sexta-feira, 7 de junho de 2013

Juízo final - 2

Um sorriso suave virou aquele canto de boca, colocou para fora os dentes dele, também aqueles que vieram depois, através do sindicato dos químicos, podia sorrir mas não podia comer sardinha ou tainha, algumas espinhas escapam pela dentadura, param no gogó e babau, por dentro sentia a felicidade de não ter um puto no bolso, apenas e apenas apenas, você deve achar estranho isso, acontece que não é, ele se lembrou da mãe de um amigo que andava pelas ruas corcunda, sinistra, parece que ela ficou assim quando um cara pegou ela de jeito sei lá, meio que de quatro, meteu as mãos no peito dela e puxou, ela já era peituda, tinha dois inclusive, naquela posição gozou firme, o cara morreu e por motivo de luto ela ficou assim, o tempo passa corcunda como ela, ficou velha, descia a ladeira ontem, parecia um corvo, toda preto, óculos escuros, vixi nossa ave maria!  Voltando ao lance dos dentes, ele queria deixar um de fora, queria tocar trompete como Chet, chiti, era isso a sua embocadura, ele não era muito fácil pode se dizer, quando entrou na condução passou sem olhar para a cara do trocador, depois viu que era o Adão, estudou com ele na quinta série do ginásio, o primeiro homem, depois do homem que botou ele naquela solidão é claro, foi da costela dele que ela chegou, foda com o perdão do termo é que não tem como engessar uma costela quando ela quebra, é preciso esperar até que ela se restaure por outro lado, como é bom comer uma costela, ele adorava isso embora, não pudesse morder a do porco, tinha aquela coisa que disse lá atrás dos mordedores fajutos. Grande Adão deve ter olhado para ele daquele jeito, o metido, essas coisas todas, ele contudo se redimiu, não queria morrer com o fulano, o primeiro de todos sentindo qualquer raiva dele, foi até lá com a desculpa que precisava trocar uma note de vinte, disse olá para o cara que trocou a cédula e sorriu, assim nos redimimos de todos os maus de uma forma ou de outra. Ele voltava de uma noitada na Augusta, tinha saído para caminhar depois que a filha ligou dizendo que estava grávida, ela tinha que dar e acabou dando para um desses caras que ele não daria se fosse ela e, como não era teve que engolir, linda era ela, é, sempre será. Uma banda ia tocar naquela rua, ele óbvio não era mais jovem mas, ainda tinha lenha para queimar, gostava de coisas atuais, foi para a estrada com aquela notícia ecoando na cabeça, depois de uma Stella ficou de boa como dizia a rapaziada, foi descendo tranqüilo, parou para comprar um charuto, acendeu ali mesmo, continuou até o beco, passou por ele, sofreu a revista, pegou a comanda, entrou na fita e escutou Jeniffer Lo. Ela cantava de forma estridente, os instrumentos enlouqueciam o público, ele era o rosto na multidão, se sentiu um imbecil por ter pego apenas um charuto, foi ao bar pegar uma Seleta, trombou uns caras, pediu um cigarro, foi para o aquário dar umas baforadas.  

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