segunda-feira, 11 de julho de 2016

Estela

Tem algumas décadas que se você foi prezado Tom, fica o seu isco chamado Inéditas girando na vitrola, tem nostalgia em cada arranjo, não tua, mas de Estela que dias atrás nos deixou, era de fibra, é ainda, sempre será, tenho uma forma estranha de me relacionar com a ausência, lacrimejo por dentro,  busco na memória momentos bons que quase sempre misturo com tragos líquidos e do companheiro charuto, hábito que você também tinha, perdi o meu chapéu outro dia, ao contrário de ti possuía apenas um, ainda não bateu em minha porta uma proposta para ganhar alguns trocados com arte, não tem crise, a gente vai levando, difícil meu velho é lidar com as palavras, se o tema é saudade brota uma tristeza que já vou moldando para alegria, festa, era assim a nossa magrinha, sacolejo no samba, não tinha dispersão, a bravura indômita de uma canceriana, o abraço de tantas cervejas, vinhos, das reflexões pela madrugada quando a folia baixava um tantinho, passou o carnaval em tua terra, não pendurou a saia na quarta feira, continuou dançando, arrastando as sandálias até o domingo, a vida Tonzinho não é só isso que se vê, é preciso dela sugar até o último suspiro, nada pode nos deter, meu querido Brasileiro Jobim, as tuas águas vão banhar o corpo de minha amiga, assim, quando eu for ao Arpoador poderei abraçar e contemplar a eternidade de vocês dois.