sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Meu caro Vinicius


Não sei se já te falei sobre isso, é provável que sim, bebemos muito e isso faz bem embora, digam que não, bom é quando faz mal né não? Na verdade estamos forrados de restrições, pessoas que nem conseguem rolar de tão chatas que são, mundinho vagabundo repleto de pesquisas e coisas que não são mil este em que vivemos. Ontem assistia um documentário sobre o Paulo Francis e acho que tanto ele quanto o Nelson Rodrigues são os caras que mais fazem falta nesse país, não que sejam santos nada disso, faltam muitos outros é claro, acontece, que os dois eram contraponto, cutucavam, não aceitavam as coisas como elas apareciam diante deles, falta gente que diga o que pensa sem frescura, que faça a gente rir e pensar e discutir e viver e aparecer na grande roda viva. A menina oxente cabra da peste reclama do Bolsa Família, Seca e o cassete,   das regalias que os tais programas propiciam, mas estuda numa faculdade pelo simples fato de existir o PRO UNI, saca isso? Tá se criando uma onda nessa porra de que o canudo é tudo, pegam o objeto fálico e não possuem conteúdo nenhum, não sabem dialogar, não transam idéias, usam um cabresto que nem te conto, outro dia menina disse (quarto ano de faculdade) “abrido a caixa”, o lance é que tem o fonema, periga a caixa dela ser com “ch”, cara, ando de saco cheio de acadêmicos. Não precisa de Francis ou Nelson, sei muito bem disso, o povo desta cidade a pior da América do Sul prezado Caetano se acha o máximo, vota no Tirrica que apóia a Dilma, povo que protesta votando no Telhada que nunca forrou de pau ninguém, é quase uma Madre Teresa o nobre senhor. O lance meu querido Vinicius é que pode ficar com o chapéu, você dignificou o domingo quando o colocou em sua cabeça, a menininha achava que aquilo era enfeite, não sabe de Anarquismo nada, pouca gente sabe no entanto, contudo e coisa & tal, belas figuras você me apresentou, fiquei de fazer um poema como regalo mas, ficou parte de meus dias entre os seus pertences, ontem depois do Caro Francis e hoje depois das reclamações sobre o que se estende aos necessitados “vagabundos,” me lembrei dos seus, do Vitor e de Bia Moura que são figuras jovens que tem pontos de vista suficientes para que esta cidade não se funde  ainda mais na mediocridade, parabéns e muita poesia e música e tragos por muitos e muitos anos. Não acho tão diferente o PT do PSDB, o lance maior desta babaquice eleitoreira é que os dois foram separados na maternidade, vai ser a primeira novela bomba não ficção que a GLOBO vai exibir depois desta das dez que passa por lá, espero não façam uma novela repleta de falso moralismo.   

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

madrugada na Lapa



Caminhando vem Zé, desliza pela noite, alguns buscam o seu olhar coberto pelo chapéu, se quer para o bem santo, se não quer te-lo assim é de cada um, segue o seu caminho de luz. Ela está pronta, nem tanto, quer uma química vida, batem na porta, sai para o palco. Um bonde passa, atravessa o tempo carregado de "gentes" boas e ruis, todo dia a sina de que a poesia ficou vazia, se transa apenas para manter o pacto, a porra da obrigatoriedade fisiológica,  era tão lindo quando tinha aquela carícia, de repente nem foi o tempo que encheu a relação de calos, o mar cheira tão bem quando sol aquece o Japão mas, as cartas ficaram finitas, são pedaços de papel se amarelando numa caixa da memória, a cabeça não lateja de dor, não se tem para onde sair, parece que é uma espécie de gambito do rei. A vida prossegue. O bonde passou. A falação na calçada, um cigarro pode ser  o tempo suficiente para quem trata a essência como um fino tabaco, dura o tempo cardeal de pensar o passo seguinte, quanta paz,amor,dor, esperança sob a aba que ele ajeita. Silêncio, a casa vazia, a arrumação cotidiana, o odor das sobras, cinzeiros repletos de pessoas. Ela coloca o casaco sem precisão pela ausência do frio, era apenas tirar o pó de arroz e tudo bem. Ele pisa na ponta do que fumava para quem nenhum outro trague o seu resto, atravessa soltando a fumaça ou parte do que restava dentro de si. Ela recebe os trocados pela MEAN TO ME, procura auxílio, lhe estendem algo num copo descartável, "escoti" paraguaio que deixa sobre o balcão, soltando um sorriso breve, sobrancelhas em agradecimento apenas. Porta berta, quer um chofer, uma via para sair do lugar, da solidão, pela bolsa busca um alívio, a cura momentânea, pesado casaco, as coisas caem no chão, pensa em chutar tudo, antes desse ato, ele se ajoelha, recolhe o estojo e o batom, ela fita os seus que lhe estende os braços para uma caminhada por São Sebastião do Rio de Janeiro.

