domingo, 26 de abril de 2020

O gato



O nada fazer não cansa, lavorare sim stanca, todo dia é domingo e a vida domingueira é pura meditação. Na preguiça dia desses observei o gato que chegou baldio, foi se instalando, hoje tem mais luxo que eu, a dona da pensão não me paga nem charuto de macumba, o felino dorme por horas, quando desperta, se alonga, bebe água em temperatura ambiente, degusta a sua ração sabor salmão, depois deposita seus dejetos numa areia aromatizada e retorna para o seu acolchoado. Não lava louça, não educa criança, nem se preocupa com contas vincendas, quando chega a época de satisfazer as suas questões fisiológicas sai por aí incomodando vizinhos noite adentro, nesse ponto se parece comigo, não pelo sexo que anda bem mirradinho mas, pelo som além dos muros, em casa tem sempre música de boa qualidade e conversas fora do padrão dessa cidade cinza. Já reparou na solidão de um paulistano? Seus hábitos de praia pastel de feira domingo, shoppings, filas no último dia de exposição, onde alguns nem sabem pronunciar o nome do artista porém, debaixo de um sol esturricante tem sempre um que se destaca, dizendo que se trata do cara daquele quadro famoso.
Tem mais gato que rato nessa cidade aliás, se pintar uma ratazana diante de algum deles, periga o bicho de sete vidas mijar fora da areia. Coisa que faz Dilermando perder o sono, é quando tem jogo do mengo, grito, bebo, reclamo do Rodinei, canto a jogada, me desformo. Dia desses se postrou ao meu lado diante da TV, no que chegou gol do Botafogo, olhou para a minha cara, já armei para dar uma bica no maledeto, ocorre que o VAR anulou o tento por impedimento, passei a mão em sua cabeça, eita bichaninho de sorte.

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