sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Praça


Manejando uma agulha enrolada numa linha em instantes uma bolsa amarela, da mesma cor que o sol sorridente desenhado pela filha numa folha branca, algo repleto de harmonia que se completa quando trocam sorrisos com as obras finitas, uma no olho da outra, espelho de tempo, uma canção, um raio de sol sobre a árvore, sobre o banco da praça. A poesia passa por nós como o vento, alguns colhem versos, outros simplesmente trocam mensagens pelo telefone, anda tudo mecânico demais, é o progresso, a ordem mas, falta amor em diversos toques que são trocados com palavras abreviadas, numa nova forma de língua e a língua nem sempre saliva numa outra curtindo uma paixão pegada em dia luminoso. Um velho tênis pisando secas folhas, o som de quando estalam é um grande barato, “crocando” cada caminhar é bem isso, uma viagem em deixar nua a vida para poder observa-la de fora, analisa-la brincando numa balança, indo cada vez mais alto, a sensação de liberdade agarrado numa corrente para não cair, com certa idade as quedas são quase fatais, de qualquer forma enquanto se vive é errando que se aprende, nada está definido, nem existe verdade absoluta e blá blá blá blá. Cercada por prédios a praça tem o nome do avô de alguns amigos que não vejo faz tempo, ele morava numa casa que ainda existe, uma habitação mico leão dourado de tão rara por resistir aos especuladores desta época, tudo se verticaliza, gente sobre gente que nem se conhece e, se odeiam pelos ruídos que fazem, pelos bichos que pertencem, pelos times que torcem, por existirem sem trocar  um bom dia, boa tarde, boa noite e essas convenções que deveriam estar escritas nas atas de reunião de condomínio, multa para que não se cumprimentar e andar de cara amarrada, selada com cera lacrada inviolada. Verde grama onde não se deve pisar, placa que não evita os irmãos de um bate bola com a prole, os meninos felizes correm mais que a bola, os adultos buscam a cadência, o futebol não é mais de arte, o lance é velocidade, tática, o pequeno com drible curto é lixo diante do grandalhão desengonçado que devia ir jogar basquete para apanhar alguns rebotes, bora fazer trocadilho que o portão se aproxima, a saída que leva para a entrada da rua verbo divino, que verbo é esse se não todos? A alma encantadora das ruas com nomes de pessoas que não conhecemos, gosto das ruas sem nomes próprios tipo rua viola enluarada, primavera, gardênia e afins, então goteja em meu chapéu, espero que seja chuva e não cocô de pomba.