domingo, 30 de dezembro de 2012

Intocáveis




A minha mãe costuma dizer que não devemos deixar contas para pagar no próximo ano, durante algum tempo levei isso em consideração, nada ficava para resolver no ano que se iniciava, até mesmo a leitura tratava de deixar em dia, muita coisa mudou, é estranho para quem se veste de vermelho praticamente todos os finais de semana, passar a virada de ano todo de branco. Nessa manhã solar depois da bruta chuva de ontem, acordei com algumas ideias na cabeça, rabisquei versos, sentindo o café quente assisti o belo O palhaço de Selton Mello, não sei qual motivo me impediu de ver essa película no cinema, assim como as coisas que relatei lá atrás, as salas de cinema ficaram um tanto chatas, outra coisa é que rapidamente os filmes já estão disponíveis em DVD deixando de lado aquela necessidade frenética das filas, com certeza não foi nada disso, o oba oba talvez em torno dele, ao final do filme que sensação boa de que finalmente podemos ver um autentico cinema de arte realizado por mãos tão jovens, fã dessas historias que acabam e que nos levam para longas discussões no Café, me senti triste por estar só assistindo ao filme, quase cinema francês se me permite? Falta para o cinema brasileiro aquela estatueta preciosa, o tal Oscar, se não veio com Central do Brasil, pode vir com essa obra do Selton embora, sempre pinte um filme iraniano pelo caminho, essa coisa do Ahmadinejad deixa os americanos fulos. Acho que a tal estatueta irá para Os intocáveis dirigido por Eric Toledano e Olivier Nakache, uma história que faz a gente refletir sem aquela pieguice de lágrimas tristes, claro que elas rolam mas, pela magia sobretudo de transformar um drama em um salto para se ser feliz minimamente, nada é pior que a compaixão, voltar a ver alguém depois de uma rusga tola só pelo fato desta estar próxima do encontro com o criador né não?  

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Trindade


qual a necessidade haver Trindade?

hoje, ontem, amanhã?

no campo santo

todos são iguais

nessa existência aqui

é raro, difícil

estar no mesmo patamar

quando nos achamos assim

tem lágrima

e moramos

uns nos olhos

do outro

sim

singular

na simplicidade de ser

Trindade

a poesia

podia, pode, poderá

terminar aqui

um dia todo

ainda por viver

acontece

que estou horas  atrás

na esquina

esperando o amigo

tenho sido tudo

até mesmo sozinho

pode parecer estranho

essa solidão

não desapega

a droga para curar isso

precisa de receita

e o doutor

cumpre uma vacanza

sem fim

essa malatia

que Trindade

trata com abraço

Rec queria as minhas mãos

Raquel a minha boca

Ariadne o meu coração

as meninas da mesa

só o meu chapéu

para a fotografia

esdruxulo

sem fazer a barba

fechei a porta, o portão

desci as escadas

ganhei a rua

de todas essas pessoas

que precisam de mim

não senti

qualquer balbucio

nada

além do sono profundo

vai ser assim um dia

só o retrato

a imagem fria

sem pose nem nada

os pássaros cantam

o bolso vazio

a canção que martela

eu não preciso de muito dinheiro

e deus não existe

faz frio até

haver Trindade na memória

é o sol que aquece

parece piegas

pode até ser

quem disse

que tem que enfeitar o pavão

para falar do que se sente?

vou deixar toda a emoção aqui

a funesta lotação

acaba de comprovar o cumulo da força

dobrou a esquina

 

