domingo, 29 de dezembro de 2013

cantinho

algumas flores
não são presentes para você
elas murcham
um vestido repleto de cores
semelhantes
as tais batas que uso sim
faz de teu sorriso
a constância dos dias plenos
vão dizer que foi feito
por tuas mãos
o tecido que cobre o meu peito
é coisa comum
tem gente que acha
que já nasci vestido assim
pertence a esta pele rota pelos anos
foi a coisa que me enrolaram nascido na pobreza
esse dia domingo
nada se deve lavar
nem quintal
nem azulejos
hoje é dia de sair no desbunde
abrir casa no 62
esculhambar Guimarães
rir da unanimidade
fechar geladeira
abrir
destilar outra saideira
passear por este labirinto
um carrossel Ariadne
manhã tarde
ao lado do filho de Menelau
essa relação com o fim
daquilo que vai virar outro dia
passa o calendário
novo primeiro janeiro
quase tudo igual
ficou o dia
uma mãe chega
outra reza
pelo fruto que será mordido
tivesse terra o quintal
o caroço do pêssego
daria árvore
uma sombra
um sol oblíquo










quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

acontece

É grande chavão eu sei, uma virgula para Luiza e bom dia ao marido dela, gente boa esse povo,  nada a ver com chaves essas pessoas amigas, o lance é essa coisa de que certo mesmo é a morte, a tal Mega da virada é sonho que nos faz falar impropérios para o locatário, parece que rimou  não era a intenção afinal, nada mais tosco do que essas riminhas funestas, tem um chegado que faz poesia toda repleta de rimas, ele sabe que acho um puta lixo aquilo. A tarde seguia tranquila sentada numa cadeira de praia com charuto na boca, nem sol, nem lua,queria ser só tarde bebericando uma Heineken, cheia de luxo talvez, alguns pensam que o precioso liquido se restringe em Brahmas e afins, ela em meio a correria do quintal estava de boa, esperando a hora passar, toca o telefone, ela atende, escuta a voz com calma, pede um instante, traga e solta a fumaça, bebe a gelada e solta a frase de que a pessoa não está, foi viajar e não sabe quando volta e talvez somente aquele que muita gente pensa que  exista saiba por onde ela anda, desliga, volta para o assento,puxa Lurdinha e pergunta quando morreu mesmo Irene? Lurdinha que tem esse nome por causa de Tenório Cavalcanti achou que a tarde estava cachaçada de cerveja, nada pior do que estar sóbrio e acharem que você já está jogé, a tarde olhou a menina tão linda ainda virgem e tosca por guardar aquela quentura para o casamento como se homem merecesse um bem assim, aflora moça, parte para o coito não seja coitada sem saber que a parada é botar o bloco na rua, puxou a pequena e disse que o telefonema era de Daléssio, convidando Irene para aquela batida de amendoim dos hereges, não disse que ela era apenas um nome em sua agenda, melhor ficar na ilusão de que ela volte para a farra no próximo ano. 
 

domingo, 22 de dezembro de 2013

candura


Tem gente que passa e você não vai rever, foi uma noite, um dia, pequenos instantes que se tornaram grandes. Essa coisa de ser única é que faz da vida esse algo mais, muita gente não percebe isso, só olha para o semelhante nesse meio fim de dezembro, perto do velhote chegar e o ano acabar, por entre os dias pouco aprende, tempo feito água vazando entre os dedos. O problema é esse achismo todo, a superficialidade, uma marca, um padrão sem compasso, dante disso, não brinda a lua tão pouco contempla o sol. Uma noite, sexta feira, gargalhadas,papos comedidos, a fatal confraternização que não sei se podemos denominar assim quando se trata de festa de fim de ano de empresa, a saída é uma boa dose de cicuta, quase tudo muito chato, bom é que você vai usar pela última no ano a máscara, depois a pele vai descansar tranquila para quem realmente te merece. Cabe sempre como dizia a mamma, seja na poesia, na crônica ou no dia a dia utilizar bem a íris, não desperdiçar nada, criar espaço nesse tabuleiro, nessa escapada entre os retalhos sentir brotar nova luz. Fernando se desvencilhou com habilidade, achou um canto bom para fumar o charuto, entre os excluídos pela lei o bom papo, uma gorjeta para o garçom, chopp na boa entre fumaças que ganham tempo em transformação. A bela Mariana puxou Alfredo para uma tragada, ele sentia a vontade de um charuto, não fuma cigarros, não portava nenhum vício que não fosse pela bela bionda naquela noite, entre um degrau e outro sentiu o aroma que chegava de lá, era uma senha da moça puxar pelo filtro, soltar o suspiro, na timidez que foi se perdendo Alfredo puxou com Fernando o charuto quase no fim, era aquela última bagana diante da lua, a conversa fluiu entre eles e outros que foram chegando, naquele espaço pequeno gente que não se conhecia se achou, o que era apenas a saída para observar melhor o que se passava se transformou num grande xeque-mate na hipocrisia, aos poucos foram ganhando a dispersão, cada um para o seu lado, tinha felicidade  na partida, também ficou esse sentimento pairando sobre a mesa, na expectativa do próximo movimento entre a candura de Alfredo e Mariana.    

