segunda-feira, 4 de julho de 2011

O cachorrinho riu para a moça mais linda da cidade - 7



Não demorou e ele partiu para o velho mundo, deixando Zelão e eu buscando entrosamento diante de um estádio repleto de seres famintos. Após um começo titubeante, aos poucos nos entrosamos, ele preparava o rango e eu cuidava das coisas no salão, passamos a fechar mais tarde entre as contas do que havíamos ganhado no dia, os produtos para a compra no dia seguinte, o contato com o fornecedor de bebidas e toda a papelada que volta e meia tínhamos que mandar para o contador; os outros funcionários, não sei se por inveja ou frescura mesmo, nem perceberam a ausência do Bigode, não possuíam comprometimento algum, se importavam apenas em receber em dia. Em pouco tempo, passamos a fechar a lanchonete às onze da noite, horário em que eu colocava as cadeiras sobre as mesas para lavar o piso, havia uma camaradagem entre os fregueses, tanto que a pedido de alguns passamos a deixar a lanchonete aberta até a uma da manhã às sextas, o dinheiro começou a entrar para a felicidade do Zelão, que reformava a sua casa fazia um tempão.
Se, por um lado, era desgastante trabalhar ali, também era gratificante pelo contato com as pessoas; em pouco tempo fui fazendo amigos e novamente largado pelo destino em outra direção. Vânia foi ficando esquecida num canto da memória, se enchendo de pó feito os papéis do romance que eu escrevia, ao menos os papéis eu podia tocar, ela, em compensação, vagava pelo esquecimento e nem mesmo nossas conversas sobre literatura serviam para refrescar a saudade. Talvez por isso ou por aquilo, como dizia o velho poeta Das Baixinhas, larguei mão daquele amor voltando aos braços das mulheres mundanas do pedaço, baixava as portas do lugar para percorrer quase todas as noites as casas da Bento Freitas e da Major Sertório, tá certo que era uma coisa vazia, embora repleta de peitos, bundas e coisas peludas ou depiladas, era divertido não pensar em nada, futuro ou passado, mas a idade, que já pesava sobre a minha cabeça acompanhada da vida conjugal feliz do Zelão e dos outros funcionários, me enchia de amargura acada metida com aquelas fulanas, no fin fon fin elas gemiam e eu não pensava em nada, claro que algumas não ajudavam, tamanho o buraco largo que havia se transformado a coisa entre as suas pernas, porém, na maioria das vezes, a minha cabeça estava longe, pagar por sexo realmente é foda mal dada, nada de beijo na boca e, porra, canceriano necessita mesmo é de abraço. Acordei algumas vezes no cafofo ao lado de figuras que, se não fosse o fato de deus ter coisas mais importantes para se preocupar, diria pelo amor de deus, cada paranga!, uma delas um dia me falou sem pudor nenhum “tem quatro anos que você vem me comendo”. 
Decidi dar um tempo, caspita, o Bigode já estava fora fazia um bom tempo, que grande inútil eu era em pagar para aquela vagabunda com a xavasca larga pra chuchu, achei melhor não fazer as contas de quanto havia pagado para ela durante todo esse tempo e a desgraçada nem assim me dava um beijo, um simples beijinho. Troquei o puteiro pelo cinema, alguns filmes bons estavam em cartaz e os filmes que gosto sempre foram ideais para assistir tranquilo, sem companhia, afinal, sempre rola um papo sobre a projeção no café ao lado com alguma pessoa desconhecida; acompanhei vários filmes, principalmente os do bom Truffaut em uma mostra que rolou lá no Oscarito, achei Os incompreendidos o melhor de todos, estranhamente senti um pouco de minha vida refletida naquela película, foi após a sua exibição, numa noite fria de outono,  que enquanto caminhava, escutei alguém gritar meu nome, do outro lado da praça, e assim voltei os meus olhos e, de repente, saquei Vânia acenando frenética, atravessou a rua na boa e me deu um forte abraço digno de gente que se curte, digno de amizade, digno de puta tesão mesmo.

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