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

luiza


Dourado dia, a roseira cortada no início do inverno em tão pouco tempo já dá sinais de vida, deve sentir que em breve chega a primavera que vai ter o seu apogeu no verão como prega a canção. Azul o céu, nada de chuva, algum pecado andou fazendo São Paulo para que Pedro não molhe os seus pés, terá que cumprir a penitência de se arrastar de joelhos orando por seus filhos. Seguimos em frente até mesmo quando estamos descendo a ladeira, tem um cara que passa pela rua que sempre me estende a mão, a esmola é apenas um encontro das faces que carregam nossas linhas do tempo, não sei de onde vem, o que faz ou quem é, acho que deve me conhece desde menino, tem gente que não lhe estica o braço, fito o figura até que ele se perca numa outra rua, caminha suave, segue como uma cartilha, a primeira que estudei, é assim que é sabia? O começo gera certa euforia, depois se questiona, viver é um lance que vale muito. Tem uma coisa que outro dia passou mas não ficou batida, teve eco na memória,acontece que não ganhou papel, tinha sempre uma palavra que faltava nesses dias velozes, já começa agosto, que porre sem diversão, bom quando bebemos e fazemos festa, preciso te dizer uma coisa, só aqui entre nós, comecei a reler algumas crônicas para um livro que penso em lançar e, entre uma e outra sempre rola alguma frase sobre um trago qualquer, vou precisar lançar a segunda cartada ébria, não sei se isso vai me levar ao resgate de um tempo que óbvio não vai voltar, época daquela birosca na esquina, lugar que costumava chamar de canto de sonhos, por ali muito amor/dor, sentimentos tão próximos né não? Foi numa noite Leminskiana que o cabra tomou coragem, se aprochegou da moça lhe oferecendo um beijo, era a cachaça mas também a vontade, no fundo era um elixir para ajudar na pegada, ela sorriu, se esquivou, não foi movimento de boxeador embora, estivesse presa nas cordas, aos poucos com toda a didática que lhe é peculiar saiu do embaraço, não de todo felizmente, era coisa feita que se achassem pelo caminho e dali para os beijos foi um pulinho, parece que foi ontem aquela noite, logo logo comemoram bodas de algum objeto espero que tenha festa, quando abrem a casa fazem petiscos ótimos, coisa fina. Hoje pensei neles, liguei para a moça ela não me atendeu, liguei para o cara idem, parei de discar, andam chateados pela perda da cachorrinha que tinham acabado de adquirir, se para muitos janeiro é hora de repaginar, se para outros o regime começa na segunda, agosto para eles é hora de recomeçar, bola prá frente ragazzi, vai que na primavera ela reaparece.

