sexta-feira, 30 de outubro de 2015

máquina


Nessa vida de máquinas, concedemos o espaço para quem primeiro necessita chegar. Nessa vida de máquinas, sentimos a ausência do básico, para que a engrenagem possa funcionar. Nessa vida de máquinas, levamos uma mochila que contém as coisas vitais para o dia, que carregamos nas costas, se transformando em estorvo para quem precisa caminhar. Nessa vida de máquinas, passamos com todo cuidado, para não tropeçarmos em seres camuflados em notícias envelhecidas que se repetem a cada manhã. Nessa vida de máquinas, ainda procuramos um alimento novo que não engorde, que deixe a pele alva e o sexo novo. Nessa vida de máquinas, olhar nos olhos é ferir a carne como se fosse o sol na íris do vampiro. Nessa vida de máquinas, o sangue não pode ser vermelho, essa cor é de quem deve ser morto. Nessa vida de máquinas, um verso no elevador cora a bochecha e faz surgir um sorriso no rosto da menina. Nessa vida de máquinas, tem uma roseira que Aliete plantou e que não deixa de brotar esperança. Nessa vida de máquinas, de mãos dadas ao pai, a pequena percebe a junção das letras, o sentido de algumas palavras. Nessa vida de máquinas, é um saco repetir quase sempre as mesmas coisas, vocabulário restrito de quem não procura o impossível de voar. Nessa vida de máquinas, a página pulsa pela derradeira palavra para que possa enfim descansar. 

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