucas referências
casas se transformam em prédios
as praças acordam lares
para quem anda
tocando os pés pelas calçadas
os versos não gotejam
das pontas dos telhados
nem sempre
o que toca a retina
pode confortar a alma
não se pode partir
pensando no nada
deve-se acreditar no tudo
quereres, querer, ser
cinza era o dia
a garoa molhava o cabelo
cobria a lente sem evitar a visão
barulho sem sentido
anúncios de coisas de vídeo e áudio
essa gente que não se ouve
pode ser que se entendam
seria bem cool
colocar um som de sax ou  trompete
entre as tintas do papel
nessas linhas
por onde conversamos
no fundo, o desejo é estar com você
a solidão
é apenas esta
de estar aqui escrevendo
e você aí lendo
me dê tua mão
vamos juntos adentrar
a nublada atmosfera
vai ficar do lado de fora
tem sempre um sol, uma lua
brotando diante de ti
mire bem
já estamos cá dentro
observe os produtos bem dispostos
sinta o aroma
perceba a leveza
a cidade está mais jovem
somos na primeira década
de um século que renasce
veste uma blusa
suave tecido
saia flores do campo
você vai entender
que a tua vida é tão linda
quanto o sorriso de Isabella





sexta-feira, 22 de maio de 2015

Wasabi

A pena ali quieta, ao lado da caixa de tabaco que estava sobre a brochura de textos em rascunho, todos numa meditação profunda, tem um tempo que a gente fica só observando a vida com a cabeça imersa pela leitura de vários autores, cada página, cada livro finito faz com que a distância desses objetos aumente ainda mais, parece que tudo já foi escrito e, o exercício de pincelar algo novo é como queimar calorias numa esteira, passos, passos, nenhuma paisagem diferente. É certo, que logo vai surgir uma ideia para cobrir o papel de tinta, depois ganhar a tela, um destino olhos de pessoas espalhadas pelo mundo, essa aparente impossibilidade de criar é como uma partida de xadrez, naquele quadrado composto de sessenta e quatro retalhos nada se pode extrair de diferente, os movimentos seguem uma lógica catedrática, diversos jogadores respeitam as premissas aprendidas em livros, ou aulas onde os mestres não possibilitam que se abra a janela para que um sol aqueça a madeira, ilumine o ambiente, acontece, que de repente quando o abismo se aproxima você luta contra o relógio, move as peças conseguindo permanecer em terra firme, essa sensação de poder pisar em terreno seguro, é assim a leitura para o escritor, cada volume contém uma palavra que abre novas portas, rola sempre um detalhe que nos leva em direções contrárias, é  um grande labirinto, por enquanto, abro a caixa para encher o cachimbo e entre pitadas ler o último capítulo de um livro de Alan Pauls.  

quinta-feira, 23 de abril de 2015

quanto vale o show?





Tem sempre certo tom nostálgico numa parte da gente, essa gente velha entre trinta e poucos, quarenta e meios e cinquenta e tantos, diante do quadro atual não é difícil ser nostálgico manja? As pessoas já não se veem mais, as discussões ocorrem diante de telas com os indivíduos entre quatro paredes, não se pode mais usar determinada cor e nem a camisa de time de futebol local e puxa como o futebol anda chato “cê” não acha?  Outro dia sem fazer nada zapeava pelos canais do glorioso esporte bretão e, me deparei com o Cícero Pompeu de Toledo vazio, tudo bem que era um modorrento SPFC X SÃO BENTO, acontece que era um horário ótimo para levar os filhos para o estádio, toda hora ficam loucos para ir para a arquibancada, confesso que jogo pela TV é um saco mesmo, fui buscar o motivo daquela solidão de testemunhas no gigante de concreto, o ingresso era uma brincadeira, 120 mangos para assistir o macht num assento frio, sem conforto, assim não dá né não? volto ao lado nostálgico, abro um parênteses para apresentar a minha situaçãol, sempre fui um cara solitário, ainda sou hoje em dia, pego as crianças no final de semana, durante os dias úteis me entrego aos ditames da repartição, trago meu Continental após o almoço e antes  do jantar enquanto este descongela no micro-ondas fecho parênteses, quando era jovem com os meus dezesseis anos não tinha nada para fazer, sendo filho único com os velhos nas querelas religiosas, recolhia meus documentos, colocava  o relógio e metia o pé no trecho rumo ao Paulo Machado de Carvalho, não importava o jogo que rolava pela colônia, comprava o ingresso na hora e ficava de boa esperando a peleja começar, assisti cada jogão, incrédulo saia de lá com as garfadas que a Portuguesa de Desportos levava dos grandes, acho que era um troco por ostentar este nome, não faz tanto tempo assim, é certo que fiquei muito tempo sem frequentar esses palcos principalmente depois dos gêmeos, aí pinta a separação e sabe como é? A coisa degringola tanto que nos esquecemos até de colocar as vírgulas em determinados pontos da frase. O time de Sorocaba pressionava o  tricolor até que pintou um pênalti convertido pelo arqueiro artilheiro, deprimente, puxa o que leva esse povo que comanda estas equipes num desrespeito pior do que jovem dormindo em assento reservado para idoso no busão? Tem cabimento num país onde o salário mínimo não chego nos mil um ingresso para o futebol quer perdeu por 7X1 numa semifinal de copa ser tão caro? Sem falar nas equipes, como são horrorosas, por isso a gurizada se liga mais em jogos da champions, sonham com Chelseas, barças e PSGs da vida, quero que se dane tudo isso, os gêmeos quando passarem a depender de si que paguem os seus ingressos, para alguma coisa independência deve servir, ontem fui assistir pela TV o MENGÃO contra o carcara do sertão, o estádio não passa de uma Rua Javari e chuta os valores dos ingressos? Para a torcida local cem e para o adversário 200, na primeira dividida um nobre torcedor gritou: filho de uma rapariga, gargalhei concordando que todos sem exceção não passam disso.

