quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Serafim



Era quase uma canção de ninar, a voz da moça entoando a história de Serafim, a cada palavra rolava uma saudade, estávamos novamente numa época de esperança, a suavidade da moça, o violão, dentro de uma noite onde nos reencontrávamos. As casas devem ser abertas sempre, para que tenham história, nada mais chato do que retocar a tinta de uma parede, sem a marca de algo que nos transporte pelo tempo, tá certo que casas são templos mas, é necessário que sejam abertas para que não se transformem em seitas fechadas em muros. Saíamos do silêncio para cantar o refrão, breves minutos em que um querubim passa pela vida, olhos se fechavam enquanto a musica caminhava, esse ato que precede o beijo, essa forma que conduz para dentro da gente o momento do sono, onde encontramos força para a lida, para terminar o texto no desassossego. Assim como chega, vai embora o amor, alguns ficam juntinhos por quase uma eternidade, que deixam de confundir pernas, para pegar bengalas erradas, riem da confusão mesmo assim, ainda reclamam pela desorganização de um e de outro. Ao final de Serafim, as filhas fitaram as faces, uma década separando cada uma, sorriram talvez sem entender, com o passar dos dias pode ser que toquem no assunto, piano, piano, como de diz em italiano, as cordas ecoaram o último verso, depois das respirações profundas,  o espaço foi ocupado por uma crua felicidade, foi a forma com que aplaudimos a nossa capacidade de ir além.

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