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

o gol mil










Viva essa manhã azul de primavera
Primeiro dia útil de outubro
O mês quarta feira
novembro é quinta
Dezembro a sexta
Onde nasce o menino deus
Onde deixamos para trás
O que não deu certo
O 12 que marca a chegada do verão
Mas estamos no 10
Faltam dois trabalhos
Para o Hercules de cada tempo
E você pirando na coisa do Sisifo
Na impossibilidade da morte
Precisamos do Maracanã
Repleto de luzes para uma canção
Tanta luminosidade
Feito os olhos de Guilherme
A criança no caminho do poeta
A doçura na companhia de santos
Segunda feira
Não tem feira dona Maria
Prepare tudo com as sobras
Vou almoçar com a senhora
Não se aflija com o assado
Só não faça Jiló nem berinjela
Amargos demais
Melhor uma rúcula fresca
Verde
Como os olhos de sua filha
O seu nome a mãe de todos
Aquela que gerou a figura
O primeiro cabeludo dessa terra
Vamos estender uma prece
Uma louvação para Ronaldo
A quem devo com certeza
A minha alma
O homem que se descamisou
Por minha filha
Que deixou o chapéu
Na cabeça de meu mel
Meu amor eterno
A pessoa que se cansa
De tanta poesia
Hoje não tem Cacilda Becker
Amanhã também não
O sol arde a pele
Décimo primeiro andar
A Paulista
As estampas das mulheres
O  verde rosa de Vera Lucia
O “raiban” de Cida
Sozinho numa sala
Solto bicho
Sem sapatos
Pisando com as meias
No carpete de Luiz Reche
Olha aí o cara Áries
Assim abril
O mais cruel  dos meses
Para um certo T.S
Preciso retornar ao lavoro
Antes de desligar o sol
E  trazer o frio com ar condicionado
Vou me curvar
Numa reverencia
Para a singeleza de Rafaela
Assim tudo posto
Colocado no momento
Vou fazer
Como quando menino
Tênis Conga
Vou para o meu quadrado
Neste mundo redondo
Nessa terra que gira gira
E ninguém fica tonto
Em parte tem muitos tontos por aí
Viva Copérnico
Viva “Fuco”
Sábado de noite
A mãe de Bruna
No instante que a noite já ia
Como as caipirinhas
Falou de filosofia
Ablamos sobre isso filo
Perché quilo
Foi embora a noite
Daquele dia da criação
Vou agora
Acender a luz
Apagar o sol
Condicionar-me
Na espera das horas
Ontem olhava a vida
O  estontiante sabor do domingo
Do sorriso negro
Dos dentes lindos da negra
Sem nada para pensar
Me achei
Diante do gol mil
O momento de concretizar
Tudo
E deixar os novecentos e noventa e nove no passado
Branco e preto
Tudo em duas cores
A camisa
A pele
O mito
Pelé
O Flamengo não venceu ontem
Teve pênalti
E o goleiro pegou
Não era para ser
Não foi
Tristes também não ficamos
Esse ano
Outubro
Para a nação devia acabar agora
Nada termina assim
Sem uma agoniazinha
Não vamos nos desesperar
Temos a semana toda pela frente
E já sinto daqui o cheiro do tempero
Você deve achar que isso não tem fim
Acredite numa hora
O lance acaba
Acabando assim
  




domingo, 23 de setembro de 2012

canção





Meu querido André

Acho que agora

Posso morrer em paz

Não que eu queira

Nem que você deseja

Mas ontem outro dia

Antes da fidalguia

Conhecer os seus pais

A felicidade

Só tinha um sorriso

Perdão

Também tinha o de Paulinha

Meu velho novo sobrinho

Genro

Filho

Que me desculpem

Costas e Malgarisis                                                                                                      

A sua gargalhada

Tá ecoando

Na solidão

Das linhas que destilo

O poeta faz do silêncio companhia

Aquela tua fantasia

Um dia você vai perceber

Nada mais é

Do que uma segunda pele

Eu, euzinho, o canalha

Com aquele monte de livros

Rezava na bíblia

Do super homem “Niti”

Ali, diante daquela mesa

Nem sabe o quanto chorei

Foi lágrima feliz

Não se entristonha

Se não nós choramos tristes

A infelicidade tá em todo canto

Na retina fadigada

Certa melancolia não passa

Coisa boa

Pessoas não pescam

Elas querem defeitos

Cidade alerta

Desinteligência elas flertam

Hoje, aqui

Falta mesa, cadeira

Seus pais me deram

Umas BICs pretas

Por isso escrevo esses versos

Todo coisa de sentar e comer

Estão na sua casa

A minha casa é sua

Tolinho, besta poeta

Viva Paulinho Barba

Reclamando linhas biltres

Fosse um lar

Meu/seu

Já seria bom

Poderia deixar o imóvel pra ti


Que você veio morar aqui

Não dentro deste coração

Que não é nada

Só enche a gente de encheção

Essa válvula nos limita

Já imaginou viver em função dele?

Talvez Toninhos e Lucianas

Pitucas, Sábiás, Solanges

vivam por essa coisa que pulsa

cara, vem cá

senta qui do meu lado

coisinha tosca né não?

