segunda-feira, 30 de junho de 2014

Deus



Nada pode ser mais chato do que quando você escuta a frase, se lembra o que disse ontem? Cara, isso é ridículo, em geral a pessoa fica observando o seu caminhar, os seus atos, para depois vir punir você com a tal frase, em geral dita antes daquele bom café com quase nada de adoçante e bem forte numa manhã que até sol se insinua tímido. Acho que as coisas devem ser faladas na hora, sem frescura, sem medo de nada, provavelmente falando na hora, irão sacar o sarcasmo que rondava tal frase, tem chatice demais nestes dias todos cê não acha? Deixei de ser franco para ser hipócrita, é melhor assim, poucas pessoas estão dispostas a escutar a verdade saca? Não que tenha me tornado cínico, acho que é melhor viver no superficial, na ironia, beijo gente que sei que me odeia, mas não diz justamente por não saber dizer o que sente, se disser talvez com jeitinho possa provar do contrário levando a figura quem sabe até a pagar alguns tragos. O problema está justamente no fato de que as pessoas bebem mal, a péssima qualidade dos líquidos levam para um humor horroroso, quando não bebem ficam ainda pior, se julgam agentes da moral e dessa balela toda de bons costumes, de exacerbações sem sentido, se você bebe e fuma então vira o próprio Judas e quer saber? acho que o cara não devia ter entregado o tal Cristo que já se julgava na cruz bem antes da coisa toda. Esse lance de vida cotidiana, tudo papaia mamãe, porra muda a posição, tenta outra parada, as coisas foram boladas para encaixe. Uma vez um amigo me disse que lá no escritório o chefe pede para ele pegar a caixa box, ele simplesmente gargalha internamente por ter que buscar a caixa caixa.  É preciso quebrar paradigmas, do que adianta tanta leitura se a gente não bota caraminholas na cabeça dos outros? Como disse aquele filósofo careca, pensar é sofrer, acho justo isso, não pensar é o que? A menina lá da repartição tão linda, um doce de pessoa que quando se levanta para o café faz com que a agente confunda o carimbo verde com o vermelho, soltou a frase através daquele batom brilhante, lábios carnudos, de que ficou claro depois dos pênaltis que deus é brasileiro, silenciamos, alguns por convicção, outros por sei lá o que? eu, pelo já escrito de me manter irônico e ela vale qualquer esforço nesse sentido, deveríamos concordar com tudo que diz qualquer beldade até que ela apareça com um troglodita qualquer enfim, Rufino quebrou o silêncio, com seu temperamento duas doses acima foi dizendo, deixe de ser besta, é sabido que deus não existe e diante do que ocorreu sábado se existe é burro por não entender nada de futebol, a mocinha ficou vermelha, colocou as mãos no rosto mostrando para todos as suas unhas pintadas com as cores da pátria, caiu no choro, Rufino saiu de seu cercadinho, abraçou a pequena como se fosse uma filha e finalizou, para deus não tem remédio, se não ganhar esta Copa, vai ter outra daqui quatro anos na Rússia terra da deusa vodka. 

sexta-feira, 6 de junho de 2014

Divagando

Chovia pela manhã, a pequena antes mesmo de ir para o banheiro se preparar para a escola, já falou da infiltração na casa debaixo, a mãe também falou, a sogra da mãe repetiu a mesma coisa, nenhuma delas, nem eu, moramos lá embaixo, não caia uma bruta chuva, era uma coisa apenas que fazia a gente pensar em ficar sob os cobertores, pensei em abrir uma Serra Malte, acender o cachimbo diante daquele mantra logo cedo mas, tenho certeza que as três repetiriam juntas JÁ!? Passei em silêncio, a pequena foi aprender coisas novas, a mãe para o trabalho e a sogra dela para a ginástica, fiquei sozinho, a chuva se foi, ainda bem, não tenho guarda-chuva, estranho que essa palavra não foi alterada pela tal reforma, acontece que enquanto tomava uma ducha a chuva voltou com mais ímpeto, enquanto a  água escorria era possível imaginar as três repetindo a mesma ladainha, saí para o escritório me esgueirando entre pontas de telhado para não me molhar, jornal debaixo do braço enrolado num plástico, corri feito um paulistano quando avistei a condução, não me molhei, sobrou o jornal para uma leitura durante a viagem, os caras me mandam jornal numa promoção que eu nunca pago, eles me ligam, enviam boleto, depois me esquecem, por outro lado, deixam de mandar o jornal, que não é aquele jornal de quem tem cérebro é o concorrente, acho que por isso eles me mandam, só quem não tem um cérebro para assinar aquele jornal, não me sinto bem em não pagar por ele, tem uns profissionais lá, é como ter gato NET, mas eu não fui atrás deles, também não tenho gato NET, faz tempo que não vejo o Gato Félix, eles é que vieram me procurar, nem sempre concordo com o que eles escrevem por lá, penso que o jornal de quem tem cérebro anda melhor faz algum tempo, leio ele lá no escritório, sou pago para ler notícias envelhecidas, sempre foi assim, agora tá pior, de qualquer forma, é legal ler o jornal, tem uns cronistas bons e coisa e tal. Dentro da lotação as pessoas fecham os vidros com qualquer gota, achei um banco solitário, deixei uma fresta aberta para entrar algo para se respirar, rolaram umas gotas de chuva, nada demais, não sou feito de açúcar, às vezes me acho até amargo, a vida é bem doce e dizem que isso engorda, li um pouco do jornal, apenas a parte de esportes, agora anda tudo verde e amarelo, parece que desembarcaram uns brasileiros por aqui, uma febre dessas que a única vacina tem sido um gol francês ou holandês, o rei abdicou lá na Espanha, a nossa monarquia se traduz num certo Neymar, a gente é bem besta mesmo, acho que não temos lá um puta cérebro saca? Fechei o jornal, deixei para ler no trampo, com esse corredor tem hora que se anda, na hora de descer a chuva voltou, tinha uma loira na porta, as mulheres são bem legais mesmo, carregam sobrinhas nas bolsas, ela puxou a sua, era vermelha com o nome Kalvin Klein, descemos juntos, ela abriu o apetrecho, esperamos ao lado de uma pequena multidão o sinal dos pedestres abrir, fique no ponto na espera, tinha uma poça, o carro passou atirando água em todos, até mesmo na loira que quase caiu ao tentar se esquivar, o homenzinho ficou verde, coloquei o jornal na cabeça, a moça ia na minha frente, outro sinal fechado, paramos, fiquei um pouco atrás me protegendo numa cobertura, tinha uma poça, outro carro molhou a moça, ela balançou a cabeça de forma negativa, acho que ela devia ter sorrido apesar daquele pequeno infortúnio, repetimos uma cantilena de que precisamos de chuva.