segunda-feira, 28 de julho de 2014

Rio Pequeno - Além dos muros



Virou notícia  pelo fato de um motorista ter perdido o controle do veículo entrando num bar de madrugada meses atrás, alguns feridos e mortos, as imagens foram repetidas durante uma segunda feira que se foi, após pequena reforma o bar reabriu, no ir e vir constante o ocorrido foi sendo esquecido. Sábado neste mesmo bar foi exibido o filme título deste relato, antes de falar do filme em si, preciso falar sobre o local que se chama Laranjinha, ali as pessoas se reúnem para beber, comer e cantar, sobretudo cantar, não sou habitue do lugar, a minha voz é um horror, já pensei algumas vezes em levar a pequena máquina para gravar um vídeo sobre o movimento de lá, paro por ali de tarde em geral para pegar uma lata de cerveja escura, acendo o meu charuto e me  mando, gosto de passear pela orla deste grande igarapé. Era fria a noite, busquei pessoas para me acompanhar, todos estavam em suas cascas, se transformam em caramujos quando a temperatura despenca, sem crise, pés na calçada, primeiro a tabacaria, depois um café, por fim a exibição da tão aguarda película. O que fascina no ambiente do Laranjinha é que ninguém te olha com estranhamento por vê-lo chegar pela primeira vez no lugar, fiquei na calçada fitando as pessoas, tragando pensamentos, escutando as canções não que não seguiam um roteiro, depois de um Exaltação, Cássia Eller e por aí vai, é um esquema profissional, um projetor exibe para a platéia a letra, quem está cantando tem um monitor menor na frente, é legal para evitar que aquele que está ao microfone não fique de costas para o seu público. Não demorou para começar a desenrolar conversas com as pessoas na calçada, chegou Martinho um senhor que conheci num sarau no bar do Lula em 2012, foi um dos entrevistados, estava eufórico, ficou ainda mais quando lhe ofereci um charuto que estava fumando, disse que fazia um bom tempo que não fumava um daqueles, o inverno se derreteu pelas mesas vermelhas dispostas no concreto, a figura do cartunista Laerte também estava por ali, cara de grande coragem ele, a transformação que empregou me levou numa brincadeira a tirar o meu chapéu para ele, bom assim, gente que saca quando utilizamos humor para tratar assuntos sérios, uma estudante alemã que pretende em seu TCC realizar um vídeo sobre o Vila Dalva, Rinaldo e esposa, moradores da Vila Dalva com quem Katia ( a alemã) já começou a pincelar os passos futuros. Grande lance estar por ali, tem um tempo que ao lado do Jura, e do Mario Rolim, trabalho num livro sobre a história do bairro. Chegou Olivia e marido, terão uma criança logo logo, na verdade um segundo filho depois de terem idealizado o  curta que foi exibido. Após algumas tentativas, finalmente o vídeo é colocado na tela, o áudio das vozes que cantavam dá lugar aos relatos, a imagem do ônibus passando pela avenida, o tempo das senhoras narrando as peripécias de pagar bambus na área dos Matarazzo, o silêncio, os olhos atentos na imagem, como se todos assistissem pela primeira vez acendimento de uma lâmpada, ao final algumas palmas, os copos voltaram tilintar, a musica voltou, as risadas na calçada, dentro das pessoas um certo orgulho digamos assim, grande barato com certeza. Parabéns aos pais da ideia que foi colocada em prática através do FOMENTO CINEMA da Prefeitura do Município de São Paulo em 2013. Provavelmente seja o primeiro vídeo que relate parte da história do Rio Pequeno, existem várias versões para o surgimento do nome do bairro, quanto mais elementos melhor, temos uma origem após as entrevistas que realizamos, apesar de ter gostado muito, acho que faltou focar melhor nos contrastes que os entrevistados falam, em ser um bairro que agrega diversas camadas sociais, imagens da Avenida do Rio Pequeno, o movimento dos veículos e das pessoas, claro que a utilização de imagens é um problema mas, num plano geral não tem problema, a ocupação do bairro não se deve apenas ao fator USP, ocorreu muito em função dos lotes terem sido colocados  a venda entre as décadas de 60 e 70 por preços bem em conta, em parcelas que permitiam a construção da moradia e o pagamento da prestação. Acho o titulo além dos muros perfeito ao focar a Favela São Remo ao final da fita, é no Rio Pequeno que grande parte das crianças estudam, o comércio principalmente alguns supermercados são usados pelos moradores de lá, a apresentação da figura da Eva, tem hora que é como se a Corifeu não separasse as duas realidades. Bela noite de sábado, quando saí do Laranjinha já sentia os tons do domingo, a garoa cobrindo as lentes de meus óculos, a caminhada para casa, a fumaça do último charuto se perdendo pelos ares da vida. 

