A minha mãe costuma dizer que não
devemos deixar contas para pagar no próximo ano, durante algum tempo levei isso
em consideração, nada ficava para resolver no ano que se iniciava, até mesmo a
leitura tratava de deixar em dia, muita coisa mudou, é estranho para quem se
veste de vermelho praticamente todos os finais de semana, passar a virada de
ano todo de branco. Nessa manhã solar depois da bruta chuva de ontem, acordei
com algumas ideias na cabeça, rabisquei versos, sentindo o café quente assisti
o belo O palhaço de Selton Mello, não
sei qual motivo me impediu de ver essa película no cinema, assim como as coisas
que relatei lá atrás, as salas de cinema ficaram um tanto chatas, outra coisa é
que rapidamente os filmes já estão disponíveis em DVD deixando de lado aquela necessidade
frenética das filas, com certeza não foi nada disso, o oba oba talvez em torno
dele, ao final do filme que sensação boa de que finalmente podemos ver um
autentico cinema de arte realizado por mãos tão jovens, fã dessas historias que
acabam e que nos levam para longas discussões no Café, me senti triste por
estar só assistindo ao filme, quase cinema francês se me permite? Falta para o
cinema brasileiro aquela estatueta preciosa, o tal Oscar, se não veio com Central do Brasil, pode vir com essa obra
do Selton embora, sempre pinte um filme iraniano pelo caminho, essa coisa do Ahmadinejad deixa os americanos fulos. Acho que a tal
estatueta irá para Os intocáveis
dirigido por Eric Toledano e Olivier Nakache, uma história que faz a gente
refletir sem aquela pieguice de lágrimas tristes, claro que elas rolam mas,
pela magia sobretudo de transformar um drama em um salto para se ser feliz
minimamente, nada é pior que a compaixão, voltar a ver alguém depois de uma rusga tola só pelo fato desta
estar próxima do encontro com o criador né não?
domingo, 30 de dezembro de 2012
sexta-feira, 16 de novembro de 2012
Trindade
qual a necessidade haver Trindade?
hoje, ontem, amanhã?
no campo santo
todos são iguais
nessa existência aqui
é raro, difícil
estar no mesmo patamar
quando nos achamos assim
tem lágrima
e moramos
uns nos olhos
do outro
sim
singular
na simplicidade de ser
Trindade
a poesia
podia, pode, poderá
terminar aqui
um dia todo
ainda por viver
acontece
que estou horas
atrás
na esquina
esperando o amigo
tenho sido tudo
até mesmo sozinho
pode parecer estranho
essa solidão
não desapega
a droga para curar isso
precisa de receita
e o doutor
cumpre uma vacanza
sem fim
essa malatia
que Trindade
trata com abraço
Rec queria as minhas mãos
Raquel a minha boca
Ariadne o meu coração
as meninas da mesa
só o meu chapéu
para a fotografia
esdruxulo
sem fazer a barba
fechei a porta, o portão
desci as escadas
ganhei a rua
de todas essas pessoas
que precisam de mim
não senti
qualquer balbucio
nada
além do sono profundo
vai ser assim um dia
só o retrato
a imagem fria
sem pose nem nada
os pássaros cantam
o bolso vazio
a canção que martela
eu não preciso de muito dinheiro
e deus não existe
faz frio até
haver Trindade na memória
é o sol que aquece
parece piegas
pode até ser
quem disse
que tem que enfeitar o pavão
para falar do que se sente?