domingo, 8 de dezembro de 2013

Numa conversa com Billi


rabisca, rabisca
queima a cuca
samba exaltação
quem era
quem sou
nesse império de divagações?
como sincopar?
é certo, bem certo
que não toco pandeiro
por isso
não vou compor nada
isso é claro como Inês é morta
quando escreve o primeiro verso
o compositor já tem um tan
aquela coisa que dizia Ismael Silva
bum bum bate bum bum
pro curundun
existe o poeta sambista
poeta fazer samba
é algo raro
coisa de outra linha
admite de pé
por dentro de joelhos
que podia fazer aquela letra
olha para o papel
tenta na esquerda
corta para a direita
acaba chutando o vazio
esse de lance de jogar
para divertir os outros
não é legal
sendo assim
me coloco na arquibancada
para aplaudir e chorar
a poesia do sambista



caetés,855

A ilha do pequeno Fidel se restringe aos 50m² de um apartamento, descendo pelo elevador já começa a ranger os dentes, abertas as grades ele coloca para fora toda aquela urina, rosna para a cadela de um morador que chega, o dono dele usa aqueles óculos de Gramisci, deve estudar  PUC, sendo aquele basset seu bicho de pelúcia, tem relações loucas essa gente com bichos né não? não tenho bicho e falo bicho prá chuchu, tinha um tempo que as meninas eram chuchu, péssimo isso, afinal se dizia daquela ali que ela dava mais que chuchu na cerca, chega de legumes sobretudo esse com gosto de nada e, nada pode ser copo por se encher, é do nada que se cria, podemos comparar o nada com o vazio? tem tanta coisa para acontecer que a gente nem sabe, se soubéssemos acho que jamais iríamos pedir a saideira por outro lado, coisa vai       vai chegar tão certa quanto a bica do Anderson Silva, a flor Day gera fruto que vai pintar depois que virarmos a folhinha para 2014, por essa razão o título, foi ali que ela consumou, não o filho mas o matrimônio, em Perdizes onde não tem perdiz, naquele bairro num sábado solar rolava uma felicidade comedida, a terra precisa de mães como Day, esse ambiente necessita de doçura e com certeza esse ser que vem por aí vai encher esse mundão de carinho.

domingo, 10 de novembro de 2013

Giba


O tempo fica nós não. Os ponteiros que não se gastam, uma engrenagem simples que não tem fim. No giro do relógio muita gente passa sem deixar vestígio, quando submersa a cidade o que os escafandristas vão encontrar entre os seus pertences serão contas vincendas e vencidas, nenhum retrato, a memória ficou guardada em objeto permeável, enquanto entrava de forma lenta a água, a agonia era se salvar, subir até o teto, tentar voar, asas porém eram o desespero e nada mais. Um menino jogava capoeira, olhava a fina densidade, além das lentes enxergava mar e Ana, era criança, mesmo assim tinha a boca seca por um cigarro, nada como ser criança, pés descalços impregnados de terra, repletos de vida e sabe de uma coisa prezado leitor me tem nos olhos? um grande barato o abraço sincero quando os corações se encontram, anda tudo tão superficial, não dá para saber se as palavras são verdadeiras ou sob efeito de algum emplasto, coisa que se usa para ficar esperto mas que não passa de grande tapeação manja? O branco papel aceita os seus traços só não admite virar bolinha, se não for coberto de palavras aceita virar aviãozinho para alegrar os pequenos. Certa vez, o menino fez o desenho de um malandro, linhas que o situavam por uma via, uma rua que passa por todos os becos do mundo, o instante do desenho finito tem a mesma contemplação de se terminar uma poesia, o que foi descrito às vezes é imaginário, o lance na folha, o figura de chapéu, foi o registro quando submersa a cidade de um dia repleto de sol.