Mas antes que o Wagner

Venha lavar os nossos pés

Nem sabe ele

Que em toda esquina tem farmácia

Preciso dizer

Que agora

Você mora na minha cabeça

 

 

domingo, 16 de setembro de 2012

Inacioval e a morte - Final - Irmãos


Quando o titulo surge primeiro, o texto demora a existir, às vezes simplesmente não aparece e fica feito promessa herege que nunca se cumpre. Se disser que a amizade surgiu como planta baldia você vai achar que estou menosprezando gente, acontece que outro dia uma orquídea brotou assim do nada, não podíamos imaginar que ela estava ali e pronto apareceu margarida quer dizer, a orquídea. Irmãos que não vieram do mesmo útero, mas da mãe terra, essa senhora asfalto, essa dona mundo mundana que vai trazendo todos os filhos para uma bela comunhão. Nesses dias bicudos tem gente procurando a salvação sem saber que o lance é estar salvo agora ainda em vida, percebemos ali enquanto o corpo esperava para entrar em sua casa alugada por um período curto de três anos, que algumas religiões por mais que os caras se tenham como irmãos nada significam se não há respeito para que nem não tem uma ou é de outra fé, cada um quer ter o seu Jesus, não admitem isso ou aquilo, a imagem, o crucifixo, até quem envereda pelas coisas da mãe África, não percebe que por mais santos que baixem na pessoa, é preciso demonstrar amor, sair da casca da insensatez,  estender a mão para quem está fragilizado pela perda ou por qualquer porcaria que seja, tem ateu mais christão que um monte de gente que sabe todos os salmos, “curintios” e palmeiras da vida. A família se reuniu para o adeus, pessoas que não conhecia desembarcou entre cumbicas e congonhas, vieram trazer o carinho com uma lágrima ao fratello que partiu, fui enquadrando cada cena, queria compor um filme Fellini embora, tudo estivesse Bergman demais, a morte não aceitou uma partida de xadrez, ela estava ali no meio de nós abraçada aos coveiros que torcem pela vida de todos. Na desolação de uma manhã azul de sol, beijei a mulher que amo, que amarei, deixei que ela ficasse ali entre os seus nas ultimas preces de Isbelio presente, o pai, o cara, a figura, o ser, chegava ao fim uma história, mas o bom da vida é virar a página para começar uma nova crônica, não tem girassóis no parque dos girassóis, a flor estava, está no rosto de meus irmãos que o chão trouxe para habitar a minha casa, este corpo que caminha e beija a face de todos eles, desprendido de ambições tenho neles  a grande riqueza que nenhuma religião pode ensinar.

 

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Inacioval e a morte 2 - Burocancercracia




Existe uma norma instituída em qualquer esfera de governo por estas bandas, que é a de criar dificuldades para vender facilidades, no que se resume isso? por exemplo, o cidadão necessita de certo documento, chega à repartição pública correspondente, recebe um formulário com todas as informações necessárias para a solicitação, preenche o dito cujo, tira fotocópia do RG seguindo para o que ele imagina ser a coisa mais fácil desse mundo, em geral esses formulários possuem quatro vias, o sujeito entrega no guichê 1 a via rosa, no 2 a amarela e, quando entrega no 3 a folha verde vem a surpresa, um funcionário atento percebe que a assinatura da Carteira de Identidade não corresponde com a que está no formulário, embora possa conferir no cara-crachá, pede para que você reconheça a assinatura no formulário, então você pergunta e os outros formulários? bem, os outros são os outros, claro que ele não sabe responder, acontece que para a emissão do famigerado documento todos as vias precisam estar de acordo, ou seja, iguais, então só resta uma saída que é se sentar no meio fio e chorar. Surge do nada algum ser caridoso sentindo o peso de seu pranto, oferece ajuda e por alguns caraminguás, sem fotocópia, reconhecimento de firma, o documento está em suas mãos bem antes do prazo assinalado no balcão de informações. Dá vontade de morrer depender da boa vontade do serviço público mas, em caso de morte isso também acontece, a maratona para colocar o corpo numa vala ou até mesmo para crema-lo é uma das coisas mais insanas que se possa imaginar. Tínhamos um roteiro para seguir, o primeiro passo o tal Boletim de Ocorrência, fomos até uma Delegacia e lá recebemos a informação de que não havia delegado, o cara nos indicou outra, nos dirigimos para esta outra, onde um escrivão e três inspetores disseram que lá também não tinha delegado, afinal, onde estão os delegados perguntamos, um dos distintos numa pose digna de xerife de bangue bangue espaguete, respondeu com muita sutileza, que deveríamos perguntar ao governador,estávamos em xeque, não tínhamos saída, lógico que eles nos mandaram para outro distrito onde finalmente conseguimos quase de joelhos sem a assinatura do delegado o B.O, antes de emiti-lo a escrivã destilou um rosário de falações, número de telefone para reclamação dos outros colegas que não nos atenderam  corretamente e para elogiar a excelente conduta dela em emitir e informar ao rabecão que um corpo aguardava o recolhimento. Uma situação curiosa a nossa, para o bandido tem delegado, para quem paga ou pagou impostos como o morto não tem, antes tinha agora não tem, deveriam transformar delegacias em inspetorias, por isso alguns meganhas civis fazem o que bem entendem, quem cuida do trabalho dessa gente?

