Virou notícia pelo fato de um
motorista ter perdido o controle do veículo entrando num bar de madrugada meses
atrás, alguns feridos e mortos, as imagens foram repetidas durante uma segunda
feira que se foi, após pequena reforma o bar reabriu, no ir e vir constante o
ocorrido foi sendo esquecido. Sábado neste mesmo bar foi exibido o filme título
deste relato, antes de falar do filme em si, preciso falar sobre o local que se
chama Laranjinha, ali as pessoas se reúnem para beber, comer e cantar,
sobretudo cantar, não sou habitue do lugar, a minha voz é um horror, já pensei
algumas vezes em levar a pequena máquina para gravar um vídeo sobre o movimento
de lá, paro por ali de tarde em geral para pegar uma lata de cerveja escura,
acendo o meu charuto e me mando, gosto
de passear pela orla deste grande igarapé. Era fria a noite, busquei pessoas
para me acompanhar, todos estavam em suas cascas, se transformam em caramujos
quando a temperatura despenca, sem crise, pés na calçada, primeiro a tabacaria,
depois um café, por fim a exibição da tão aguarda película. O que fascina no
ambiente do Laranjinha é que ninguém te olha com estranhamento por vê-lo chegar
pela primeira vez no lugar, fiquei na calçada fitando as pessoas, tragando pensamentos,
escutando as canções não que não seguiam um roteiro, depois de um Exaltação,
Cássia Eller e por aí vai, é um esquema profissional, um projetor exibe para a
platéia a letra, quem está cantando tem um monitor menor na frente, é legal
para evitar que aquele que está ao microfone não fique de costas para o seu
público. Não demorou para começar a desenrolar conversas com as pessoas na
calçada, chegou Martinho um senhor que conheci num sarau no bar do Lula em
2012, foi um dos entrevistados, estava eufórico, ficou ainda mais quando lhe
ofereci um charuto que estava fumando, disse que fazia um bom tempo que não
fumava um daqueles, o inverno se derreteu pelas mesas vermelhas dispostas no
concreto, a figura do cartunista Laerte também estava por ali, cara de grande
coragem ele, a transformação que empregou me levou numa brincadeira a tirar o meu
chapéu para ele, bom assim, gente que saca quando utilizamos humor para tratar
assuntos sérios, uma estudante alemã que pretende em seu TCC realizar um vídeo
sobre o Vila Dalva, Rinaldo e esposa, moradores da Vila Dalva com quem Katia (
a alemã) já começou a pincelar os passos futuros. Grande lance estar por ali,
tem um tempo que ao lado do Jura, e do Mario Rolim, trabalho num livro sobre a
história do bairro. Chegou Olivia e marido, terão uma criança logo logo, na
verdade um segundo filho depois de terem idealizado o curta que foi exibido. Após algumas
tentativas, finalmente o vídeo é colocado na tela, o áudio das vozes que cantavam
dá lugar aos relatos, a imagem do ônibus passando pela avenida, o tempo das
senhoras narrando as peripécias de pagar bambus na área dos Matarazzo, o
silêncio, os olhos atentos na imagem, como se todos assistissem pela primeira
vez acendimento de uma lâmpada, ao final algumas palmas, os copos voltaram
tilintar, a musica voltou, as risadas na calçada, dentro das pessoas um certo
orgulho digamos assim, grande barato com certeza. Parabéns aos pais da ideia
que foi colocada em prática através do FOMENTO CINEMA da Prefeitura do
Município de São Paulo em 2013. Provavelmente seja o primeiro vídeo que relate
parte da história do Rio Pequeno, existem várias versões para o surgimento do
nome do bairro, quanto mais elementos melhor, temos uma origem após as
entrevistas que realizamos, apesar de ter gostado muito, acho que faltou focar
melhor nos contrastes que os entrevistados falam, em ser um bairro que agrega
diversas camadas sociais, imagens da Avenida do Rio Pequeno, o movimento dos
veículos e das pessoas, claro que a utilização de imagens é um problema mas,
num plano geral não tem problema, a ocupação do bairro não se deve apenas ao fator
USP, ocorreu muito em função dos lotes terem sido colocados a venda entre as décadas de 60 e 70 por preços
bem em conta, em parcelas que permitiam a construção da moradia e o pagamento
da prestação. Acho o titulo além dos muros perfeito ao focar a Favela São Remo
ao final da fita, é no Rio Pequeno que grande parte das crianças estudam, o
comércio principalmente alguns supermercados são usados pelos moradores de lá, a
apresentação da figura da Eva, tem hora que é como se a Corifeu não separasse
as duas realidades. Bela noite de sábado, quando saí do Laranjinha já sentia os
tons do domingo, a garoa cobrindo as lentes de meus óculos, a caminhada para
casa, a fumaça do último charuto se perdendo pelos ares da vida.