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

ausência


cai a noite
um fado
teus olhos
chineses
na bela gargalhada
tempo que não volta
no giro da terra
ficando
ficando
sem trégua de nada
desce o dedo do rei
corte a cabeça
para que renasça
nos pântanos
um novo homem


domingo, 15 de setembro de 2013

asseptizado Maracanã


Foi numa manhã azul como esta, ele me puxou dizendo que iríamos até lá, foi a coisa mais linda que ele  disse em toda a minha vida e puxa faz tanto tempo, me recordo que foi o domingo mais longo da história, os ponteiros quase pararam, era uma lentidão que nem te conto. De repente disse vamo nessa? e fomos e, quando vejo o seu retrato na parede ainda me lembro daquele azul dia de descanso, ganhamos e ganhamos tantas vezes, até quando a gente não ganhava sair daquele templo fazia com que meditássemos sobre a derrota e puxa já era fim do fim e viria a segunda. Passa o tempo e leva gente que amamos e é tão difícil ficar embora, seja tão bom permanecer por aqui. Passava com ela segurando na minha mão, a casa em obras e ela pediu para entrar lá e fiz a promessa que assim que tudo estivesse no lugar ela poderia tocar na história de minha infância. Houve grande festa para o novo velho  e depois que tudo se aquietou fui pagar a promessa, então era hora de voltar e para lá fomos com nossas camisas que são a própria pele, subimos a rampa, entramos, ela se virou e me viu chorando, pensou que fosse pelo nosso pavilhão, nenhuma casa nova portará o sentimento de um antigo lar.

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Juízo final - 3

Os acordes distorcidos das guitarras, misturadas ao peso da bateria mais a voz da cantora, enchiam o ambiente de uma energia descomunal, puxava aquele papel repleto de tranqueiras jogando para o alto a fumaça, todos ao redor repetiam este movimento, espaço pequeno para fumantes, observava aqueles rostos novos, as embalagens diversas de um fumo bem funesto, nunca foi de tragar, sempre gostou de tabaco, sentia-se bem em morder o charuto enquanto fumava, misturava esse resto na boca com uma bebida forte, um uísque ou uma boa cachaça, era um mal necessário, apenas viajava. Quando saiu para o grande salão cabeças se agitavam, lembrou-se então de Anabel, do Morro Santo Antonio em Porto Alegre, das suas calças jeans sempre gastas, seus tênis, seu sorriso, ela que preparava o rango para todos, ela que fez tremer o mequetrefe, por onde andaria aquela mulher? Estranho como passa rápido o tempo, ele já não era mais o doido dos bótons coloridos que vendia pela rua, quase não tinha mais fígado embora, isso não tenha nada a ver agora entende? Ela era a gaúcha perfeita por não ser de lá, era do mundo assim como ele, viviam completamente fora de fuso, era o  momento de agir, lutar pelo voto mas, os dois e alguns estavam ali como que cravados na década de sessenta. Ele foi para lá depois que terminou o colegial, queria ir para o sul, depois para o norte, pegou um busão e se picou para começar nova história, os pais sempre o acharam um doido, raspou a grana da poupança, meteu a mochila nas costas, e sem olhar para trás beijou os velhos, o irmão, brincou com o cachorro e se foi. Ela se chamava Violeta, era de uma cidadezinha no Uruguai, acontece que o país vivia na corda bamba, não podia se expressar bem por lá, deseja estudar filosofia, os velhos decidiram bancar a sua vida no Rio Grande, adotou Anabel depois de comer um pão de mel desta marca. A grana aos poucos foi ficando mirrada, sabia mexer com artesanato, comprou algumas canetas e papéis coloridos começando uma variedade de desenhos de astros da música e da literatura, achou num canto um cara que vendia pequenas embalagens redondas transparentes, colava os desenhos ali e saia vendendo, a cidade propiciava uma boa cena cultural, passou a frequentar lugares de todo tipo, não vivia bem por outro lado, não tinha motivos para chorar, precisava se desligar da rotina da casa, tinha que se virar, assim começava sua juventude, não tardou em conhecer os doidos locais, ficava perambulando pela calçada do Opinião onde vendia com mais facilidade a arte que produzia, foi ali que conheceu Mercedez esposa de Farias, dona de um quartinho que acabou alugando para ele, nada luxuoso, mas com cama, um pequeno banheiro, fez amizade com Alberto que sempre andava chapado, qualidade que não deixava que se esquecesse de nada, foi justamente ele que numa noite de garoa, um frio que doía até os ossos o alçou para uma festa, ambiente quente, gente nova, traga apenas papel para uns desenhos disse o barbudo Alberto. Pé ante pé foram flanando pelas ruas até um casebre, habitação bem distinta das casas que conhecia até então.