A vida em geral prosseguiu naquela manhã depois tarde de sábado, entre o B.O e o recolhimento do corpo tínhamos entre quatro e seis horas de espera, uma pausa para beber alguma coisa, almoçar, pensar nas questões todas, avisar amigos e outros parentes. O lento caminhar imposto por uma burocracia de cidade grande, qualquer coisa que tentássemos fazer dependia do tal documento de liberação do corpo, que só sairia depois da autorização para o devido exame daquele ser solto numa geladeira qualquer, era claro que só poderíamos resolver aquela situação 24 horas depois que o cara já estava numa outra dimensão.  Por volta das oito e meia da noite finalmente, podíamos tratar do enterro, fácil, simples,sem crise, serviço eficiente,custo baixo, fomos ao velório do Araçá, o enterro seria em Osasco, chegando lá encontramos Jacó, que nos indicou o final do corredor, a cabine quatro perguntei, não, a salinha, ele respondeu, o pequeno espaço estava repleto de caixões, que eles denominam como urnas, óbvio, o nosso voto está morto uma vez que é ali que o depositamos. Jacó filho de Isaac estava tentando barganhar sobre as nossas lágrimas, para transporte e estadia a bagatela de mil e pouco, com chorinho para a fiscalização podia rolar por mil, assim na lata, cheque nem pensar, em três vezes no cartão, sem juros, tá certo, vamos pensar, assim nos dirigimos para a cidade “ÓS” Osasco, de repente uma Dorothy com alguns amigos aparece para nos ajudar a encontrar um mágico capaz de aliviar o nosso tormento. Chegamos ao nosso penúltimo lugar dessa saga, a Funerária de Osasco, o documento de liberação em mãos assinado em duas vias, carimbado,rotulado,avaliado,tudo belezinha, certo, certo? como assim? e as tais dificuldades facilidades? a mocinha educada até, o preço era justo, mesmo que não fosse, era conveniente que tudo acontecesse ali pelas terras da Dorothy, ela com óculos em armação moderna pegou a folha primordial para todo trâmite enterristico, cabe lembrar que já estávamos nos primeiros minutos do domingo, com toda a atenção começou a digitar, digitou,digitou,digitou,digitou,nesse ritmo como se cada tecla fosse uma grande novidade, queríamos morrer e quase chegamos a isso mas, imagina só o tormento de quem teria que nos enterrar? quando finalmente ela nos concedeu a graça de colocar o corpo de Isbelio numa nova morada no Parque dos Girassóis.    


segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Inacioval e a morte 1 - Alice


Inacioval e a morte 1 – Alice

 

