quinta-feira, 26 de julho de 2012

Sem pronome ou ponto, sem compromisso

Manhã azul quinta feira, tem feira na esquina, gente gritando apelando para que se compre a laranja, a moça passa, nem olha, quer pastel, quer garapa, quer curar a ressaca, casa, descasa, se muda, vai para outra parte, atualiza no facebook, condição de separada, sem relacionamento sério, nem emocional, nem financeiro, garapa, curar a ressaca, vai por estas bandas, esbordeio, porra na solidão outra vez, não acredita no mantra, antes só que mal acompanhada, não sente saudade da figura, pensa no sexo, pensa nas contas, essa coisa de devolver a chave, sol quinta feira, a Paulista inunda venenos suaves, garapa, METRÔ, um trem depois das sete, a terra não para, tiraram o acento das coisas, reformaram a língua, vagão bacana, poucos lugares para se sentar, pés que se tocam, pés frios, gente da metrópole, pessoas apressadas, a confusão das manhãs em que parece que ninguém olha para o céu, ninguém olha para os olhos verdes belos, o verde da vida, a verdura para deixar o corpo saudável, o verde da cana, a cachaça para deixar a mente relaxada, o verde da floresta, chega de verde, hoje ela saiu de vermelho, veste essa cor quando se apaixona, usa essa cor quando quer botar para fora os seus deuses interiores, chega de demônios afinal, em todo canto tem algum espreitando, pintando de lado na coisa do bobeou dançou, faz tempo que não danço com o meu amor, a moça esbarra num cara qualquer, os dois querem pimenta pela manhã, doce chega a vida, precisam de algo que combine com o sol da tarde que arde,deixa a gente cheio de sede, vai você, não você, os dois sorriem, se olham, pastel de palmito, outro de carne, a pele, esse dia do compasso esperando a sexta.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Pé na estrada

Quando Barbet Schroeder lançou Barfly (1987), os fãs do grande Charles Bukowski já tinham como parâmetro cinematográfico Crônica do amor louco (1981) dirigido pelo grande Abel Ferrara com um elenco estelar composto por Ornella Muti e Ben Gazzara, não que Barfly não possua atores desse quilate afinal, Faye Dunaway e Mickey Rourke também são grandes estrelas. Acho o Chinaski de Barbet melhor que o de Abel Ferrara embora, o conto que norteia Crônica do amor louco seja o mais espetacular do bom e velho Bukowski, a melhor tomada de uma bunda de todo o cinema está no filme de Ferrara, sim, a bunda de Ornella numa viagem em que câmera flagra o seu rosto contemplando o nada pela janela, entra pelo quarto encontrando o olhar de Henry deitado na cama e como os olhos dele a câmera se dirige até o bumbum da bella italiana, genial. Existem autores difíceis, quase impossíveis de se transportar os seus textos para a fria película do cinema, nem tão fria assim, quando temos a possibilidade de ver pelas lentes textos de Jhon Fante (Pergunte ao pó) ou de Bukowski entramos num tremendo frenesi por se tratar de uma literatura chula, rasteira para alguns mas, para nós fãs dessa coisa BEAT algo lírico, mágico etc,etc, etc, etc. On the Road de Jack Kerouac se enquadra no que acabei de dizer ali atrás, é o tipo de livro bíblia, coisa para se deixar de herança, uma relíquia pobre brochura quando se olha estático empoeirado na estante, primoroso, intenso quando tocamos a primeira frase, uma historia maravilhosa e aí jamais iríamos ver esse grande livro numa tela de cinema, de repente um diretor brasileiro se lança nesse desafio, o risco de ser enquadrado como besta ou bestial,quem se atreve a transpor para as telas a literatura Beat tem esse valor, não há meio termo ou se gosta ou não e é assim e sempre será. Ontem fomos Bruno e este figura que você lê, assistir a pré estréia de Pé na estrada, puxa que grande noite estar ao lado de meu sobrinho compartilhando aquilo, ele está no final do livro, eu já li e reli ainda outro dia para refrescar o que as imagens poderiam me fazer quem sabe chorar e prezado leitor não chorei, acho que a estrada ficou, os tipos fantásticos não brotaram, Dean Moriarty não está visceral, Terry não é uma bela latina na pele de Alice Braga, as coisas pipocam sem lógica, sem plano, falta em alguns casos um minuto ou dois que justifiquem uma sequencia ou outra, essa coisa de que não tem meio termo para apreciar de forma fria uma empeitada desse porte. E aí devo encarar ou não você deve estar se perguntando, sim, vai fundo nessa, assista ao filme, vale os tostões que você vai gastar, o nosso dinheirinho como vimos na faixa, gastamos entre pequenos charutos e cachaça falando do filme e do livro com alguns doidos numa calçada da Consolaçãol, alguns beats que defendiam a coisa, outros que não, uma Gabriela que só sorria com as besteiras que falávamos, uma quinta feira que passou sem deixar ressaca para a sexta, uma noite sem dormir como a de vinte anos atrás numa noite fria de 1992 qunado Bruno nasceu.