sexta-feira, 7 de junho de 2013

Juízo final - 2

Um sorriso suave virou aquele canto de boca, colocou para fora os dentes dele, também aqueles que vieram depois, através do sindicato dos químicos, podia sorrir mas não podia comer sardinha ou tainha, algumas espinhas escapam pela dentadura, param no gogó e babau, por dentro sentia a felicidade de não ter um puto no bolso, apenas e apenas apenas, você deve achar estranho isso, acontece que não é, ele se lembrou da mãe de um amigo que andava pelas ruas corcunda, sinistra, parece que ela ficou assim quando um cara pegou ela de jeito sei lá, meio que de quatro, meteu as mãos no peito dela e puxou, ela já era peituda, tinha dois inclusive, naquela posição gozou firme, o cara morreu e por motivo de luto ela ficou assim, o tempo passa corcunda como ela, ficou velha, descia a ladeira ontem, parecia um corvo, toda preto, óculos escuros, vixi nossa ave maria!  Voltando ao lance dos dentes, ele queria deixar um de fora, queria tocar trompete como Chet, chiti, era isso a sua embocadura, ele não era muito fácil pode se dizer, quando entrou na condução passou sem olhar para a cara do trocador, depois viu que era o Adão, estudou com ele na quinta série do ginásio, o primeiro homem, depois do homem que botou ele naquela solidão é claro, foi da costela dele que ela chegou, foda com o perdão do termo é que não tem como engessar uma costela quando ela quebra, é preciso esperar até que ela se restaure por outro lado, como é bom comer uma costela, ele adorava isso embora, não pudesse morder a do porco, tinha aquela coisa que disse lá atrás dos mordedores fajutos. Grande Adão deve ter olhado para ele daquele jeito, o metido, essas coisas todas, ele contudo se redimiu, não queria morrer com o fulano, o primeiro de todos sentindo qualquer raiva dele, foi até lá com a desculpa que precisava trocar uma note de vinte, disse olá para o cara que trocou a cédula e sorriu, assim nos redimimos de todos os maus de uma forma ou de outra. Ele voltava de uma noitada na Augusta, tinha saído para caminhar depois que a filha ligou dizendo que estava grávida, ela tinha que dar e acabou dando para um desses caras que ele não daria se fosse ela e, como não era teve que engolir, linda era ela, é, sempre será. Uma banda ia tocar naquela rua, ele óbvio não era mais jovem mas, ainda tinha lenha para queimar, gostava de coisas atuais, foi para a estrada com aquela notícia ecoando na cabeça, depois de uma Stella ficou de boa como dizia a rapaziada, foi descendo tranqüilo, parou para comprar um charuto, acendeu ali mesmo, continuou até o beco, passou por ele, sofreu a revista, pegou a comanda, entrou na fita e escutou Jeniffer Lo. Ela cantava de forma estridente, os instrumentos enlouqueciam o público, ele era o rosto na multidão, se sentiu um imbecil por ter pego apenas um charuto, foi ao bar pegar uma Seleta, trombou uns caras, pediu um cigarro, foi para o aquário dar umas baforadas.  