Amor, dor foram as palavra que saíram da boca do poeta, simples assim num resumo do que é a vida. Nesses dias de sol as pessoas também estão ficando áridas, sentimos em seus olhos e atitudes a coisa rude do asfalto em brasas, claro que nem todos são dessa forma, seria chato se fosse unânime a insensibilidade. Era o dia da independência e fomos para o almoço tranquilos rindo de coisas tolas ou não, o ideal seria o mar ou uma piscina, aqueles que foram para a praia chegaram por lá numa fadiga só, o transito, o freia, acelera da estrada, no dia seguinte aquele cara que você hostilizou na descida acaba encontrando numa fila de padaria e pronto, olha só no que pode restar um feriadão? o restaurante de certa forma também estava uma loucura, mas rapidamente nos forneceram uma mesa, as crianças famintas foram servidas primeiro, nós aos poucos fomos nos fartando entre tragos do precioso liquido gelado, estávamos ancorados quando pensamos em ir para outro bar com mesas na calçada onde as crianças pudessem ficar tranquilas e nós ainda mais afinal, era o dia de ser livre das amarras e todo aquele blá blá que o Tarcísio Meira eternizou. Moça mãe de filha minha recusou a proposta, não tinha ninguém capaz de convencê-la, entre aquele apelo clássico de ”vamo lá” e coisa tal, as crianças da mesa atrás da nossa começaram a brincar com André e Ariadne, tinha riso naquele ambiente, rolou empatia entre todos pais e filhos e espíritos santos evoés. Aquela refeição para eles era a da espera, a lua estava para mudar disse Rubia a mãe de dois guris que estava grávida do terceiro, com a mudança da morada de São Jorge viria ao mundo Alice, as mulheres tem dessas coisas, nós ali também estávamos na verdade, estamos na organização do aniversário do Andrezão, já tínhamos até bolado a logística para a compra dos enfeites e todos os aparatos no dia seguinte, diante do caminho da gente uma nova turma, eles passaram a ser a mesa na calçada que tanto buscávamos.  As mulheres conversando, as crianças brincando, nós numa falação só e cervejas e cervejas e saideiras e saideiras. Lá se foi a tarde, era noite, felicidades, vamos marcar um churrasco assim que Alice chegar, foram, fomos todos, estava próximo o momento da despedida. Quando chegamos em casa bateu na porta o pedido de socorro, saímos para atender o apelo de ajuda, corpo no carro, a avenida repleta de luzes, o “fanque” perto do hospital, a maca, a emergência, um homem entrando no derradeiro turbilhão,  Isbelio se foi na mesma noite que Alice chegou. 

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Wanda, use o assento para flutuar


Wanda, use o assento para flutuar
Conhecia um pouco daquele lugar, era descer pela São João e beleza, qualquer coisa era só perguntar, embarquei na 875M e deslizei pela noite paulistana, quando fui desembarcar dei com Wanda olhando pra o meu rosto, aquele sorriso do passado que carrega a mesma leveza, tenho essa coisa de não esquecer nomes ou feições, guardo números insignificantes, minha memória me escraviza, tem fatos que quero esquecer e, que volta e meia surgem como fantasmas, então saímos da diligência, ela para a sua casa na Santa Cecília, eu para a Funarte, bom rever gente, encontrar no presente jamais ter fechado portas no passado, sinto saudades daquele tempo de escola disse ela, outro dia encontrei fulano eu disse, me lembro de alguns sobretudo de você disse ela, puxa vida eu disse, segundos em silêncio, depois puxei assunto qualquer como tenho um blog, escrevo para um jornal, caminhamos jogando conversa fora até um Café perto da igreja Santa Cecília, uma caneta, meu email, blog, um beijo e tchau, lá se foi, fiquei, fui para o meu destino numa terça boa com clima ameno, tinha emoção ainda, a saudade de você ficou ecoando pela calçada de açougues, churrascarias de quinta, botequins, tanto tempo e o carinho do que ficou lá atrás chega feito um abraço que nem mesmo o velho amor sabe dar mais, com os dias em comum tudo se acomoda, os gemidos e sussurros soam desgastados apesar de rara obra estar junto, onde queria chegar acabei encontrando, vazio lugar, uma lanchonete, um cara num banco na espera, o lance marcado para sete, já eram sete, vamos lá, um sanduíche, um café, versos num guardanapo sórdida página de poeta sem compromisso, faltava molhar as palavras para desenvolver melhor as linhas, bolinha de papel, lixo, embora se foi a quase poesia, assim gente foi juntando, mesa com petiscos, cachaças, livros foi posta, Sala Guiomar Novaes quanta história tem aquele espaço, da para sentir a respiração de suas paredes, o poeta em seu instante, um livro, uma vida em páginas, cada frase lapidada, antes do recital uma, duas, três doses de cachaça mineira, aí o poeta e a moça no palco fizeram poesia em tons africanos, tudo bom, tudo lindo até o fim e assim chego nas derradeiras linhas disso aqui, desse relato dia 21/08 leão zodíaco e sabe tem hora que dá vontade de usar o assento para flutuar, ponto final.    
A DICA: USE O ASSENTO PRA FLUTUAR
              Autor: Leo Gonçalves – Editora Patuá