vou deixar toda a emoção aqui
a funesta lotação
acaba de comprovar o cumulo da força
dobrou a esquina
segunda-feira, 1 de outubro de 2012
o gol mil
Viva essa manhã azul de primavera
Primeiro dia útil de outubro
O mês quarta feira
novembro é quinta
Dezembro a sexta
Onde nasce o menino deus
Onde deixamos para trás
O que não deu certo
O 12 que marca a chegada do verão
Mas estamos no 10
Faltam dois trabalhos
Para o Hercules de cada tempo
E você pirando na coisa do Sisifo
Na impossibilidade da morte
Precisamos do Maracanã
Repleto de luzes para uma canção
Tanta luminosidade
Feito os olhos de Guilherme
A criança no caminho do poeta
A doçura na companhia de santos
Segunda feira
Não tem feira dona Maria
Prepare tudo com as sobras
Vou almoçar com a senhora
Não se aflija com o assado
Só não faça Jiló nem berinjela
Amargos demais
Melhor uma rúcula fresca
Verde
Como os olhos de sua filha
O seu nome a mãe de todos
Aquela que gerou a figura
O primeiro cabeludo dessa terra
Vamos estender uma prece
Uma louvação para Ronaldo
A quem devo com certeza
A minha alma
O homem que se descamisou
Por minha filha
Que deixou o chapéu
Na cabeça de meu mel
Meu amor eterno
A pessoa que se cansa
De tanta poesia
Hoje não tem Cacilda Becker
Amanhã também não
O sol arde a pele
Décimo primeiro andar
A Paulista
As estampas das mulheres
O verde rosa de Vera Lucia
O “raiban” de Cida
Sozinho numa sala
Solto bicho
Sem sapatos
Pisando com as meias
No carpete de Luiz Reche
Olha aí o cara Áries
Assim abril
O mais cruel dos meses
Para um certo T.S
Preciso retornar ao lavoro
Antes de desligar o sol
E trazer o frio com ar condicionado
Vou me curvar
Numa reverencia
Para a singeleza de Rafaela
Assim tudo posto
Colocado no momento
Vou fazer
Como quando menino
Tênis Conga
Vou para o meu quadrado
Neste mundo redondo
Nessa terra que gira gira
E ninguém fica tonto
Em parte tem muitos tontos por aí
Viva Copérnico
Viva “Fuco”
Sábado de noite
A mãe de Bruna
No instante que a noite já ia
Como as caipirinhas
Falou de filosofia
Ablamos sobre isso filo
Perché quilo
Foi embora a noite
Daquele dia da criação
Vou agora
Acender a luz
Apagar o sol
Condicionar-me
Na espera das horas
Ontem olhava a vida
O estontiante sabor do domingo
Do sorriso negro
Dos dentes lindos da negra
Sem nada para pensar
Me achei
Diante do gol mil
O momento de concretizar
Tudo
E deixar os novecentos e noventa e nove no passado
Branco e preto
Tudo em duas cores
A camisa
A pele
O mito
Pelé
O Flamengo não venceu ontem
Teve pênalti
E o goleiro pegou
Não era para ser
Não foi
Tristes também não ficamos
Esse ano
Outubro
Para a nação devia acabar agora
Nada termina assim
Sem uma agoniazinha
Não vamos nos desesperar
Temos a semana toda pela frente
E já sinto daqui o cheiro do tempero
Você deve achar que isso não tem fim
Acredite numa hora
O lance acaba
Acabando assim
domingo, 23 de setembro de 2012
canção
Meu querido André
Acho que agora
Posso morrer em paz
Não que eu queira
Nem que você deseja
Mas ontem outro dia
Antes da fidalguia
Conhecer os seus pais
A felicidade
Só tinha um sorriso
Perdão
Também tinha o de Paulinha
Meu velho novo sobrinho
Genro
Filho
Que me desculpem
Costas e Malgarisis
A sua gargalhada
Tá ecoando
Na solidão
Das linhas que destilo
O poeta faz do silêncio companhia
Aquela tua fantasia
Um dia você vai perceber
Nada mais é
Do que uma segunda pele
Eu, euzinho, o canalha
Com aquele monte de livros
Rezava na bíblia
Do super homem “Niti”
Ali, diante daquela mesa
Nem sabe o quanto chorei
Foi lágrima feliz
Não se entristonha
Se não nós choramos tristes
A infelicidade tá em todo canto
Na retina fadigada
Certa melancolia não passa
Coisa boa
Pessoas não pescam
Elas querem defeitos
Cidade alerta
Desinteligência elas flertam
Hoje, aqui
Falta mesa, cadeira
Seus pais me deram
Umas BICs pretas
Por isso escrevo esses versos
Todo coisa de sentar e comer
Estão na sua casa
A minha casa é sua
Tolinho, besta poeta
Viva Paulinho Barba
Reclamando linhas biltres
Fosse um lar
Meu/seu
Já seria bom
Poderia deixar o imóvel pra ti
Só
Que você veio morar aqui
Não dentro deste coração
Que não é nada
Só enche a gente de encheção
Essa válvula nos limita
Já imaginou viver em função dele?
Talvez Toninhos e Lucianas
Pitucas, Sábiás, Solanges
vivam por essa coisa que pulsa
cara, vem cá
senta qui do meu lado
coisinha tosca né não?