quinta-feira, 10 de julho de 2014

Viva o Jaburu

Toda a cordialidade do povo nas ruas, foi concedida aos craques alemães com a bela camisa vermelha e preta, em minutos com algumas bolas no barbante fulminaram a febre amarela. Sai para caminhar na manhã seguinte, tinham uns caras em pequenas rodas, balbuciavam apenas, dava a impressão que falavam da morte do irmão Dagobé, era temido, da forma com que se comunicavam dava a impressão que o defunto poderia voltar das profundezas da incandescência para matar um a um, fosse esse o placar e até que seria legal. A cabeça minha não estava na tragédia e, sim no amor, na alegria, a noite passou azul embora com algumas gotas de chuva, deu para sentir Ana a mãe passando por entre nós com seu lenço sobre os cabelos, ela se foi faz um tempo, quando pinta julho penso no bolo que era queria fazer para a minha festa lá pelos anos noventa e pouco, Ana a filha é meu amor único que não entende motivo para tanta festa, se a uva passa imagina a vida, não sei se coloco interrogação ou exclamação, um ponto e a vida segue num fio de Ariadne que acha dormir cedo um saco, gosta de acordar tarde, ela ontem não queria se recolher, acha lindo o Jaburu, tem gente que vem e fica até mesmo quando vai embora, a festa de meu amigo terminou lá em casa, existe um privilégio em viver, que as portas estão sempre abertas, quando criança era assim, não tinha barreira para frequentar as casas, jogávamos botão na mesa de comer, as coisas mudaram bastante, Luíza acha que devo colocar um ponto, pronto. Posso continuar na mesma linha professora? Caminhando, chapéu na cabeça, camisa vermelha, estampa Ganesha, já está bem rota ela, dentro de pouco tempo vai se transformar em cinzas, roupas minhas não viram pano de chão, são queimadas como será o meu corpo, a vida sem limites, aliás, poucos assistiram Limite de Mário Peixoto, grande filme brasileiro, único do diretor, uma obra prima. Voltando do ponto de ter saído, estava cinza o dia, uma crônica na cabeça, alguns versos, entrei na padaria, a sede era de cerveja, pedi um café, muito café, pouco leite, pão de queijo, água gelada, pensei em meus amigos ali sozinho, na filha e na neta de Ana que dormiam o sono mais profundo, diante do branco papel possuía todo o texto na cabeça, tudo bem concatenado, a emoção da noite ardia na pele, rolou uma lágrima, tratei de limpa-la, essa gente confunde sentimento profundo com emoções sazonais, tem uns lances que a gente descreve que soa brega, vida Odair José! Diante da xícara vazia, a moça me perguntou se queria outra coisa ou algo assim, pedi uma cerveja, não era tão tarde, uma onze da manhã acontece, que tem aquele princípio ébrio de só beber a primeira a partir do meio dia, péssimo exemplo para a criança na mesa ao lado, mamadeira na boca, deixei os versos em suspenso para depois do jogo da Argentina, enrolei as folhas, paguei a conta, peguei a cerveja, voltei para casa pelo mesmo caminho, trocava uns tragos por uma assoviada canção do Elomar.

segunda-feira, 30 de junho de 2014

Deus



Nada pode ser mais chato do que quando você escuta a frase, se lembra o que disse ontem? Cara, isso é ridículo, em geral a pessoa fica observando o seu caminhar, os seus atos, para depois vir punir você com a tal frase, em geral dita antes daquele bom café com quase nada de adoçante e bem forte numa manhã que até sol se insinua tímido. Acho que as coisas devem ser faladas na hora, sem frescura, sem medo de nada, provavelmente falando na hora, irão sacar o sarcasmo que rondava tal frase, tem chatice demais nestes dias todos cê não acha? Deixei de ser franco para ser hipócrita, é melhor assim, poucas pessoas estão dispostas a escutar a verdade saca? Não que tenha me tornado cínico, acho que é melhor viver no superficial, na ironia, beijo gente que sei que me odeia, mas não diz justamente por não saber dizer o que sente, se disser talvez com jeitinho possa provar do contrário levando a figura quem sabe até a pagar alguns tragos. O problema está justamente no fato de que as pessoas bebem mal, a péssima qualidade dos líquidos levam para um humor horroroso, quando não bebem ficam ainda pior, se julgam agentes da moral e dessa balela toda de bons costumes, de exacerbações sem sentido, se você bebe e fuma então vira o próprio Judas e quer saber? acho que o cara não devia ter entregado o tal Cristo que já se julgava na cruz bem antes da coisa toda. Esse lance de vida cotidiana, tudo papaia mamãe, porra muda a posição, tenta outra parada, as coisas foram boladas para encaixe. Uma vez um amigo me disse que lá no escritório o chefe pede para ele pegar a caixa box, ele simplesmente gargalha internamente por ter que buscar a caixa caixa.  É preciso quebrar paradigmas, do que adianta tanta leitura se a gente não bota caraminholas na cabeça dos outros? Como disse aquele filósofo careca, pensar é sofrer, acho justo isso, não pensar é o que? A menina lá da repartição tão linda, um doce de pessoa que quando se levanta para o café faz com que a agente confunda o carimbo verde com o vermelho, soltou a frase através daquele batom brilhante, lábios carnudos, de que ficou claro depois dos pênaltis que deus é brasileiro, silenciamos, alguns por convicção, outros por sei lá o que? eu, pelo já escrito de me manter irônico e ela vale qualquer esforço nesse sentido, deveríamos concordar com tudo que diz qualquer beldade até que ela apareça com um troglodita qualquer enfim, Rufino quebrou o silêncio, com seu temperamento duas doses acima foi dizendo, deixe de ser besta, é sabido que deus não existe e diante do que ocorreu sábado se existe é burro por não entender nada de futebol, a mocinha ficou vermelha, colocou as mãos no rosto mostrando para todos as suas unhas pintadas com as cores da pátria, caiu no choro, Rufino saiu de seu cercadinho, abraçou a pequena como se fosse uma filha e finalizou, para deus não tem remédio, se não ganhar esta Copa, vai ter outra daqui quatro anos na Rússia terra da deusa vodka. 