sexta-feira, 31 de maio de 2013

Juizo final - 1

Nu, percorrendo pequeno espaço. Aquela casa. Na memória o mamilo na boca. O tempo se diluindo na fina areia da ampulheta, pode se inverter o objeto, mas é impossível recuperar o segundo que passou. Aquele negro lindo fazia tudo se transformar nesse limite do nada, quando de suas mãos arremessava a bola laranja, era o instante mágico, a viagem até o chuá, a linha tenue clara feito o sorriso da criança. Passava pela cabeça um dia sem nada. O vazio da existência era o furo por onde saia toda a sua devassidão. Estreito corpo de homem comum, cidadão acima de qualquer suspeita, um biltre, a pessoa que fez alterar o rumo de vidas, o cara que deixou para trás gente de todos os credos, ele que não tinha religião nenhuma, que sempre teve como pátria a nação dos expatriados. Era necessário ter morrido primeiro, a cada féretro a morte lenta no descer da madeira para o lixo da incompreensão. As cinzas tantas vezes atiradas ao mar, certa vez colocou os restos do irmão numa garrafa de cachaça e lançou pelas águas salgadas onde ele jamais velejou, o caminho até o infinito onde poderia encontrar os orixás, onde poderia ser feliz pelo menos uma vez, se é que existe felicidade em saber que as coisas que se ama ficam por aqui, se é que possível ter a exata medida de que algum canalha vai trepar com a pessoa com que se dormiu por anos, que se amou e ama mesmo confinado numa garrafa ou num retrato guardado dentro de um álbum no armário. Descalços pés, frio chão, cidade que não para nem mesmo quando se grita no meio da tarde. Antes de qualquer estado como este, ele já esteve entre as cabeças nem tanto privilegiadas mas, de grandes cabeças e enfiava até a o talo para que o vissem, hoje, no silêncio ele não consegue fugir de si mesmo, não era possível escapar do remédio para a pressão, nem para o ácido úrico tão pouco de nosso senhor de porra nenhuma. Pensava em todos e sorria com o canto da boca.  

quarta-feira, 29 de maio de 2013

Domingo

Xis por cento dos assassinatos em São Paulo ocorrem por motivos fúteis, estava na capa do UOL ontem, é como se as pessoas matassem por um Danone, um benzinho tão raro tem o mesmo valor de um iogurte, mas morando em São Paulo você sabe como é? logo pela manhã já rola certo motivo para briga, quase todos os dias surgem cenas bem bizarras de incompreensão, algo que os homens da lei chamam de desinteligência. Não li a matéria do site, preciso confessar que não tenho paciência para números. Reunir gente diversa nestes dias atuais á fator de grande risco, não dá para controlar, acontece que nem por isso devemos evitar realizar o encontro entre as pessoas. Veja o que ocorre todo ultimo domingo de cada mês no campo do Mocidade lá na Vila Antonio no fim/começo do Rio Pequeno, você já foi até lá? Não? Convido você para ir mesmo sem saber o endereço, o campo fica atrás do Hospital e Maternidade Sarah, abro parênteses para falar deste canto da saúde pública, certa vez precisei ir até lá, prédio térreo, carcomido pelo tempo, enquanto esperava a poeira baixar, passeava pelo lado externo e, lá estava a placa GOVERNO DEMOCRÁTICO E POPULAR DE SÃO PALO, bateu saudade daquela nordestina baixinha e arretada, que detonou os alicerces conservadores desta terrinha cinza, fecho parênteses, eles promovem um samba com macarrão, a confusa mistura já é capaz de deixar qualquer apreciador do batuque curioso, antes do samba propriamente tocado, cantado, dito, tem um figura tocando coisas bem bacanas, que oscilam entre o clássico e o popularesco da musica brasileira, do soul, a cada suingue a turma chegando, garrafas ganhando ares, crianças correndo, mulheres sorrindo, um domingo sem parque, o cara que fica no bar é típico cara que atende o balcão, não esboça um sorriso, se você pede copo de vidro ele olha para a tua cara como se mãe tivesse sido ofendida, percebe que não teve nada disso e traz o copo, sem se quer dobrar o lábio, não quer carinho, o afago é aquela turba que se concentra diante de seus olhos, existem seres assim, que gostam de ver a casa cheia. Observando do lado de fora tanta felicidade algum vizinho deve pensar em trucidar um por um, acontece que diante da beleza que se sente, o que corre nas veias é apenas a certeza de que vida passa, que é apenas domingo, que ali o fantástico é que até samba ruim fica bom cantado pelas almas no MOCIDADE.