Mas antes que o Wagner
Venha lavar os nossos pés
Nem sabe ele
Que em toda esquina tem farmácia
Preciso dizer
Que agora
Você mora na minha cabeça
domingo, 16 de setembro de 2012
Inacioval e a morte - Final - Irmãos
Quando o titulo surge primeiro,
o texto demora a existir, às vezes simplesmente não aparece e fica feito promessa
herege que nunca se cumpre. Se disser que a amizade surgiu como planta baldia
você vai achar que estou menosprezando gente, acontece que outro dia uma orquídea
brotou assim do nada, não podíamos imaginar que ela estava ali e pronto apareceu
margarida quer dizer, a orquídea. Irmãos que não vieram do mesmo útero, mas da
mãe terra, essa senhora asfalto, essa dona mundo mundana que vai trazendo todos
os filhos para uma bela comunhão. Nesses dias bicudos tem gente procurando a
salvação sem saber que o lance é estar salvo agora ainda em vida, percebemos
ali enquanto o corpo esperava para entrar em sua casa alugada por um período
curto de três anos, que algumas religiões por mais que os caras se tenham como irmãos
nada significam se não há respeito para que nem não tem uma ou é de outra fé,
cada um quer ter o seu Jesus, não admitem isso ou aquilo, a imagem, o
crucifixo, até quem envereda pelas coisas da mãe África, não percebe que por mais
santos que baixem na pessoa, é preciso demonstrar amor, sair da casca da
insensatez, estender a mão para quem
está fragilizado pela perda ou por qualquer porcaria que seja, tem ateu mais
christão que um monte de gente que sabe todos os salmos, “curintios” e
palmeiras da vida. A família se reuniu para o adeus, pessoas que não conhecia
desembarcou entre cumbicas e congonhas, vieram trazer o carinho com uma lágrima
ao fratello que partiu, fui enquadrando cada cena, queria compor um filme Fellini
embora, tudo estivesse Bergman demais, a morte não aceitou uma partida de
xadrez, ela estava ali no meio de nós abraçada aos coveiros que torcem pela
vida de todos. Na desolação de uma manhã azul de sol, beijei a mulher que amo,
que amarei, deixei que ela ficasse ali entre os seus nas ultimas preces de
Isbelio presente, o pai, o cara, a figura, o ser, chegava ao fim uma história,
mas o bom da vida é virar a página para começar uma nova crônica, não tem
girassóis no parque dos girassóis, a flor estava, está no rosto de meus irmãos
que o chão trouxe para habitar a minha casa, este corpo que caminha e beija a
face de todos eles, desprendido de ambições tenho neles a grande riqueza que nenhuma religião pode
ensinar.
quarta-feira, 12 de setembro de 2012
Inacioval e a morte 2 - Burocancercracia
Existe uma norma
instituída em qualquer esfera de governo por estas bandas, que é a de criar
dificuldades para vender facilidades, no que se resume isso? por exemplo, o
cidadão necessita de certo documento, chega à repartição pública
correspondente, recebe um formulário com todas as informações necessárias para
a solicitação, preenche o dito cujo, tira fotocópia do RG seguindo para o que
ele imagina ser a coisa mais fácil desse mundo, em geral esses formulários
possuem quatro vias, o sujeito entrega no guichê 1 a via rosa, no 2 a amarela
e, quando entrega no 3 a folha verde vem a surpresa, um funcionário atento
percebe que a assinatura da Carteira de Identidade não corresponde com a que
está no formulário, embora possa conferir no cara-crachá, pede para que você
reconheça a assinatura no formulário, então você pergunta e os outros
formulários? bem, os outros são os outros, claro que ele não sabe responder,
acontece que para a emissão do famigerado documento todos as vias precisam
estar de acordo, ou seja, iguais, então só resta uma saída que é se sentar no
meio fio e chorar. Surge do nada algum ser caridoso sentindo o peso de seu pranto, oferece ajuda e por alguns caraminguás, sem fotocópia, reconhecimento
de firma, o documento está em suas mãos bem antes do prazo assinalado no balcão
de informações. Dá vontade de morrer depender da boa vontade do serviço público
mas, em caso de morte isso também acontece, a maratona para colocar o corpo
numa vala ou até mesmo para crema-lo é uma das coisas mais insanas que se possa
imaginar. Tínhamos um roteiro para seguir, o primeiro passo o tal Boletim de
Ocorrência, fomos até uma Delegacia e lá recebemos a informação de que não
havia delegado, o cara nos indicou outra, nos dirigimos para esta outra, onde
um escrivão e três inspetores disseram que lá também não tinha delegado,
afinal, onde estão os delegados perguntamos, um dos distintos numa pose digna
de xerife de bangue bangue espaguete, respondeu com muita sutileza, que
deveríamos perguntar ao governador,estávamos em xeque, não tínhamos saída,
lógico que eles nos mandaram para outro distrito onde finalmente conseguimos
quase de joelhos sem a assinatura do delegado o B.O, antes de emiti-lo a
escrivã destilou um rosário de falações, número de telefone para reclamação dos
outros colegas que não nos atenderam corretamente e para elogiar a excelente conduta
dela em emitir e informar ao rabecão que um corpo aguardava o recolhimento.