sexta-feira, 6 de junho de 2014

Divagando

Chovia pela manhã, a pequena antes mesmo de ir para o banheiro se preparar para a escola, já falou da infiltração na casa debaixo, a mãe também falou, a sogra da mãe repetiu a mesma coisa, nenhuma delas, nem eu, moramos lá embaixo, não caia uma bruta chuva, era uma coisa apenas que fazia a gente pensar em ficar sob os cobertores, pensei em abrir uma Serra Malte, acender o cachimbo diante daquele mantra logo cedo mas, tenho certeza que as três repetiriam juntas JÁ!? Passei em silêncio, a pequena foi aprender coisas novas, a mãe para o trabalho e a sogra dela para a ginástica, fiquei sozinho, a chuva se foi, ainda bem, não tenho guarda-chuva, estranho que essa palavra não foi alterada pela tal reforma, acontece que enquanto tomava uma ducha a chuva voltou com mais ímpeto, enquanto a  água escorria era possível imaginar as três repetindo a mesma ladainha, saí para o escritório me esgueirando entre pontas de telhado para não me molhar, jornal debaixo do braço enrolado num plástico, corri feito um paulistano quando avistei a condução, não me molhei, sobrou o jornal para uma leitura durante a viagem, os caras me mandam jornal numa promoção que eu nunca pago, eles me ligam, enviam boleto, depois me esquecem, por outro lado, deixam de mandar o jornal, que não é aquele jornal de quem tem cérebro é o concorrente, acho que por isso eles me mandam, só quem não tem um cérebro para assinar aquele jornal, não me sinto bem em não pagar por ele, tem uns profissionais lá, é como ter gato NET, mas eu não fui atrás deles, também não tenho gato NET, faz tempo que não vejo o Gato Félix, eles é que vieram me procurar, nem sempre concordo com o que eles escrevem por lá, penso que o jornal de quem tem cérebro anda melhor faz algum tempo, leio ele lá no escritório, sou pago para ler notícias envelhecidas, sempre foi assim, agora tá pior, de qualquer forma, é legal ler o jornal, tem uns cronistas bons e coisa e tal. Dentro da lotação as pessoas fecham os vidros com qualquer gota, achei um banco solitário, deixei uma fresta aberta para entrar algo para se respirar, rolaram umas gotas de chuva, nada demais, não sou feito de açúcar, às vezes me acho até amargo, a vida é bem doce e dizem que isso engorda, li um pouco do jornal, apenas a parte de esportes, agora anda tudo verde e amarelo, parece que desembarcaram uns brasileiros por aqui, uma febre dessas que a única vacina tem sido um gol francês ou holandês, o rei abdicou lá na Espanha, a nossa monarquia se traduz num certo Neymar, a gente é bem besta mesmo, acho que não temos lá um puta cérebro saca? Fechei o jornal, deixei para ler no trampo, com esse corredor tem hora que se anda, na hora de descer a chuva voltou, tinha uma loira na porta, as mulheres são bem legais mesmo, carregam sobrinhas nas bolsas, ela puxou a sua, era vermelha com o nome Kalvin Klein, descemos juntos, ela abriu o apetrecho, esperamos ao lado de uma pequena multidão o sinal dos pedestres abrir, fique no ponto na espera, tinha uma poça, o carro passou atirando água em todos, até mesmo na loira que quase caiu ao tentar se esquivar, o homenzinho ficou verde, coloquei o jornal na cabeça, a moça ia na minha frente, outro sinal fechado, paramos, fiquei um pouco atrás me protegendo numa cobertura, tinha uma poça, outro carro molhou a moça, ela balançou a cabeça de forma negativa, acho que ela devia ter sorrido apesar daquele pequeno infortúnio, repetimos uma cantilena de que precisamos de chuva.  