quarta-feira, 15 de maio de 2013

A juventude do dragão

Outro dia caminhava pelas ruas do centro de São Paulo, estava em pleno trabalho mas, ao mesmo tempo batia perna como se fosse uma manhã de sábado, procurava alguma birosca com preço em conta para reproduzir o meu livro, por ali sempre se encontra coisas com preços diferenciados, por se tratar de uma publicação artesanal o custo não podia ultrapassar algumas cervejas de fim de semana. Enquanto caminhava me lembrava de quando dividia com o meu irmão as despesas da casa, entre todas as coisas mensais, separávamos algum para as biritas, cinema, livros e discos, claro que sem sempre cumpríamos a meta de adequar novas aquisições ao nosso orçamento sempre apertado, coisa que não mudou até hoje, pelo menos o meu não mudou muito. Perambulando por aquelas galerias fui mergulhando na velha nostalgia de quem escreve e bola certas aventuras do nada, fui compondo histórias dos cinemas desativados, o velho tênis deslizando pela Galeria do Rock que exigia certa atenção tempos atrás pela presença de “tribos” distintas, o lugar hoje é mais para inglês ver embora, ainda possa se encontrar trabalhos raros, até comprei um CD do Premiata Forneria Marconi nessa andança. A modernidade deixou tudo isso muito mais fácil, um amigo do meu sobrinho simplesmente disse certa vez a “tio vamos colocar todos esses seus CDs num arquivo e podemos escutar numa boa, você vai ganhar espaço”, olhei para ele e marquei um dia para bebermos um Jack e nos chafurdarmos em tal tarefa, depois que ele se foi aquela frase ficou na cabeça, puxa, quanto tem em cada um desses objetos de nossos piores e melhores dias? tudo simplesmente zipado, uma comida de avião. Esses moços, pobres moços nem trocam mais olhares com as moças, levam uma vida sem flerte, às vezes até mesmo com as próprias expectativas do hoje e amanhã.   Do flerte para a descoberta, procurar uma coisa e encontrar outra, achar no que não é legal algo positivo, esse lance do eterno aprendizado. Não achei nada que prestasse para a impressão do livro, parei num canto, rabisquei poemas num guardanapo, um chá gelado, depois a tradicional Serra Malte, Praça Dom José Gaspar, banca de jornal, um charuto vagabundo numa mesa colocada fora do bar, na banca cubanos com preços em conta que cabiam no orçamento dos tragos de fim de semana, solto dentro de uma caixa um livro de capa vermelha, o perfil de um gênio, é do acaso que se compõe isso aqui, dos passos para se achar, dos passos para tentar ser, por uma bagatela mais barata que a cerveja comprei a narrativa da juventude de Glauber Rocha, entre pombos, fumaças para incensar o espaço do velho arcebispo deslizei por 200 páginas como se fosse a talagada de uma bela cachaça. Se não encontrei naquele dia o que queria pelo menos conheci a hsitória de alguém tão obstinado quanto eu. 
A primavera do dragão – a juventude de Glauber Rocha (361 pags)
Nelson Motta
Editora Objetiva  

