sexta-feira, 3 de junho de 2011

O cachorrinho riu para a moça mais linda da cidade - 3

Entre comentários de alguns livros, fui me aproximando dela, embora amizade não fosse algo que me movesse na direção daquela pequena, era isso que rolava no começo. A gente se via na biblioteca, fazíamos, às vezes, um lanche juntos, aos poucos comecei a fazer algumas gracinhas para que sorrisse, era aquele grande lance de êta vida besta estar diante dela. Um dia ela me convidou para um sarau em sua casa, entrar em seu mundo também representou a descoberta da vida em família, a relação com um grupo seleto de amigos, um mundo pequeno burguês, é verdade, mas dane-se, era um convite irrecusável e dessa forma fui até lá. Estava inseguro à beça e, para piorar, fui o primeiro convidado a chegar, tendo que aguentar o blá blá blá dos pais dela, que eram bem agradáveis, nada agradável era estar ali diante deles falando sobre a minha vida, o que fazia e como justificar aquele estado de desempregado daquele momento? Eles eram corteses demais, sabiam que receber os amigos da única filha em casa propiciava que ela passasse mais tempo ao lado deles, sabiam que já estava para se formar e, em pouco tempo, seria flecha solta rumo ao desconhecido. Aos poucos, seus convidados foram chegando, também algumas garrafas e livros, até que alguém sacou uma viola e a coisa começou. Toda a ordem deixou de existir sem que houvesse se instalado o caos, declamações de diversos poemas de poetas consagrados ou anônimos, no intervalo muita música rock e MPB. Fiquei quieto num canto, observando tudo aquilo que para mim soava extraordinário, jamais havia passado por uma experiência daquelas, havia um cara ali que representava a própria loucura e se distinguia de todos os outros por ser o único, entre os amigos da Vânia, que não estudava em faculdade nenhuma e vivia de bar em bar, inclusive foi num boteco que a conheceu, não dava trégua e sempre que alguém marcava bobeira ele declamava um poeminha de sua autoria. Temos certa tendência a nos aliarmos a seres que são parecidos conosco e aquele sujeito barbudo, um tanto maltrapilho, era bem a minha condição no evento, ele era figura de destaque, enquanto eu uma mera decoração que não parava de beber um só instante. Aos poucos, Vânia, percebendo o abismo entre o novo e os velhos amigos, me apresentou para algumas pessoas entre elas o poeta barbudo, que se chamava Gutiérrez, com quem estiquei uma longa conversa sobre uma infinidade de temas, outras pessoas foram se juntando ao nosso lado e, assim, fui me entrosando com todos os outros. A noite foi dando seu contorno rumo ao dia, estava longe do centro, mas isso não era problema, podia ir na caminhada até o meu canto, preocupante era o meu estado que rompia os limites da embriaguez, havia falado de coisas das quais até então nem sabia que existiam, fui convidado para outra festa, minha cabeça girava numa grande confusão e Vânia por onde andava? Aí me dei conta de que nada tinha feito para estar ao lado dela durante toda a noite, por outro lado, toda aquela bebida fez com que eu me interrogasse, afinal, o que uma menina como aquela iria querer comigo? Saí sem dar tchau para ninguém, me apoiando em muros e postes, desci a Peixoto Gomide, entrei na Augusta até ganhar meu cafofo na Rêgo Freitas.

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