sexta-feira, 28 de março de 2014

la pipa

É bom estar ocupado de nada, observando as transformações ao redor e ouvindo barulhos alheios. Cada casa um mundinho, a rua um mundão e você sentado numa escada com seu mundo parado. Esperava o vento se dissipar, aos poucos ele foi se tocando em ver o fósforo na mão em repouso, indo perturbar alguma dona de casa que odeia quando ele bagunça a sujeira que ela peleja em eliminar, mas que invariavelmente acaba esquecendo a porta aberta para ele poder deixá-la fula da vida. Assim pôde fumar o seu cachimbo. Pitar é hábito novo em meio aos vícios que ele possui, tá certo que não é vício barato, mas um pacotinho de fumo dura por um bom tempo e os apetrechos para a limpeza  duram por toda a vida e dá até para deixá-los como herança. Foi através das sobras que chegou a um novo prazer, após algum tempo da partida do velho, decidiu pegar um sábado para caminhar pelas calçadas, as chaves no bolso, a cabeça fixa em organizar antigos pertences para a doação, na solidão foi abrindo as janelas, quente sol tocando o cheiro de coisas dispersas, quando menino não podia chegar perto de certos objetos, aos poucos na “crescitude” tudo se permite, as barreiras deixam de existir, tabus são quebrados, riam juntos de temas que um dia foram proibidos pela mãe. Numa caixa guardada sobre a estante encontrou as velhas pipas do pai, bem guardadas, nada de mofo, os fumos de aromas suaves, jamais na boca tinha posto aquilo, com a camisa limpou uma delas, apertou o fumo, puxou o isqueiro, acendeu e começou a tossir como um tuberculoso. Alguma coisa estava errada, fazia um incursão na vida do coroa, procurando cessar a tosse se levantou, lembrou do bar no canto da sala, caminhou até lá, o cachimbo na mão, achou uma garrafa de um velho conhaque francês, não pensou duas vezes, no gargalo mandou ver, quente, ameno, acendeu novamente, era necessário certa calma, foi devagar soltando a fumaça, diante daquela nuvem sentia-se criança a guardar o homem limpando cada cachimbo, passando feltro por entre eles, desmontava, montava, acendia, nas mãos uma taça, na radiola canções que assoviava deixando a tarde fazer parte do dia, do sábado, era naquele instante provavelmente que ele conseguia se livrar do peso da semana, era como uma projeção, a vida uma bela película, não sabia se pela fumaça ou pelo cheiro de coisas até então trancadas, percebeu os olhos num quase lacrimejar, colocou o conhaque na boca deixando a nostalgia se harmonizar com o presente.  

quarta-feira, 12 de março de 2014

Deus e o diabo



Era uma manhã dessas em que toca o telefone e no lugar das velhas chateações pinta um convite para um passeio, uma pernada pelas ruas, nada de reclamações de pais que velhos fazem o jogo comum da vida, envelhecer na coisa jocosa de que devemos cuidar deles, um dia ficaremos assim, é difícil fugir disso, tem esses dados jogados pelo destino de nos atirarmos com números sem sentido. Pelo caminho algo que devia no fundo ser feito, comprar um sofá cama, objeto que acolhe visitas, depois recolhe corpos cansados, acho bacana abrir um parenteses, quando era criança o lance era uma cama de armar que ficava pelos cantos, de repente quando os olhos precisavam de uma fechada por horas, era aberta pela casa dando conforto, era bem diferente, pois não recebia dois corpos, não era nem por culpa do Newton, nenhuma possuía tal sentido, talvez por ser grande demais, vai saber? ou apenas para receber a visita por uma noite de uma só pessoa, fecho parenteses, então, elas depois de  um bom lanche pelas ruas do velho centro, entraram no magazine da senhora Luíza, ficaram por ali, observando coisas que não precisavam, grandes tvs por exemplo, cada modelo, tão caro quanto a velha lambreta que tinham na garagem, os valores saltam  muito em nossos olhos, não eram mais crianças, não são, enfim, mas é tão bom fitar coisas que as crianças de hoje possuem e não dão a devida importância, tinha naquela sacada toda dos olhos um certo refletir do que foram, de que eram nascidas dos mesmos pais e se distinguiam do dia como este se distingue da noite. Quase saindo do lugar após a espera, algo estranho  numa loja nesta cidade louca que é São Paulo, pinta o sujeito com aquela pergunta comum de que em poderia ajudar, cara em tudo elas pensaram em responder, só que era penas um sofá cama, vai o sujeito numa boa mostrando modelos e, como nesses filmes de sessão da tarde elas se esparramaram pelas espumas de cada tipo que o vendedor mostrava, era sim um desses dias em que os astros estão  numa perfeita conjunção, as risadas eram soltas pela loja, o figura solícito como se deve ser, disse que um dia dormiu num passador lá em Monte Santo, elas se entre olharam, conheciam esta cidade mineira, o cara disse que na verdade ele se referia a cidade com o mesmo nome mas da Bahia. Pinta uma pausa feito este ponto. Tem destas coisas este país, era a cidade onde Glauber rodou o seu primeiro filme Deus e o Diabo na terra do sol. Despenca o fulano falando de seus dias naquela cidade, da fama que ela devia ter, e que por essas coisas de país sem memória nem o próprio Glauber Rocha acabou tendo, assim do nada como o fato de estarem ali numa boa, guardaram o cidadão moreno quanto um bom café com leite escuro, passeando por entre mobílias escutando parte de suas histórias, a  namorada que ainda morava por lá, de sua luta para tentar traze-la para esta terra cinza porém próspera, que coisa mais bacana passava pela cabeça delas, era necessário andar por outras lojas, pesquisar afinal, é isto que fazem as mulheres, os homens não, estes compram o primeiro trambolho que encontram para se verem livres do transtorno, sem dúvida era um problema aquilo, independente de quem pagaria pela coisa, isto já nem levavam em consideração, decidiram comprar um modelo sugerido por ele,que grande barato tinham feito, a comissão não parecia ser grande coisa, era uma grande ação por aquele mapa de encontro de signos tão opostos, tinha sol no céu, ainda sobraria tempo para que o giro da terra permitisse um retorno para casa sem rusgas, acontece que nessa mudança entre dia no Brasil e noite no Japão de o mundo ser tão pequeno, quando passaram o endereço no Jardim Maria Luíza, disse o vendedor que já morou por aquelas bandas numa rua tal, foi a maior gargalhada, dessas que ecoam para bem além da vida.