 

domingo, 5 de agosto de 2012

poema para Toninho


Fica essa taça

De vinho pela metade

Tá certo

Lá se foi a saudade

Desapego fiquei parti

Me encontro

Numa nova casa

Naquele sorriso

Sol de todos os dias

Que hoje me desperta

Me cutuca

Faz me ser renascer

Preciso estar nesse calor

O sol é quente firme voraz

Sozinho

Eu não sou o sol

Nem luz

Sou coisa nenhuma

Dependo da claridade

De meus amigos

Sóis de todos os dias

Não sou coitadinho

Preciso do coito

Para abrir os caminhos

Nessa varanda faço versos

Ecos de vozes

Aceleram a tinta preta

Valeu

Vale

Valerá

Tem hoje, amanhã

Sobretudo ontem

Que faz dessa taça pelo fim

A vontade

De beijar todos os lábios

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Sem pronome ou ponto, sem compromisso

Manhã azul quinta feira, tem feira na esquina, gente gritando apelando para que se compre a laranja, a moça passa, nem olha, quer pastel, quer garapa, quer curar a ressaca, casa, descasa, se muda, vai para outra parte, atualiza no facebook, condição de separada, sem relacionamento sério, nem emocional, nem financeiro, garapa, curar a ressaca, vai por estas bandas, esbordeio, porra na solidão outra vez, não acredita no mantra, antes só que mal acompanhada, não sente saudade da figura, pensa no sexo, pensa nas contas, essa coisa de devolver a chave, sol quinta feira, a Paulista inunda venenos suaves, garapa, METRÔ, um trem depois das sete, a terra não para, tiraram o acento das coisas, reformaram a língua, vagão bacana, poucos lugares para se sentar, pés que se tocam, pés frios, gente da metrópole, pessoas apressadas, a confusão das manhãs em que parece que ninguém olha para o céu, ninguém olha para os olhos verdes belos, o verde da vida, a verdura para deixar o corpo saudável, o verde da cana, a cachaça para deixar a mente relaxada, o verde da floresta, chega de verde, hoje ela saiu de vermelho, veste essa cor quando se apaixona, usa essa cor quando quer botar para fora os seus deuses interiores, chega de demônios afinal, em todo canto tem algum espreitando, pintando de lado na coisa do bobeou dançou, faz tempo que não danço com o meu amor, a moça esbarra num cara qualquer, os dois querem pimenta pela manhã, doce chega a vida, precisam de algo que combine com o sol da tarde que arde,deixa a gente cheio de sede, vai você, não você, os dois sorriem, se olham, pastel de palmito, outro de carne, a pele, esse dia do compasso esperando a sexta.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Pé na estrada

Quando Barbet Schroeder lançou Barfly (1987), os fãs do grande Charles Bukowski já tinham como parâmetro cinematográfico Crônica do amor louco (1981) dirigido pelo grande Abel Ferrara com um elenco estelar composto por Ornella Muti e Ben Gazzara, não que Barfly não possua atores desse quilate afinal, Faye Dunaway e Mickey Rourke também são grandes estrelas. Acho o Chinaski de Barbet melhor que o de Abel Ferrara embora, o conto que norteia Crônica do amor louco seja o mais espetacular do bom e velho Bukowski, a melhor tomada de uma bunda de todo o cinema está no filme de Ferrara, sim, a bunda de Ornella numa viagem em que câmera flagra o seu rosto contemplando o nada pela janela, entra pelo quarto encontrando o olhar de Henry deitado na cama e como os olhos dele a câmera se dirige até o bumbum da bella italiana, genial. Existem autores difíceis, quase impossíveis de se transportar os seus textos para a fria película do cinema, nem tão fria assim, quando temos a possibilidade de ver pelas lentes textos de Jhon Fante (Pergunte ao pó) ou de Bukowski entramos num tremendo frenesi por se tratar de uma literatura chula, rasteira para alguns mas, para nós fãs dessa coisa BEAT algo lírico, mágico etc,etc, etc, etc. On the Road de Jack Kerouac se enquadra no que acabei de dizer ali atrás, é o tipo de livro bíblia, coisa para se deixar de herança, uma relíquia pobre brochura quando se olha estático empoeirado na estante, primoroso, intenso quando tocamos a primeira frase, uma historia maravilhosa e aí jamais iríamos ver esse grande livro numa tela de cinema, de repente um diretor brasileiro se lança nesse desafio, o risco de ser enquadrado como besta ou bestial,quem se atreve a transpor para as telas a literatura Beat tem esse valor, não há meio termo ou se gosta ou não e é assim e sempre será. Ontem fomos Bruno e este figura que você lê, assistir a pré estréia de Pé na estrada, puxa que grande noite estar ao lado de meu sobrinho compartilhando aquilo, ele está no final do livro, eu já li e reli ainda outro dia para refrescar o que as imagens poderiam me fazer quem sabe chorar e prezado leitor não chorei, acho que a estrada ficou, os tipos fantásticos não brotaram, Dean Moriarty não está visceral, Terry não é uma bela latina na pele de Alice Braga, as coisas pipocam sem lógica, sem plano, falta em alguns casos um minuto ou dois que justifiquem uma sequencia ou outra, essa coisa de que não tem meio termo para apreciar de forma fria uma empeitada desse porte. E aí devo encarar ou não você deve estar se perguntando, sim, vai fundo nessa, assista ao filme, vale os tostões que você vai gastar, o nosso dinheirinho como vimos na faixa, gastamos entre pequenos charutos e cachaça falando do filme e do livro com alguns doidos numa calçada da Consolaçãol, alguns beats que defendiam a coisa, outros que não, uma Gabriela que só sorria com as besteiras que falávamos, uma quinta feira que passou sem deixar ressaca para a sexta, uma noite sem dormir como a de vinte anos atrás numa noite fria de 1992 qunado Bruno nasceu.