sexta-feira, 3 de abril de 2015

Il mio caro Gesù


Dizem que se não fosse o fato de você ter chutado o pau da barraca naquele dia azul, nada teria acontecido contigo, tá certo, puta comércio chato, coisa sem respeito, por outro lado, trinta e três anos é tempo à beça, principalmente depois do que aprontou, caminhar pelas águas depois transformá-las em vinho entre tantas coisas que deixariam Eliseu com vergonha, acho que podia ter vivido um pouco mais, ter um filho ou dois como fazem grande parte dos casais, leva-los para a escola, ensina-los algumas coisas úteis mas enfim, a sua cabeça foi uma sentença meio brava, pregado literalmente depois de uma caminhada absurda, nem aquela chuva lá pelo final de seus martírio deve ter amenizado a coisa, não estava lá beleza? assisti em alguns filmes, o que me espanta é que se foi por esta gente que talhou a vida, com certeza deve rolar certa mágoa não vou dizer raiva sentimento que nem mesmo dando umas bicas nos produtos alheios deve ter passado por tua corrente sanguínea, és um ser puro mas voltando, hoje sexta o povo come peixe e, rola uma carnificina cruel para comprar o alimento que Simão com paciência trazia em sua rede, tapas para um rango santo com batata e azeite, claro que depois todos repletos de paz se reúnem ao redor del tavolo per mangiare e bere, o que se comenta por estas bandas é que deves voltar se bem que também comentam que estás no vento e em todas, em toda parte, uma data boa para pintar por aqui é domingo de páscoa, dia de teu resurgimento, tem sempre churrasco, chocolate, bebida isso como deves perceber pelos odores que sentes nunca falta, é comércio sempre meu velho e os caras nem sabem o sentido do ovo.  