Uma situação curiosa a nossa, para o bandido tem delegado, para quem paga ou
pagou impostos como o morto não tem, antes tinha agora não tem, deveriam
transformar delegacias em inspetorias, por isso alguns meganhas civis fazem o
que bem entendem, quem cuida do trabalho dessa gente?
A vida em geral
prosseguiu naquela manhã depois tarde de sábado, entre o B.O e o recolhimento
do corpo tínhamos entre quatro e seis horas de espera, uma pausa para beber
alguma coisa, almoçar, pensar nas questões todas, avisar amigos e outros
parentes. O lento caminhar imposto por uma burocracia de cidade grande,
qualquer coisa que tentássemos fazer dependia do tal documento de liberação do
corpo, que só sairia depois da autorização para o devido exame daquele ser
solto numa geladeira qualquer, era claro que só poderíamos resolver aquela
situação 24 horas depois que o cara já estava numa outra dimensão. Por volta das oito e meia da noite
finalmente, podíamos tratar do enterro, fácil, simples,sem crise, serviço
eficiente,custo baixo, fomos ao velório do Araçá, o enterro seria em Osasco,
chegando lá encontramos Jacó, que nos indicou o final do corredor, a cabine
quatro perguntei, não, a salinha, ele respondeu, o pequeno espaço estava
repleto de caixões, que eles denominam como urnas, óbvio, o nosso voto está
morto uma vez que é ali que o depositamos. Jacó filho de Isaac estava tentando
barganhar sobre as nossas lágrimas, para transporte e estadia a bagatela de mil
e pouco, com chorinho para a fiscalização podia rolar por mil, assim na lata, cheque
nem pensar, em três vezes no cartão, sem juros, tá certo, vamos pensar, assim nos
dirigimos para a cidade “ÓS” Osasco, de repente uma Dorothy com alguns amigos
aparece para nos ajudar a encontrar um mágico capaz de aliviar o nosso
tormento. Chegamos ao nosso penúltimo lugar dessa saga, a Funerária de Osasco,
o documento de liberação em mãos assinado em duas vias,
carimbado,rotulado,avaliado,tudo belezinha, certo, certo? como assim? e as tais
dificuldades facilidades? a mocinha educada até, o preço era justo, mesmo que
não fosse, era conveniente que tudo acontecesse ali pelas terras da Dorothy,
ela com óculos em armação moderna pegou a folha primordial para todo trâmite
enterristico, cabe lembrar que já estávamos nos primeiros minutos do domingo,
com toda a atenção começou a digitar, digitou,digitou,digitou,digitou,nesse
ritmo como se cada tecla fosse uma grande novidade, queríamos morrer e quase
chegamos a isso mas, imagina só o tormento de quem teria que nos enterrar?
quando finalmente ela nos concedeu a graça de colocar o corpo de Isbelio numa nova
morada no Parque dos Girassóis.