domingo, 27 de maio de 2012

Lingua


Vai dizer você

Que é rima ruim

Nesse momento quando já era

Expectora essa saudade

Dentro de mim

Se vale um abraço

Se tem peso um beijo

Serafins querubins

Esse dia de teus anos

O sorriso dessa manhã

Sabiá assovia para a Lua

Estende uma oferta funesta

Um biscoito qualquer

Acaricia os pelos

Esquece a cabeça que dói

Se dimentica de tudo

A moça na cama

É uma grande fragrância

Pequena porção

Carregada de sentimento

Sabe azul céu

As letras em preto

Enchendo o papel

Vem dizer você desses versos

Quando Alcides procura uma cifra

Quer colocar trombone na palavra

Londrina está entre nós

Nosso coração na terra vermelha

Raquel nasceu por aquelas bandas

Paraná, Santa Catarina

Vou ter que ir para o sul

Vai dizer que não tenho o que fazer

Quando eu disser

Que vou para o sul

Encontrar o meu norte

Tá certo, tudo bem

Solange acordou

Procurou pela cama

Não achou pessoa

Caminhou descalça pela casa

Sentia o chão

Como quando criança

Na terra batida do quintal

A casa em ordem

A vida nem tanto

Se dá um jeito para a vida

Ela sempre se desarranja

A vida é fogo

Foda é a morte

Tem um momento

Que chega sem aviso

Solange sorriu

Quando viu o moço

No meio do sol

Tinha na língua

O gosto da feijoada

Puxou a figura

Saciou o desejo

Encheu a casa

De um velho amor

Um jeans

Que nunca se esquece

Quando feira era finita

Queria um pastel de vento

Sede de garapa

No fundo

Bem no fundo

Sonhava com uma semana

Só de domingos


domingo, 22 de abril de 2012

poema para André

Esse negócio de deus

Quando se diz que Deus não existe

A tensão que se instala

É preciso certa subjetividade

Uma desculpa qualquer

Para que a vida continue

Esse negócio de deus

Que não desenrola o verso

Nem enrola o balaio

Telefonei

Estava com Hagamenon

A linha tocou até cair

Já era “sesfini”

Fica fone na mão

O vazio da presença

Que fosse bom escutar

A foice fosse cortou

Nem martelo tem mais

Tem essa coisa de Márcia

Quando canta

Era dia estragado

E ela cantou tão bonito

Acordou Pedro

E todos os apóstolos

A vida precisa acordar

Correr pelo quintal

Antes engatinha a vida

E quando anda a vida

A gente nem enxerga mais

Outro dia

Descobri

Uma tal “neurofibromatose”

Nome grande, difícil

Não tinha solução

Também não era sinuca de bico

Mãe chorou, pai também

Mas o apelo de Cristo pelo pai

Ficou chato

Ninguém corre para o colo do pai

Mãe não deve chorar

Mãe não deveria morrer

Mãe sorrindo é tão bonito

O pai de André sorri

A gargalhada da mãe

olha aí Mariana

é coisa que se escuta

bem ali no infinito

quase chegando

na Barra do Turvo

que seja cinza o domingo

depois que o Tiradentes morreu

você não acha

que tá tão sol dentro de nós?