* O figura que ilustra o texto chama-se Jack London é dele a frase da distinção entre dia e noite para os irmãos.

sábado, 15 de fevereiro de 2014

São silvestre


Hoje as horas passaram mais rápido alguém comentou, puxa elas são as mesmas todos os dias fiquei pensando, tá certo que às vezes demoram um certo tempo e fica essa impressão de que são diferentes. Ontem meu time jogava com um jogador a menos e, ficava naquela certeza de que o jogo iria até o romper da manhã, quinze, 16, 16 e 30, cara que jogo é esse tá até parecendo fila na SPTRANS? não desenrola de jeito nenhum, era sol e já é dia e não termina o treco? Hora nem sempre tem a ver com tempo, esse é outro, possui história, claro que as horas fizeram e fazem parte disso, quando falamos de alguém nos referimos ao tempo, não as horas, ele envelhece a gente esse tempo, aí você está puxando figura e falando de como foi e como ficou o caminho pisado como se fosse uma outra era. Certa vez, publiquei uma crônica no jornal O Butantã que falava do tempo dos cabelos, o sentimento dos pelos quando cortados, recolhidos do chão, depois ganhando o lixo, como a cabeça  como grama aparada ficava e os fios se perdendo como se nada significassem, uma viagem concordo, mas tinha certa ligação com alguma coisa daquela época. Voltando ao tempo, eis que acordo e encontro duas crianças na sala, puxa mas só tenho uma brinquei com elas, toca abrir a porta para encarar o dia, passear pelo quintal, recompor decompor recomeçar, tenho certas nostalgias, minha memória já te disse várias vezes é um saco de coisas boas ou não que vivo me lembrando do nada, chego até o portão e óbvio não tem cachorro sorrindo latindo, primeiro pelo fato de me achar por dentro, segundo que nenhum cão sorri nos dias de hoje, tomam banho em banheiras com espuma, bebem coisas finas e fumam charutos cubanos, mesmo cão sem dono  bebe uma boa cachaça mineira e fuma cigarrilhas de primeira. Tinha que preparar o café das crianças, do outro lado da rua alguns sujeitos capinavam um terreno, puxavam toda a sujeira numa vitalidade, numa comunhão de que aquilo bem que podia ser um espaço de lazer saca? Desliza a lembrança em meus anos de infância, começo de adolescência quando a gente  saia pelas ruas fazendo amizade embora, os caras da rua de baixo não pudessem jogar com aqueles da rua de cima, tudo rolava sem grandes atritos, qualquer terreno baldio virava campo, quadra, fazíamos o nosso espaço, era muito diferente, os pais se envolviam, ali diante do portão vem o cheiro do mato retirado, abro o portão, desço as escadas, as casas ao redor estão cerradas, sem vida, sem som, sem luz, em bicas o suor dos homens naquele lavoro de um sábado  que principia no amarelo sol, uma água ragazzi? grazie tutto bene, depois bebemos, valeu e assim vão seguindo como se procurassem algum tesouro, não tarda e a área está limpa, as pequenas também já estão alimentadas se divertindo numa piscina de plástico. Aquela diversão singela, quando principia o fim do ano, pinta outro amigo para brincar com elas, fazem uma grande farra, isso vai compor o tempo delas, de repente me lembro da corrida de São Silvestre, cara o lance já rolou, foi umas oito da manhã, mexeram até mesmo nisso? por aquela altura o vencedor já tinha almoçado, estava se preparando para a queima dos rojões em qualquer parte da terra, fim de um ano, dia repleto de luz, bar fechado, geladeira completa do precioso líquido, abro uma lata, vejo as crianças, me distancio pela calçada, o terreno limpo, não vai ter mais 2013, nem 1983 com São Silvestre terminando quase na chegada de um novo ano, com a vitória de João da Mata anunciada pelo cicerone da festa de réveillon. Se o tempo não volta para  felicidade ou não, é  preciso fazermos dele uma nova possibilidade sempre, como fez o Seu Ito que pegava os amigos de seus filhos e os conduzia por uma via de sonhos, tem na figura dele grande parte de minhas linhas imaginárias, são trinta anos, tempo à beça né não? outro ano começa e seguimos para as ruas buscando democracia e nos desencontramos no turbilhão que a vida se transforma, temos sonhos, somos diferentes como sempre fomos mas, tem sempre a hora do encontro, das brincadeiras, das tacadas tortas sobre um pano verde.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Paris é uma festa