segunda-feira, 10 de setembro de 2012
Inacioval e a morte 1 - Alice
Inacioval e a
morte 1 – Alice
Amor, dor foram as palavra que
saíram da boca do poeta, simples assim num resumo do que é a vida. Nesses dias
de sol as pessoas também estão ficando áridas, sentimos em seus olhos e
atitudes a coisa rude do asfalto em brasas, claro que nem todos são dessa
forma, seria chato se fosse unânime a insensibilidade. Era o dia da
independência e fomos para o almoço tranquilos rindo de coisas tolas ou não, o
ideal seria o mar ou uma piscina, aqueles que foram para a praia chegaram por
lá numa fadiga só, o transito, o freia, acelera da estrada, no dia seguinte
aquele cara que você hostilizou na descida acaba encontrando numa fila de
padaria e pronto, olha só no que pode restar um feriadão? o restaurante de
certa forma também estava uma loucura, mas rapidamente nos forneceram uma mesa,
as crianças famintas foram servidas primeiro, nós aos poucos fomos nos fartando
entre tragos do precioso liquido gelado, estávamos ancorados quando pensamos em
ir para outro bar com mesas na calçada onde as crianças pudessem ficar
tranquilas e nós ainda mais afinal, era o dia de ser livre das amarras e todo
aquele blá blá que o Tarcísio Meira eternizou. Moça mãe de filha minha recusou
a proposta, não tinha ninguém capaz de convencê-la, entre aquele apelo clássico
de ”vamo lá” e coisa tal, as crianças da mesa atrás da nossa começaram a
brincar com André e Ariadne, tinha riso naquele ambiente, rolou empatia entre
todos pais e filhos e espíritos santos evoés. Aquela refeição para eles era a
da espera, a lua estava para mudar disse Rubia a mãe de dois guris que estava
grávida do terceiro, com a mudança da morada de São Jorge viria ao mundo Alice,
as mulheres tem dessas coisas, nós ali também estávamos na verdade, estamos na
organização do aniversário do Andrezão, já tínhamos até bolado a logística para
a compra dos enfeites e todos os aparatos no dia seguinte, diante do caminho da
gente uma nova turma, eles passaram a ser a mesa na calçada que tanto
buscávamos. As mulheres conversando, as
crianças brincando, nós numa falação só e cervejas e cervejas e saideiras e
saideiras. Lá se foi a tarde, era noite, felicidades, vamos marcar um churrasco
assim que Alice chegar, foram, fomos todos, estava próximo o momento da
despedida. Quando chegamos em casa bateu na porta o pedido de socorro, saímos
para atender o apelo de ajuda, corpo no carro, a avenida repleta de luzes, o
“fanque” perto do hospital, a maca, a emergência, um homem entrando no
derradeiro turbilhão, Isbelio se foi na mesma noite que Alice chegou.
sexta-feira, 7 de setembro de 2012
Wanda, use o assento para flutuar
Wanda, use o assento
para flutuar
Conhecia um pouco daquele lugar,
era descer pela São João e beleza, qualquer coisa era só perguntar, embarquei
na 875M e deslizei pela noite paulistana, quando fui desembarcar dei com Wanda
olhando pra o meu rosto, aquele sorriso do passado que carrega a mesma leveza,
tenho essa coisa de não esquecer nomes ou feições, guardo números insignificantes,
minha memória me escraviza, tem fatos que quero esquecer e, que volta e meia
surgem como fantasmas, então saímos da diligência, ela para a sua casa na Santa
Cecília, eu para a Funarte, bom rever gente, encontrar no presente jamais ter
fechado portas no passado, sinto saudades daquele tempo de escola disse ela,
outro dia encontrei fulano eu disse, me lembro de alguns sobretudo de você
disse ela, puxa vida eu disse, segundos em silêncio, depois puxei assunto
qualquer como tenho um blog, escrevo para um jornal, caminhamos jogando
conversa fora até um Café perto da igreja Santa Cecília, uma caneta, meu email,
blog, um beijo e tchau, lá se foi, fiquei, fui para o meu destino numa terça
boa com clima ameno, tinha emoção ainda, a saudade de você ficou ecoando pela
calçada de açougues, churrascarias de quinta, botequins, tanto tempo e o
carinho do que ficou lá atrás chega feito um abraço que nem mesmo o velho amor
sabe dar mais, com os dias em comum tudo se acomoda, os gemidos e sussurros soam
desgastados apesar de rara obra estar junto, onde queria chegar acabei
encontrando, vazio lugar, uma lanchonete, um cara num banco na espera, o lance marcado
para sete, já eram sete, vamos lá, um sanduíche, um café, versos num guardanapo
sórdida página de poeta sem compromisso, faltava molhar as palavras para
desenvolver melhor as linhas, bolinha de papel, lixo, embora se foi a quase
poesia, assim gente foi juntando, mesa com petiscos, cachaças, livros foi
posta, Sala Guiomar Novaes quanta história tem aquele espaço, da para sentir a
respiração de suas paredes, o poeta em seu instante, um livro, uma vida em
páginas, cada frase lapidada, antes do recital uma, duas, três doses de cachaça
mineira, aí o poeta e a moça no palco fizeram poesia em tons africanos, tudo
bom, tudo lindo até o fim e assim chego nas derradeiras linhas disso aqui,
desse relato dia 21/08 leão zodíaco e sabe tem hora que dá vontade de usar o
assento para flutuar, ponto final.