Todos dormem

Valter,Carminha,

Alcides, Raquel, Alê, Luiza,

Ariadne, Paulinha, Lu, Chris, Patrícia,

Vitor, Vinicius, Bruno,Thiago, Necy, Regis,

Teka , Ian e Beto também dormem

Adriano não dorme

Pegou Elis e saiu

“Luci inde escai uiti daimonde”

Que nada de coisa nublada

Óculos escuros

Tenho cá para mim

Que Adriano é cara


sexta-feira, 30 de março de 2012

Dia do brinquedo

Vi um antigo amor no meio do supermercado que nem olhou para a minha cara, faz um bom tempo que terminamos que o antigo amor nem se lembra mais da minha figura, está diferente, não mudou para a melhor, o maridão encostou com um salame, ela aprovou e se perdeu com ele pelo super, fiquei ali parado, olhando,puxa que memória eu tenho não? Lembro-me de gente lá do tempo do onça, embora não tenha conhecido o senhor onça, você que me lê conhece o senhor onça? De que tempo afinal ele é? Estar assim largado no meio das compras é bem chato por isso vou bolando algumas historias, teve uma época que até era legal fazer compras, é bem provável que isso foi lá na minha infância quando não precisava abrir a carteira, quando era só pedir as coisas com jeitinho que mamãe resolvia o problema. Em meio a essa rotina mensal, um tema sempre me ronda a minha cuca que é o tal do setor de absorventes, são tantos, de formas e formatos diferentes que dá uma bela crônica, com abas, sem abas, com perfume, sem perfume são vários tipos, na minha infância se chamavam apenas modes e a marca era Sempre Livre, tem também os internos, deve ser a variedade que me impossibilita de desenrolar esse texto, vai que pinta uma mulher de plantão para dizer que faltou aquele e coisa e tal, fico parado um tempo enquanto o meu novo amor escolhe o seu absorvente, tenho a impressão que ela sempre troca, só que quando tenho que comprar para, me diz que quer aquele assim assado. Vou parar com essa encheção de lingüiça, afinal nada do que disse tem a ver com o titulo da crônica, acontece que é legal ficar de bobeira escrevinhando para não esquentar a cabeça com o rancho (lá em Barra do Turvo a compra do mês se chama rancho), outro dia encontrei no hipermercado um carrinho Pé na tabua, puxa quando eu era criança tive um, era o meu xodó, o levava para todo canto, nem sabia que a Ferrari existia e o meu carrinho era vermelho com calinho e tudo, era acordar e pé na tabua para a escola, como diz o padre, naquele tempo tudo era diferente, tão diferente que não podíamos levar brinquedo para a escola, hoje não, as crianças toda sexta podem levar um brinquedo para a escola, a bambina sempre escolhe alguma coisa para levar, hoje, por exemplo, é sexta depois da quinta que venho depois da quarta, não vamos falar do passado não é mesmo? o final de semana tá chegando, voltando a questã como diria o velho Tavares (sim o Tavares diz questã) ontem fomos para a farra, toda farra gera certa ressaca, atrasos no dia seguinte, assim acordamos aos solavancos com se estivéssemos nesses ônibus modernosos de São Paulo, Corre, escova os dentes, arruma o cabelo, pega o sapato, abotoa a camisa, puxa o cinto, escadas, cadeado no portão, rua, papo furado,sempre vamos conversando, chegamos na escola e ela me pergunta do brinquedo, puxa como poderia me lembrar? chorou e é chato quando lágrimas rolam assim pela manhã,acho que era mais pelo sono, uma professora percebeu e a levou para escolher um brinquedo numa sala da escola,fiquei esperando o desfecho que até perdi o meu ônibus, saiu da sala com uma boneca, dei tchauzinho, mandei beijo, ela nem olhou para a minha cara,fiquei triste, mão no bolso e sem a menor pressa de dar um pé na tabua. Quase me esqueço de dizer, que enquanto íamos para escola ela comentou que adorou a bagunça da noite passada.