domingo, 31 de maio de 2020

Que musica tu és?



Certa vez entre tragos e charutos, ficamos anestesiados com Tom Jobim interpretando Saci, éramos dois figuras soltos pelo quintal num fim de tarde, meu prezado Ronaldo Madureira soltou a frase fatal:
- As pessoas não precisam de amor, elas precisam de música. Cancerianos que somos passamos a viajar nisso em pleno domingo segunda feira (vivemos eternos domingos), imagine se cada pessoa é uma música? Na preguiça domingueira ouvimos várias canções, secamos diversas garrafas mas, não chegamos numa que seria a de cada um, o resultado prático foi uma feliz embriaguez.
Nesses dias noiados em que nos encontramos, as canções acalentam a ausência de abraços então, cada faixa que vai tocando na lista é uma pessoa que anseio rever um dia.   

domingo, 24 de maio de 2020

take godard



Olhares trocados entrelinhas, castanho verde, sardinhas no rosto, se foi tragando dia soltando noite, desceu cachaça suave, depois queimou a alma, nos guardamos por segundos, teve magia, a tal pegada podia ter existido, a tomada branca e preta, um beijo de quem nunca se viu além do vazio da hora, cada um para o seu lado, cena vida, película sem conclusão, no fundo sem fim início meio, jamais no mesmo plano iremos nos encontrar, 

domingo, 17 de maio de 2020

panguão,panguetes, panguaria



a vida ficou um tanto fora de fuso ultimamente, os horários ficaram meio perdidos, não sei se você tem essa mesma impressão, hoje, acordamos tarde, o café da manhã em retardo total, o almoço deve sair pelo horário quando a casa recebia gente para comidinhas e tragos, será uma forma de me lembrar de todos, domingo azul, digno de praia e Maracanã, saí pelo quintal com uma bela xícara de café no justo momento que o cara veio me trazer as cervejas, tinha me esquecido o horário do leiteiro, entrei no espaço que me cabe no latifúndio, coloquei as garrafas na pia para que recebessem uma bela ducha, separei uma para abrir os trabalhos hercúleos de mais um dia de dolce far niente, copo na mão, um som na vitrola aplicativa, um velho Alceu, puxa quanto tempo não escutava, ouvi o limite suportável dele que não passam de cinco canções, entrou algo na fila nada a ver com que estava na agulha, sem crise, liguei a tv no modo mudo, geralmente vejo futebol assim, as narrações são um pé no saco, o cara que era bom numa emissora quando vai para a turma da Globo segue o manual de ser imbecil, fala a óbvio, foda quando a imagem fica lá no meio da torcida com o jogo rolando, então, fui zapeando por alguns canais, são tantos e o que mais vejo nesses dias são coisas na Netflix, passo os olhos pelo noticiário uma vez por dia ou a cada dois, assim, no giro sem interesse me deparei com a imagem de alguns reunidos, que tocante a cena, brasileiros ostentando o lindo pendão da esperança, num zaz percebi confuso que ando realmente alienado, feito soldado no front sem saber que já rolou o armistício, só que não, são apoiadores do presidente vestidos de amarelo com bandeiras na mão, a pauta da reunião não trata de assuntos irrelevantes como a peste atual que nos isola porém, um contato com a peste que nos governa e a discussão profunda repleta de provas científicas de que Pitágoras era um tolo e a terra com toda certeza é plana,

domingo, 10 de maio de 2020

Pureza



A gente não sabe bem de onde vem, alguns espertos possuem explicações várias enfim, do nada assim caminhando debaixo do sol, me escapa uma lágrima não sei de que? quando vejo a criança feliz tomando um banho de mangueira.  

domingo, 3 de maio de 2020

Pelada


Teve um tempo em que batíamos uma bola para nos divertir, chegamos numa idade em que jogamos para divertir os outros, o problema está justamente em não se tocar nessa realidade nem tão cruel assim, mas, digamos óbvia. Outro dia encontrei o Madureira, ex carioca, hoje tem uma alma, espirito e o escambau de paulistano, que me convidou para pintar na quadra para um joguinho, algo sem compromisso, havia uma turma da antiga por lá, ok, topei. Numa terça, de saco cheio da ausência de versos, peguei os meus apetrechos, uma onça e me desloquei até o local. Sim, estavam alguns figuras do passado por lá, mal a bola rolou percebi que ainda desconheciam a gorduchinha, o pior nisso tudo, é que, quando guris botávamos os pernas de pau para fora do jogo, agora, fica difícil, eles ajudam no rateio para pagar a mensalidade do gramado sintético de péssima qualidade.