segunda-feira, 13 de junho de 2011

O cachorrinho riu para a moça mais linda da cidade - 4

Na manhã seguinte despertei pensando em suicídio, porém não havia nenhuma pistola em minha gaveta, com um barbante não daria para fazê-lo, observando todo o caos ao redor decidi botar ordem na casa e fui lavar as roupas que se avolumavam pelo pequeno espaço. Não levei muito tempo diante da pequena máquina que Dona Maria colocava à nossa disposição, felizmente me lembrei de tirar do bolso da calça o endereço para a festa que tinham me convidado para o final de semana, onde poderia me divertir, comer e, sobretudo, beber de graça.  Depois de colocar os trapos para secar, fui até a lanchonete do Bigode para comer alguma coisa, ao atravessar a rua encontrei com o velho Gutiérrez que me abraçou de forma efusiva como se me conhecesse de longa data, coisa de poeta, resmunguei entre pensamentos. Perguntou-me para onde eu iria e respondi que iria até o Bigode, como ele não gostava do velho espanhol me chamou para comer algumas coxinhas no Bochecha por sua conta, sem ter nada para fazer de importante topei e fomos até o baixinho na Major Sertório. Passamos a tarde nos entretendo entre goles e papos nada sérios até ele falar sobre a pequena Vânia; senti que ele babava ao falar da vontade em ter aquele par de coxas quentes da guria, fui tentando sair daquele papo furado, que droga será que não tinha nenhuma outra mulher no mundo daqueles caras? O velho Guti era bem pior do que eu esteticamente falando, pobres diabos era isso que representávamos. Observamos que a noite caía quando a cada instante minas e monas iam ocupando a calçada do bar, bebemos a saideira, que foi a única coisa que ele me permitiu pagar e, reforçando o convite para a festa que rolaria em alguns dias, zarpou fora.
Voltei para casa após algumas horas passadas com aquele poeta imprestável e, se pela manhã meu desejo era de suicídio, à noite subitamente resolvi botar ordem no cubículo, guardando cada coisa que estava fora do lugar, liguei o velho rádio e, entre canções, deixei o tempo correr solto, foi aí que me veio a ideia de escrever o meu livro, todo o enredo passou claro pela cabeça e seria sobre a mulher fatal, uma espécie de pessoa que desfigura todos ao seu redor, ficando sempre por cima da carne seca, afinal, que raio de triunfo é esse de ser o maioral por estar por cima da carne seca? Bem, não importa, e assim puxei a minha pena e comecei a delinear cada personagem e coisa e tal. À medida que folhas e folhas começavam a ser empilhadas percebi que a história estava ficando engraçada ao contrário da leitura que havia consumido ao longo da vida; geralmente quando começamos a escrever temos estilo semelhante a determinado autor que mais apreciamos e senti que estava entrando numa outra linha e isso me deixou bastante animado, só que precisava de uma máquina de escrever para que a coisa rendesse, além de não perder o precioso tempo tentando decifrar algo que havia escrito depois de beber algumas cervejas.

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