segunda-feira, 28 de julho de 2014
quinta-feira, 10 de julho de 2014
Viva o Jaburu
Toda a cordialidade do povo nas ruas, foi
concedida aos craques alemães com a bela camisa vermelha e preta, em minutos
com algumas bolas no barbante fulminaram a febre amarela. Sai para caminhar na
manhã seguinte, tinham uns caras em pequenas rodas, balbuciavam apenas, dava a
impressão que falavam da morte do irmão Dagobé, era temido, da forma com que se
comunicavam dava a impressão que o defunto poderia voltar das profundezas da
incandescência para matar um a um, fosse esse o placar e até que seria legal. A
cabeça minha não estava na tragédia e, sim no amor, na alegria, a noite passou
azul embora com algumas gotas de chuva, deu para sentir Ana a mãe passando por
entre nós com seu lenço sobre os cabelos, ela se foi faz um tempo, quando pinta
julho penso no bolo que era queria fazer para a minha festa lá pelos anos
noventa e pouco, Ana a filha é meu amor único que não entende motivo para tanta
festa, se a uva passa imagina a vida, não sei se coloco interrogação ou
exclamação, um ponto e a vida segue num fio de Ariadne que acha dormir cedo um
saco, gosta de acordar tarde, ela ontem não queria se recolher, acha lindo o
Jaburu, tem gente que vem e fica até mesmo quando vai embora, a festa de meu
amigo terminou lá em casa, existe um privilégio em viver, que as portas estão
sempre abertas, quando criança era assim, não tinha barreira para frequentar as
casas, jogávamos botão na mesa de comer, as coisas mudaram bastante, Luíza acha
que devo colocar um ponto, pronto. Posso continuar na mesma linha professora?
Caminhando, chapéu na cabeça, camisa vermelha, estampa Ganesha, já está bem
rota ela, dentro de pouco tempo vai se transformar em cinzas, roupas minhas não
viram pano de chão, são queimadas como será o meu corpo, a vida sem limites,
aliás, poucos assistiram Limite de Mário Peixoto, grande filme brasileiro,
único do diretor, uma obra prima. Voltando do ponto de ter saído, estava cinza
o dia, uma crônica na cabeça, alguns versos, entrei na padaria, a sede era de
cerveja, pedi um café, muito café, pouco leite, pão de queijo, água gelada,
pensei em meus amigos ali sozinho, na filha e na neta de Ana que dormiam o sono
mais profundo, diante do branco papel possuía todo o texto na cabeça, tudo bem
concatenado, a emoção da noite ardia na pele, rolou uma lágrima, tratei de
limpa-la, essa gente confunde sentimento profundo com emoções sazonais, tem uns
lances que a gente descreve que soa brega, vida Odair José! Diante da xícara vazia,
a moça me perguntou se queria outra coisa ou algo assim, pedi uma cerveja, não
era tão tarde, uma onze da manhã acontece, que tem aquele princípio ébrio de só
beber a primeira a partir do meio dia, péssimo exemplo para a criança na mesa
ao lado, mamadeira na boca, deixei os versos em suspenso para depois do jogo da
Argentina, enrolei as folhas, paguei a conta, peguei a cerveja, voltei para
casa pelo mesmo caminho, trocava uns tragos por uma assoviada canção do Elomar.
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