segunda-feira, 16 de maio de 2011

Londrina 1 - Companheiro Venegas



Dia 12, quinta feira, desci do busão e entrei numa lanchonete, lá estava Danilo traçando um suco de morango, com pãozinho recheado de queijo branco, cara que horror, que cena mais tosca! Como grande paulistano sedentário, tino rubro negro, puxei um café expresso puro acompanhado por um pão de queijo, faltou um cachimbo, mas não se pode fumar por estas bandas, herança do Serra, bem nada de nomes desagradáveis nesta página, voltando ao café antes do lavoro cotidiano, saímos da lanchonete rumo ao METRÔ falando de poesia, de contos e coisas de Bandeira, Leminski, João Antonio, João Cabral entre tantos outros. Bacana aquele papo pela manhã, acho que estava dando uma limada no encontro que teria em Londrina dois dias depois, atravessamos num vagão de trem moderno, com tarifa indigesta, até a Avenida Paulista onde nos despedimos, lá se foi o cara para outro vagão e eu para o meu quadrado na Haddock Lobo.
Não dá para imaginar um mundo sem poesia, não seria suportável viver numa terra sem esta dama cheia de charme e encanto. Um poema leva tempo para ser feito, é como tentar ganhar a pessoa amada, a poesia é sentimento, a poesia é manha, a poesia é a mãe das artes, embora seja difícil ganhar um prato de comida em troca de uma poesia, poesia não se pendura em paredes, poesia é alma.
Algumas linhas atrás falei de Londrina, estive este final de semana por lá, terra vermelha, bandeira da mesma cor repleta de estrelas. Fazia um bom tempo que precisava caminhar por lá, tenho um problema de não visitar os meus amigos, me habituei com as suas visitas e raramente retribuo, crio festas, algumas com algum sentido, outras nem tanto, e assim os caras estão sempre por perto. Para retribuir a amizade de um grande amigo fui até aquela cidade, waly Salomão tem um poema em que grita de forma extraordinária “quem viaja, só quer voltar”, em Londrina não me senti assim, sempre que viajo me lembro desses versos, quando chego ao aeroporto ou a rodoviária me vem esse sentimento de querer estar em casa e ali isso não aconteceu.
Era necessário estar naquela cidade para conhecer a poesia que se chama Venegas, qualquer apresentação entre as pessoas é insossa, tipo olá como vai? e estas formalidades, depois a coisa decola ou não, com o bom e velho Venegas apenas um aperto de mãos e vou para onde pergunte ao bonde, haja hoje para tanto ontem, ela disse que se foda e se fodeu toda, como emboladores leminskianos em pleno matrimônio, heresia ao cachorro louco declamarmos os seus versos com roupas tão distintas. Ficamos batendo um longo papo sobre poesia, sobre ias e não ias, e quando vens afinal poesia? Descambamos pelas doses, desaguamos em Charles Baudelaire no cruzamento das águas Walter Benjamin, a poesia propicia amizades, e por isso abro com este texto o meu primeiro relato sobre o giro por Londrina.
Camarada é termo bacana, mas sou mais o termo companheiro, este divide o pão e Venegas é o companheiro com quem divido o pão faz tempo, já dividimos até o pão que o diabo amassou, embora só tenhamos nos conhecido sábado 14 por volta do quinto ou sexto trago, não temos o amuleto de Ogum, temos apenas o sentimento e a força de estarmos sempre dentro da noite veloz.
Evoé Venegas    

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