A DICA: USE O ASSENTO PRA FLUTUAR
Autor:
Leo Gonçalves – Editora Patuá
domingo, 5 de agosto de 2012
poema para Toninho
Fica essa taça
De vinho pela metade
Tá certo
Lá se foi a saudade
Desapego fiquei parti
Me encontro
Numa nova casa
Naquele sorriso
Sol de todos os dias
Que hoje me desperta
Me cutuca
Faz me ser renascer
Preciso estar nesse calor
O sol é quente firme voraz
Sozinho
Eu não sou o sol
Nem luz
Sou coisa nenhuma
Dependo da claridade
De meus amigos
Sóis de todos os dias
Não sou coitadinho
Preciso do coito
Para abrir os caminhos
Nessa varanda faço versos
Ecos de vozes
Aceleram a tinta preta
Valeu
Vale
Valerá
Tem hoje, amanhã
Sobretudo ontem
Que faz dessa taça pelo fim
A vontade
De beijar todos os lábios
quinta-feira, 26 de julho de 2012
Sem pronome ou ponto, sem compromisso
Manhã azul quinta feira, tem feira na esquina, gente gritando apelando para que se compre a laranja, a moça passa, nem olha, quer pastel, quer garapa, quer curar a ressaca, casa, descasa, se muda, vai para outra parte, atualiza no facebook, condição de separada, sem relacionamento sério, nem emocional, nem financeiro, garapa, curar a ressaca, vai por estas bandas, esbordeio, porra na solidão outra vez, não acredita no mantra, antes só que mal acompanhada, não sente saudade da figura, pensa no sexo, pensa nas contas, essa coisa de devolver a chave, sol quinta feira, a Paulista inunda venenos suaves, garapa, METRÔ, um trem depois das sete, a terra não para, tiraram o acento das coisas, reformaram a língua, vagão bacana, poucos lugares para se sentar, pés que se tocam, pés frios, gente da metrópole, pessoas apressadas, a confusão das manhãs em que parece que ninguém olha para o céu, ninguém olha para os olhos verdes belos, o verde da vida, a verdura para deixar o corpo saudável, o verde da cana, a cachaça para deixar a mente relaxada, o verde da floresta, chega de verde, hoje ela saiu de vermelho, veste essa cor quando se apaixona, usa essa cor quando quer botar para fora os seus deuses interiores, chega de demônios afinal, em todo canto tem algum espreitando, pintando de lado na coisa do bobeou dançou, faz tempo que não danço com o meu amor, a moça esbarra num cara qualquer, os dois querem pimenta pela manhã, doce chega a vida, precisam de algo que combine com o sol da tarde que arde,deixa a gente cheio de sede, vai você, não você, os dois sorriem, se olham, pastel de palmito, outro de carne, a pele, esse dia do compasso esperando a sexta.
sexta-feira, 13 de julho de 2012
Pé na estrada
Quando Barbet Schroeder lançou Barfly (1987), os fãs do grande Charles Bukowski já tinham como parâmetro cinematográfico Crônica do amor louco (1981) dirigido pelo grande Abel Ferrara com um elenco estelar composto por Ornella Muti e Ben Gazzara, não que Barfly não possua atores desse quilate afinal, Faye Dunaway e Mickey Rourke também são grandes estrelas. Acho o Chinaski de Barbet melhor que o de Abel Ferrara embora, o conto que norteia Crônica do amor louco seja o mais espetacular do bom e velho Bukowski, a melhor tomada de uma bunda de todo o cinema está no filme de Ferrara, sim, a bunda de Ornella numa viagem em que câmera flagra o seu rosto contemplando o nada pela janela, entra pelo quarto encontrando o olhar de Henry deitado na cama e como os olhos dele a câmera se dirige até o bumbum da bella italiana, genial. Existem autores difíceis, quase impossíveis de se transportar os seus textos para a fria película do cinema, nem tão fria assim, quando temos a possibilidade de ver pelas lentes textos de Jhon Fante (Pergunte ao pó) ou de Bukowski entramos num tremendo frenesi por se tratar de uma literatura chula, rasteira para alguns mas, para nós fãs dessa coisa BEAT algo lírico, mágico etc,etc, etc, etc. On the Road de Jack Kerouac se enquadra no que acabei de dizer ali atrás, é o tipo de livro bíblia, coisa para se deixar de herança, uma relíquia pobre brochura quando se olha estático empoeirado na estante, primoroso, intenso quando tocamos a primeira frase, uma historia maravilhosa e aí jamais iríamos ver esse grande livro numa tela de cinema, de