sexta-feira, 27 de março de 2015

Digressões


Nem tão feliz quanto desejava ou triste como a situação pode justificar, nem alegre nem triste como escreveu Maiakóvski, melhor assim para dar cabo a este começo estranho então, desço a ladeira numa bicicleta, dia azul, sexta da paixão minha eterno amor e, essas coisas que a gente sente e nos deixam bobos fazendo com que qualquer coisa pareça legal etc e tal. Na mochila alguns livros por devolver, de uns tempos para cá tenho utilizado a biblioteca pública, nem tudo dá para se comprar, algumas coisas não valem a pena permanecerem conosco se enchendo de pó, é legal chegar por lá, falar com os atendentes que quase sempre parecem estar de saco cheio, coisa louca isso, o prestador de serviço que não suporta te olhar na cara enfim, a leitura é uma coisa que aproxima e também cria um abismo entre as pessoas “cê” não acha? O hábito de ler devia funcionar para que a gente pudesse sacar os ângulos diversos de um ponto de vista qualquer, pouca gente lê, pouca gente pensa no que fala, pouca gente anda de “baique”, no pedalar a musica jazz no ouvido, o sol nas lentes dos óculos, tem gente que acha um desbunde, cara, vou dizer com toda sinceridade, como é bom desbundar nesse dia onde uma pá de gente trabalha. Parei para um café poucos minutos atrás, lugar bacana que diz Luiza ser caro à beça mas, viver nem sempre é barato, dá para ficar de esgueio sapeando  o papo dos outros, de certa forma vivo um pouco disso para escrever, esse funicoli, funicolá alheio, de uns tempos para cá todo mundo anda político de mais, raivosos em excesso até, contras e contrários, uma balela que nem vale entrar em detalhes, a moça que atende me conhece, tem um sorriso tão lindo que deixa esse canceriano assim tão enamorado dela, problema é que ela tem aquele troço no dedo, indicativo objeto de pertencimento, sabe do meu pão de queijo, da média escura, da menina dos meus olhos enquanto ela caminha pelo espaço que domina, tem sempre umas pessoas que olham para você dando a dica de que ali ou aquilo não te pertence, essa cidade concreto é bem assim, sempre foi, aí olho para os meus caraminguás que são iguais aos de qualquer um e dou de ombros. As duas observam a camiseta hindu, mochila hippie, capacete, um verme na visão delas, puxa, nem sabem que são tão lindas, perfumam bem que até dão um atchim em mim, saúde, evoé onze da manhã, falam dos seres nocivos gente de duas pernas, dois braços, esculhambam mesmo, Isabel tão linda que serve de forma magistral é apenas e tão somente a serviçal da casa  grande, acho legal picotar o pão de queijo, come-lo sem usar guardanapo, elas me fitam novamente, não estava me sentindo mal, longe disso, sou do tipo que fuma charuto na calçada e, avisto gente vindo lá dos confins já com mão no nariz, óbvio que quando o indivíduo chega perto solto aquela baforada, um pouco Fradim se é que entende? A vida passa pela janela e o fulano ganha o seu sustento vendendo rosas, termino o café que é mais pretexto para ver a garçonete, do que parada obrigatória ou fome matinal, se um dia ela se for acho que também parto dali, vou entrar em depressão até encontrar um outro posto para compor as minhas crônicas, pago, saio, deixo o capacete sobre o balcão, não devo ter comentado que o lugar estava quase vazio não fossem as duas e eu, volto com uma rosa na mão, as duas novamente me olham, ar de sujeitinho chato fazem, pego o protetor de cuca, chamo a pequena que vem secando as mãos no avental e lhe entrego uma rosa, vermelha ela fica a flor é rosa mesmo, as duas não falam percebo com o canto dos olhos, Miles no ouvido, a ladeira, no fundo devo estar alegre mesmo e isso é difícil. 

sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Praça


Manejando uma agulha enrolada numa linha em instantes uma bolsa amarela, da mesma cor que o sol sorridente desenhado pela filha numa folha branca, algo repleto de harmonia que se completa quando trocam sorrisos com as obras finitas, uma no olho da outra, espelho de tempo, uma canção, um raio de sol sobre a árvore, sobre o banco da praça. A poesia passa por nós como o vento, alguns colhem versos, outros simplesmente trocam mensagens pelo telefone, anda tudo mecânico demais, é o progresso, a ordem mas, falta amor em diversos toques que são trocados com palavras abreviadas, numa nova forma de língua e a língua nem sempre saliva numa outra curtindo uma paixão pegada em dia luminoso. Um velho tênis pisando secas folhas, o som de quando estalam é um grande barato, “crocando” cada caminhar é bem isso, uma viagem em deixar nua a vida para poder observa-la de fora, analisa-la brincando numa balança, indo cada vez mais alto, a sensação de liberdade agarrado numa corrente para não cair, com certa idade as quedas são quase fatais, de qualquer forma enquanto se vive é errando que se aprende, nada está definido, nem existe verdade absoluta e blá blá blá blá. Cercada por prédios a praça tem o nome do avô de alguns amigos que não vejo faz tempo, ele morava numa casa que ainda existe, uma habitação mico leão dourado de tão rara por resistir aos especuladores desta época, tudo se verticaliza, gente sobre gente que nem se conhece e, se odeiam pelos ruídos que fazem, pelos bichos que pertencem, pelos times que torcem, por existirem sem trocar  um bom dia, boa tarde, boa noite e essas convenções que deveriam estar escritas nas atas de reunião de condomínio, multa para que não se cumprimentar e andar de cara amarrada, selada com cera lacrada inviolada. Verde grama onde não se deve pisar, placa que não evita os irmãos de um bate bola com a prole, os meninos felizes correm mais que a bola, os adultos buscam a cadência, o futebol não é mais de arte, o lance é velocidade, tática, o pequeno com drible curto é lixo diante do grandalhão desengonçado que devia ir jogar basquete para apanhar alguns rebotes, bora fazer trocadilho que o portão se aproxima, a saída que leva para a entrada da rua verbo divino, que verbo é esse se não todos? A alma encantadora das ruas com nomes de pessoas que não conhecemos, gosto das ruas sem nomes próprios tipo rua viola enluarada, primavera, gardênia e afins, então goteja em meu chapéu, espero que seja chuva e não cocô de pomba.