quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

um telex de meu querido Maria

Caro poeta, submerso por uma onda de cor e corpos, vou seguindo pelas ruas do Rio, praticamente por onde  deixou as suas pegadas, ali do Forte de Copacabana até a esquina daquele bar da feijoada, foi o que se pode dizer, ou quase, uma tragédia carioca. Que ausência que o Rio ficou esses dois dias. O Rio fala com a gente poeta, foram conversas soltas pela noite, mas, outro dia te conto. Eu percebi aquilo que meu irmão falou sobre o fim do mundo, quando as águas tornarem a consumir e, depois voltarem à sua condição normal de água, só vai sobrar esse lugar mesmo. Meu poeta, tive um sonho ontem, sonhei que o Rio tinha deixado de existir, até aí tudo bem, duro foi ter que te dar a dolorosa notícia, pensei em você e em Ariadne, nas tardes de Maracanã sem Zico, no Flamengo, na nossa escola de samba ( que por sinal foi bem ontem) acordei, na verdade, a luz dourada do dia me despertou. Queria estar por aí para ouvirmos o hino da Guanabara e para bebermos até a nossa angustia se desfazer. O homem preto ao meu lado no desfile, era aquele que me disse, preto, banguela, frequentador da geral do antigo Maracanã, capenga por completo, derrotado, nosso quase contraparente, é com certeza um daqueles sacanas que só nós conhecemos. Ele só não é mais sacana do que você, não que ele não seja carioca, falei de ti para ele, ficou abismado, soltou aquele sorriso de neném, gengivas rosas de pura beleza, foi apenas para ver uma escola, antes de me deixar ali, pediu para que te mandasse um recado, vai ser carioca assim la longe!