“Jogina,
que o sentimento que nos envolve seja duradouro, saiba que pode contar sempre comigo.
 De seu querido
 Ton
 13/06/2006”

É a dedicatória que está no livro, foi difícil de encontrá-lo até aquela tarde de chinelada e desbunde pela Rua Roma,estava ao lado de outro com o mesmo título, o que os distinguia era o estado de cada, o que peguei primeiro era de capa dura, parecia simplesmente não ter sido lido, o outro que fora dado de presente para Jogina, estava gasto, roto, para ser apreciado em casa, não foi pelos oito mangos que o levei, achei naquele instante que aquele livro precisava o seu caminho de pertencer ao mundo, transitar entre casas e pessoas. Fiquei pensando no que era Ton, o que significou Jogina para ele ou o que significa, uma paixão? apenas amizade? de qualquer forma algum laço foi quebrado para que aquele Hemingway fosse para em outras mãos. Sentado num é de porco na Faustolo, com a cerveja num copo curto tinha os olhos para a rua, mastigava pensamentos na aridez desses dias, tem um sol individual, tem gente querendo se livrar do seu, mas é impossível. Jogina, esse amor que podia ter sido, tantos amores que acabam em vão por razões tolas, o próprio amor é um sentimento tolo, me lembrei de Carlitos em sua busca pelo ouro, os olhos daquela mulher por quem o vagabundo fora atraído, ela se não me engano se chamava Georgia, teve final feliz esse filme, a magia do cinema, tem hora que fico pensando no depois daqueles personagens, você já viajou nisso? Saca aquela história? O que aconteceu depois? Uma espécie de A rosa púrpura do Cairo manja? vou deslizar a pena qualquer dia numa manhã de silêncio, nem tão silenciosa assim, para escrever uma crônica que narre o encontro entre Ton e Jogina muitos anos de pois, a indiferença dela num olá frio, a vibração contida dele por vê-la com um outro qualquer, sozinho Ton vai perceber ao observar o verme que a acompanha que foi melhor não ter ido adiante, ela jamais iria curtir um Bergman, que papo podia rolar depois do sexo? É bem capaz que ela tenha se tornado mais uma leitora dos cinquenta tons, é provável que ela sonhe com uns tapas quando fica de quatro e o banana seja do tipo comportadinho, aquele sujeito que aparece no churrasco vestindo camisa modelo pólo, bermuda com cinto, sapato mocassim , não sabe o que é passar a linguiça na farofa, sabe você que está nesse papo comigo que esta crônica vai rolar, puxa, quase me esqueço, quem acabou lendo o livro que comprei foi Maria Célia, deixou um pequeno cartão com algumas anotações dentre dele, fico aqui pensando, quem seria ou quem será Maria Célia?