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Com a morte na alma

Outro dia uma amiga faleceu depois de ter lutado bravamente contra a morte, foi uma batalha imensa a dela, pena não ter conseguido vencer, a vida é única, claro, oficorsi.  Hoje acordei mais cedo que de costume, na verdade, o sono veio mais em função das biritas e, ao despertar puxei um papel para escrever uma crônica qualquer, essa coisa do livro tem me tirado o sono, essa tal ansiedade saca?  Acabei nem escrevendo nada, fui lavar umas louças da bagunça do final de semana, acho legal ficar de boa tirando a sujeira das coisas, certa vez escrevi que deveríamos limpar tudo sabe? Foi numa época em que falei sobre os dentes, o lance de ir ao dentista, foi um texto bacana, vou colocá-lo aqui qualquer hora para você ler, então o que tem a ver tudo isso com título aí em cima? Sei lá não sei como diz o samba, acontecem algumas coisas entende? Ontem amigo veio me visitar mas, antes de falar dele preciso confessar que peguei este título emprestado do Sartre, é um bom livro esse, o francês era porreta, um romance dele chamado A náusea é bem isso mesmo, teve um tempo que eu lia muito Sartre, depois fui ler Camus, tenho esse apetite por esses escritores que provocam manja? Então, como dizia ontem um amigo veio me ver, trouxe umas cervejas legais, ficamos de papo até que ele veio me falar de religião, assunto chato, durante o final de semana rolou no meio da festa da bambina algumas perguntas sobre deus, nada muito sério, o tema entrou em pauta por causa de um poema do Fernando Pessoa inclusive,  o que penso a respeito disso não importa, então esse meu amigo começou a falar sem parar, prezado leitor chapa meu, fui ficando irritado com a direção que a prosa estava tomando, tentei mudar de assunto e nada, não tinha como o cara sair disso, de um tempo para cá tenho notado que assim como aumenta leitoras dos tais cinquenta tons também tem crescido o numero de gente amiga correndo para os templos, igrejas e  afins, nada contra, o problema é que simplesmente vão deixando de viver, não podem sair em determinado dia pois é o dia de cumprir a obrigação, no caso  deste meu amigo tenho cá para mim que ele anda com a morte na alma, disse entre tantas coisas que ele sempre estava acompanhado de um monte de gente, com aquele ar de sarro que me é peculiar perguntei onde estão? e ele me respondeu que tinham ficado lá fora, puxa, tantos espíritos passeando por aí falei para ele, foi aí que o cara se transformou, quebrou copo, xingou, brigou, destruiu meu chapéu e incrédulo fiquei me indagando onde foi que ensinaram para ele que o simples fato de você não exercer crença nenhuma te coloca em desvantagem, além de que cazzo de religião é essa que prega a desarmonia? gente que vai morrendo aos poucos atrelado a um fanatismo qualquer, quando ele
 quando ele foi embora comecei a  juntar os cacos que ele deixou, pensei na vida que ele tinha e na que a minha amiga  queria ter, com todas  as coisas numa pá, entendi sem querer que até mesmo a nossa amizade longa de irmãos estava indo para o lixo.

sábado, 23 de fevereiro de 2013

Não vi a Nenê sair


 
 

Tendo mesa, cadeiras, guarda sol que na verdade, não guarda, previne, bem legal essa palavra guarda, guardar é olhar, um estar atento para os italianos, pode ser que ele olhe para o céu para nos proteger enfim, com esses apetrechos sobre a areia, uma birosca para bebes, comes, duchas, xixis, zins, plas, é só olhar o mar e ficar de boa. Gosto dessa situação de estar fitando as cenas manja?
 


A criança, por outro lado, quer é ficar na água, nem sai do colo de Janaína e já quer voltar, democrático espaço, quase todos os pudores comuns no dia a dia ficam pela estrada, é bom assim, a moça gorda recheando um pequeno biquíni, não está nem aí para a outra bem torneada, quem se importa com as celulite? Mundo sem chatice e, para que não fique triste Dona Conceição, tem aqueles homens barrigudos como o poeta, outros nem tanto, alguns assustadores, as sunguinhas verde limão, a propaganda do Coppertone, o cachorro puxando o biquíni da menina, a brisa de protetores de sol, algumas figuras se besuntam tanto que se transfiguram em Branca de Neve das dunas. A bela Natália sorriu tão branco, ofuscou olhares, serviu o peixe, salivou a boca, a bagaça fervia, derretia, desmilinguido no suor da tarde.




Sábado de carnaval




Acordei com uma canção de Vadico e Noel na cabeça

Manhã em silêncio

O som dos sonos

Quantos sonhos por aquelas cucas

Confortavam o travesseiro?