repente um diretor brasileiro se lança nesse desafio, o risco de ser enquadrado como besta ou bestial,quem se atreve a transpor para as telas a literatura Beat tem esse valor, não há meio termo ou se gosta ou não e é assim e sempre será. Ontem fomos Bruno e este figura que você lê, assistir a pré estréia de Pé na estrada, puxa que grande noite estar ao lado de meu sobrinho compartilhando aquilo, ele está no final do livro, eu já li e reli ainda outro dia para refrescar o que as imagens poderiam me fazer quem sabe chorar e prezado leitor não chorei, acho que a estrada ficou, os tipos fantásticos não brotaram, Dean Moriarty não está visceral, Terry não é uma bela latina na pele de Alice Braga, as coisas pipocam sem lógica, sem plano, falta em alguns casos um minuto ou dois que justifiquem uma sequencia ou outra, essa coisa de que não tem meio termo para apreciar de forma fria uma empeitada desse porte. E aí devo encarar ou não você deve estar se perguntando, sim, vai fundo nessa, assista ao filme, vale os tostões que você vai gastar, o nosso dinheirinho como vimos na faixa, gastamos entre pequenos charutos e cachaça falando do filme e do livro com alguns doidos numa calçada da Consolaçãol, alguns beats que defendiam a coisa, outros que não, uma Gabriela que só sorria com as besteiras que falávamos, uma quinta feira que passou sem deixar ressaca para a sexta, uma noite sem dormir como a de vinte anos atrás numa noite fria de 1992 qunado Bruno nasceu.
domingo, 27 de maio de 2012
Lingua
Vai dizer você
Que é rima ruim
Nesse momento quando já era
Expectora essa saudade
Dentro de mim
Se vale um abraço
Se tem peso um beijo
Serafins querubins
Esse dia de teus anos
O sorriso dessa manhã
Sabiá assovia para a Lua
Estende uma oferta funesta
Um biscoito qualquer
Acaricia os pelos
Esquece a cabeça que dói
Se dimentica de tudo
A moça na cama
É uma grande fragrância
Pequena porção
Carregada de sentimento
Sabe azul céu
As letras em preto
Enchendo o papel
Vem dizer você desses versos
Quando Alcides procura uma cifra
Quer colocar trombone na palavra
Londrina está entre nós
Nosso coração na terra vermelha
Raquel nasceu por aquelas bandas
Paraná, Santa Catarina
Vou ter que ir para o sul
Vai dizer que não tenho o que fazer
Quando eu disser
Que vou para o sul
Encontrar o meu norte
Tá certo, tudo bem
Solange acordou
Procurou pela cama
Não achou pessoa
Caminhou descalça pela casa
Sentia o chão
Como quando criança
Na terra batida do quintal
A casa em ordem
A vida nem tanto
Se dá um jeito para a vida
Ela sempre se desarranja
A vida é fogo
Foda é a morte
Tem um momento
Que chega sem aviso
Solange sorriu
Quando viu o moço
No meio do sol
Tinha na língua
O gosto da feijoada
Puxou a figura
Saciou o desejo
Encheu a casa
De um velho amor
Um jeans
Que nunca se esquece
Quando feira era finita
Queria um pastel de vento
Sede de garapa
No fundo
Bem no fundo
Sonhava com uma semana
Só de domingos
domingo, 22 de abril de 2012
poema para André
Esse negócio de deus
Quando se diz que Deus não existe
A tensão que se instala
É preciso certa subjetividade
Uma desculpa qualquer
Para que a vida continue
Esse negócio de deus
Que não desenrola o verso
Nem enrola o balaio
Telefonei
Estava com Hagamenon
A linha tocou até cair
Já era “sesfini”
Fica fone na mão
O vazio da presença
Que fosse bom escutar
A foice fosse cortou
Nem martelo tem mais
Tem essa coisa de Márcia
Quando canta
Era dia estragado
E ela cantou tão bonito
Acordou Pedro
E todos os apóstolos
A vida precisa acordar
Correr pelo quintal
Antes engatinha a vida
E quando anda a vida
A gente nem enxerga mais
Outro dia
Descobri
Uma tal “neurofibromatose”
Nome grande, difícil
Não tinha solução
Também não era sinuca de bico
Mãe chorou, pai também
Mas o apelo de Cristo pelo pai
Ficou chato
Ninguém corre para o colo do pai
Mãe não deve chorar
Mãe não deveria morrer
Mãe sorrindo é tão bonito
O pai de André sorri
A gargalhada da mãe
olha aí Mariana
é coisa que se escuta
bem ali no infinito
quase chegando
na Barra do Turvo
que seja cinza o domingo
depois que o Tiradentes morreu
você não acha
que tá tão sol dentro de nós?
