quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

A vila


A vila

é certo que treme a mão
sabe que tem isso
que a gente
pensa que nunca vai sentir
tudo cambia
o grisalho na cabeça
de meu amigo de infância
que vejo tão pouco
mas quando encontro
rola um abraço desses
que nem irmão de sangue
saca como é
você mira a mão esquerda
que parece se distanciar
se mexe
como se ouvisse Elvis Presley
cara, quando foi que você
caminhou descalço?
tem tempo
era época
que não tinha nada disso
carros em volumes plenos
estes quando passavam
só anunciavam
a super cândida e a pamonha
do you remember?
no?
nem love songs?
a morte não passava
do medo pela sessão de terror
que pintava em branco e preto
por volta da meia noite
futebol era pelo rádio
e Ananias pensava que era o Zenon
o chapéu na cabeça do velho Cícero
fazia com que parássemos a bola
para que passasse ao lado de seu cão Nero
e tínhamos pavor do Pezão
é certo que quase ninguém se lembra disso
pensar dói
por mais “bandeidi” que se use
ele sempre cai
às vezes sangra
mas tem hora
que a coisa já cicatrizou
a lágrima do dia que passou
nada que vaza pelos olhos
é água por dentro
que se mistura entre as veias
destilando o olhar
fitando as mãos
na expectativa pelas tetas
que nunca irão tocar