O rei caído no tabuleiro

As latas vazias

Velas apagadas

Penas de pássaros pela grama

Pés descalços

Sem TV, rádio, internet

A vida assim

Tem aroma do passado

Sou apegado

Aos cheiros da nostalgia

Gosto tanto de tempero

Que nem preciso de sal

Do outro lado o mar verde

A cor e a o som

As ondas curtas e médias

Convidando para um novo trago

Sobre as suas águas

Brilhava um sol preguiçoso

Que ainda estava por arder

Bom estar largado

Sem obrigações

Os chinelos

Num salto estão nos pés

Passeando pelas ruas de terra

Com a boca assoviando

Feitiço da Vila


sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Obtuso


Obtuso

Fui até a Secretaria para apanhar o dicionário, a mocinha olhou meio incrédula, sempre que me pergunta alguma coisa respondo e preciso consultar um alfarrábio desses? Tem gente que me acha e nem sabe que às vezes me perco, sei que você aí lendo está pensando que quase sempre estou perdido, va bene cosí. Existem palavras que queremos usar e simplesmente não cabem, não dão o sentido, coisa bonita como alhures por exemplo, uma vez queria elogiar alguém e usei a cor púrpura para denominar a pessoa, que bola fora, um amigo apaixonado sem saber niente de flores deu para a amada crisântemos, o amor não foi para a vala claro, dura até hoje, ele simplesmente desistiu de dar flores para ela, coisas da vida né não? Nessa manhã cinza de São Paulo fui para uma sessão pública, bonito isso SESSÃO PÚBLICA, rolam tantas coisas públicas por estas bandas que o povão mesmo nem manja nada, coisa quer essa gente? Acho que o lance de muitos é OIOIO Carminha e danças funestas e quebra a banguela e vamo que vamo, ninguém segura esse país! Durante o trâmite burocrático numa sala da Rua Boa Vista Centro São Paulo, um cara descobriu que o outro era argentino, foi como se soubesse que este pertenceu a squadra de Hitler, uma chateação daquelas, brasileiro é chato e repare nem galocha usa mais, não tem aquela expressão chato de galocha? Pois é? Essa maldita opinião de Galvão Bueno que fala dos argentinos como se tudo se resumisse a uma mísera partida de futebol, não cabe entrar no mérito embora, isto aqui não passe de uma pátria de chuteiras, se a coisa degringolar é bem provável que a Dilma monte uma equipe com Marta e tudo para uma partida na Granja do Torto, é lá que habita a formosa dama? O campinho de lá não sabe o que é uma bola redonda, vamos torcer para que as coisas continuem assim, com esses números e esse grande economês. Já foi para Buenos Aires meu caro? Eu ainda não mas, enviei alguns chegados para sentir o território, voltaram de lá felizes, cheios de elogios, puxa que bom, destravei meu crédito naquelas coisas de SERASA/SPC e comprei um pacote para dar uma passeada por lá, não disse isso para o distinto cavalheiro claro, quase perguntei para ele se já foi até lá alguma vez, fiquei na encolha, quieto, encolha e quieto devem ter o mesmo sentido enfim já foi, a máquina de escrever está sem corretor, o chefe da redação precisa disto para compor o “pestape”, não tem propaganda para o lugar, faltam poucas linhas, tudo beleza, voltando ao indivíduo trancado em sua vida de arquivo, deve chamar a família como se fossem pastas suspensas, está gordo, sem pescoço, barba feita é verdade, neste quesito está melhor que eu, só que não tenho o contracheque dele, essa palavra escrevo assim ou separado? Por se tratar de uma recompensa pelo suor derramado deveria ser tudo junto, no meu caso é tão mirrado que deveria ser apenas contra mesmo, aquela contrinha de esquina com muita gordura no meio da carne. Coloquei um ponto aí, a crônica estava ficando frenética demais, entre tantas vírgulas e ausências dela, bem, onde estava mesmo? Quando a idade chega é assim, a gente começa a se esquecer disso ou daquilo, retomando, concluída a reunião, Ata assinada, o cara disse mais uma coisa para o argentino praticamente esmurrado nas cordas, faltava um direto no queixo e pronto, um brasileiro feliz afinal, nada melhor do que ganhar de um argentino certo? Disse ao brasileiro que o pior de tudo estava por vir, Argentina três Brasil zero, na final da próxima Copa, olhou com o mesmo olhar que a mocinha linhas acima, apertei a mão do figura, como dizem os jovens atualmente, pés na rua, partiu. Aquele termo que me fez recorrer ao bom e velho Aurélio é obtuso, como tem gente assim neste país.