Todos dormem
Valter,Carminha,
Alcides, Raquel, Alê, Luiza,
Ariadne, Paulinha, Lu, Chris, Patrícia,
Vitor, Vinicius, Bruno,Thiago, Necy, Regis,
Teka , Ian e Beto também dormem
Adriano não dorme
Pegou Elis e saiu
“Luci inde escai uiti daimonde”
Que nada de coisa nublada
Óculos escuros
Tenho cá para mim
Que Adriano é cara
sexta-feira, 30 de março de 2012
Dia do brinquedo
Vi um antigo amor no meio do supermercado que nem olhou para a minha cara, faz um bom tempo que terminamos que o antigo amor nem se lembra mais da minha figura, está diferente, não mudou para a melhor, o maridão encostou com um salame, ela aprovou e se perdeu com ele pelo super, fiquei ali parado, olhando,puxa que memória eu tenho não? Lembro-me de gente lá do tempo do onça, embora não tenha conhecido o senhor onça, você que me lê conhece o senhor onça? De que tempo afinal ele é? Estar assim largado no meio das compras é bem chato por isso vou bolando algumas historias, teve uma época que até era legal fazer compras, é bem provável que isso foi lá na minha infância quando não precisava abrir a carteira, quando era só pedir as coisas com jeitinho que mamãe resolvia o problema. Em meio a essa rotina mensal, um tema sempre me ronda a minha cuca que é o tal do setor de absorventes, são tantos, de formas e formatos diferentes que dá uma bela crônica, com abas, sem abas, com perfume, sem perfume são vários tipos, na minha infância se chamavam apenas modes e a marca era Sempre Livre, tem também os internos, deve ser a variedade que me impossibilita de desenrolar esse texto, vai que pinta uma mulher de plantão para dizer que faltou aquele e coisa e tal, fico parado um tempo enquanto o meu novo amor escolhe o seu absorvente, tenho a impressão que ela sempre troca, só que quando tenho que comprar para, me diz que quer aquele assim assado. Vou parar com essa encheção de lingüiça, afinal nada do que disse tem a ver com o titulo da crônica, acontece que é legal ficar de bobeira escrevinhando para não esquentar a cabeça com o rancho (lá em Barra do Turvo a compra do mês se chama rancho), outro dia encontrei no hipermercado um carrinho Pé na tabua, puxa quando eu era criança tive um, era o meu xodó, o levava para todo canto, nem sabia que a Ferrari existia e o meu carrinho era vermelho com calinho e tudo, era acordar e pé na tabua para a escola, como diz o padre, naquele tempo tudo era diferente, tão diferente que não podíamos levar brinquedo para a escola, hoje não, as crianças toda sexta podem levar um brinquedo para a escola, a bambina sempre escolhe alguma coisa para levar, hoje, por exemplo, é sexta depois da quinta que venho depois da quarta, não vamos falar do passado não é mesmo? o final de semana tá chegando, voltando a questã como diria o velho Tavares (sim o Tavares diz questã) ontem fomos para a farra, toda farra gera certa ressaca, atrasos no dia seguinte, assim acordamos aos solavancos com se estivéssemos nesses ônibus modernosos de São Paulo, Corre, escova os dentes, arruma o cabelo, pega o sapato, abotoa a camisa, puxa o cinto, escadas, cadeado no portão, rua, papo furado,sempre vamos conversando, chegamos na escola e ela me pergunta do brinquedo, puxa como poderia me lembrar? chorou e é chato quando lágrimas rolam assim pela manhã,acho que era mais pelo sono, uma professora percebeu e a levou para escolher um brinquedo numa sala da escola,fiquei esperando o desfecho que até perdi o meu ônibus, saiu da sala com uma boneca, dei tchauzinho, mandei beijo, ela nem olhou para a minha cara,fiquei triste, mão no bolso e sem a menor pressa de dar um pé na tabua. Quase me esqueço de dizer, que enquanto íamos para escola ela comentou que adorou a bagunça da noite passada.
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